terça-feira, 24 de dezembro de 2013

pensamento e vontade ~

As forças ideoplásticas

Nada mais importante para a pesquisa científica e a especulação filosófica do que a demonstração, apoiada em factos, da seguinte proposição: – pode um fenómeno psicológico transformar-se em fisiológico; o pensamento pode fotografar-se e concretizar-se em materialização plástica, tanto quanto criar um organismo vivo.

De outro modo falando, nada é tão importante para a Ciência e para Filosofia, como averiguar que a força do pensamento e a vontade são elementos plásticos e organizadores.

Efectivamente, a evidência de tal facto coloca o investigador diante de um ato criador, legítimo quão verdadeiro, que o leva, consequentemente, a identificar a individualidade humana, pensante, com a Potência primordial, que tem no Universo a sua realização.

Grandiosa concepção esta, do Supremo Ser, que me reservo para desenvolver, de forma mais criteriosa, oportunamente.

Antes de tudo, a propósito da questão aqui visada, importa advertir que a ideia de um pensamento e de uma vontade, substanciais e objectiváveis, não é nova.

Os filósofos alquimistas dos séculos XVI e XVII, Vanini, Agrippa, Van-Helmont, já atribuíam ao magnetismo emitido pela vontade o resultado de seus amuletos e encantamentos.

O desejo realiza-se na ideia – disse-o Van-Helmont –, ideia que não é vã, mas uma ideia-força, que realiza o encantamento.

Aí temos, pois, já formulada com três séculos de antecedência, a famosa teoria de Fouillée sobre as ideias-forças, e de maneira até mais completa, de vez que admitindo a objectivação.

Van-Helmont chegou mesmo a formular nitidamente a teoria das “formas-pensamento”, da ideoplastia, da força organizadora; ao demais, atribuindo-lhes existência efémera, porém, activa.

É assim que ele se expressa:

“O que denomino espírito do magnetismo não são espíritos que nos venham do céu e muito menos do inferno, mas provenientes de um princípio inerente à criatura humana, tal como a faísca que da pedra se desprende.

Graças à vontade, o organismo também pode desprender uma pequena parcela de espírito, que reveste forma determinada, transformando-se em “ser ideal”.

A partir desse momento, esse espírito vital se torna em coisa como que intermediária do ser corpóreo e dos seres incorpóreos. Assim é que pode locomover-se à vontade, não mais submisso às limitações de tempo e espaço.

Mas, não se veja em tudo isso a consequência de poderes demoníacos, quando apenas se trata de uma faculdade espiritual do homem, a ele estreitamente ligada.

Até aqui, hesitei no revelar ao mundo esse grande mistério, graças ao qual fica o homem sabendo que tem ao alcance da mão uma energia obediente à vontade, ligada ao seu potencial imaginativo, capaz de actuar exteriormente e influir sobre pessoas distantes, muito distantes mesmo.”

Convém insistir nesta circunstância, a saber: que as afirmativas de Van-Helmont a respeito das propriedades objectiváveis do pensamento e da vontade não eram meramente intuitivas, mas fundadas na observação de fenómenos incontestáveis, aos quais muitas vezes assistiam esses pioneiros do ocultismo, posto que maturados não fossem os tempos para interpretar devidamente o que empiricamente constatavam.

Também não é menos verdade que, entre os alquimistas de há três séculos, encontramos já devidamente formuladas as propriedades dinâmicas do pensamento e da vontade, propriedades que, em nossos dias, apenas começamos a estudar com métodos rigorosamente científicos.

Resta-me, agora, prevenir os meus leitores de que os materiais, por mim recolhidos a propósito, são tão abundantes que um grande volume se me imporia para desenvolver o assunto de modo completo.

Vejo-me, destarte, obrigado a apresentar um resumo substancial de cada uma das categorias em que se subdivide o tema.

/…


Ernesto BozzanoPensamento e Vontade – As forças ideoplásticas, 1 de 2, 1º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: A Female Saint_1941, pintura de Edgar Maxence)

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