Parte I
(Objectivo da arte. Objectivo da evolução. Necessidade das vidas sucessivas.
Apresentação de o Esteta)
Dissemos que o objectivo essencial da arte é a procura e a realização da
beleza; é, ao mesmo tempo, a procura de Deus, pois que Deus é a fonte primeira
e a realização perfeita da beleza física e moral.
Quanto mais a inteligência se apura, se aperfeiçoa e se eleva, mais se impregna
da ideia do belo.
O objectivo essencial da evolução, portanto, será a procura
e a conquista da beleza, a fim de realizá-la no ser e nas suas obras. Tal é a
norma da alma na sua ascensão infinita.
Nisso já se impõe a necessidade das vidas sucessivas como
meio de adquirir, por esforços contínuos e graduados, um sentido sempre mais
preciso do bem e do belo. Os inícios são modestos aqui na Terra, a alma se
prepara primeiro nas tarefas humildes, obscuras, apagadas, depois, pouco a
pouco, por novas etapas, o espírito adquire a dignidade de artista. Mais
elevado ainda, ele se abrirá às concepções vastas e profundas, que são o
privilégio do génio, e se tornará capaz de realizar a lei suprema da beleza
ideal.
Na Terra, os artistas não se inspiram todos nesse ideal
superior. A maior parte limita-se a imitar o que eles chamam “a natureza”, sem
perceber que ela não é mais que um dos aspectos da obra divina. No espaço, porém,
a arte reveste formas ao mesmo tempo mais subtis e mais grandiosas e se ilumina
com um reflexo divino.
Eis por que, neste estudo, tivemos que consultar
principalmente os nossos espíritos-guias, recolher e resumir os seus
ensinamentos. No âmbito em que vivem, as fontes de inspiração são mais
abundantes, o campo de acção se alarga; o pensamento, a vontade, o poder
supremo se afirmam e irradiam com mais intensidade.
Os nossos protectores invisíveis nos enviaram primeiro o
Espírito Massenet*,
que veio nos ditar cinco lições sobre a música celeste, procedendo como o fazia
na Terra, nos seus cursos do Conservatório. Mas isso não podia ser suficiente
para nós; precisávamos de dados mais gerais, de uma visão global sobre a forma
como a arte é sentida e praticada no Além.
Observa-se muitas vezes, nas obras inspiradas por espíritos,
principalmente nos livros anglo-saxões, a descrição de lugares, de monumentos,
de moradas criadas com a ajuda de fluidos, pela vontade dos habitantes do
espaço. Temos necessidade de esclarecimentos sobre esse assunto tão controverso
e sobre o qual, até hoje, faltaram indicações preciosas.
De acordo com nossos pedidos reiterados, e a fim de nos
ensinarem, os guias nos anunciaram uma entidade que se apresenta sob este
nome: o Esteta, cuja personalidade verdadeira só nos será revelada
ao final deste estudo. Imediatamente tivemos a impressão de que nos
encontrávamos na presença de um espírito de alto valor.
O fenómeno produziu-se sob a forma de incorporação. Desde o
momento em que a entidade toma posse do médium em transe, os traços deste, que
é um rapaz cego, tomam uma expressão de calma, de serenidade quase angélica e,
que contrasta com a maneira de ser dos outros espíritos. A palavra é suave,
penetrante, e, quando a sessão termina, os assistentes se encontram sob uma
impressão de serena paz, de profunda quietude. O médium, ao despertar, ignora
completamente o que foi dito por sua boca durante o transe e declara
encontrar-se como mergulhado num “banho de radiações”. Ele experimenta uma
sensação de bem-estar inexprimível.
O Esteta tomou a arquitectura como tema das duas
primeiras lições estenografadas, que reproduzimos mais adiante. Escolheu como
modelo a catedral, porque ela serve de moldura a todas as outras artes. Mais
tarde ele nos falará de escultura, de pintura, de eloquência e, por fim, o
estudo da música e as lições de Massenet virão
completar esta exposição.
/…
* Massenet (Jules):
compositor francês (Montaud, Saint-Étienne, 1842 – Paris, 1912). A sua arte
encantadora, sensível, possuía o dom da invenção melódica e o senso real do
teatro. Autor de Manon, Herodíade, Taís, Werther, O Jogral de Notre-Dame,
Dom Quichote, etc. (N.T., segundo o Dicionário Koogan Larousse.)
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte I – Objectivo da arte, Objectivo da evolução, Necessidade das vidas sucessivas, Apresentação de o
Esteta. 2º Fragmento da obra.
(imagem de ilustração: Mona Lisa 1503-1507
– Louvre, pintura de Leonardo da Vinci)
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