sexta-feira, 14 de setembro de 2018

teremos que modificar o nosso conceito da morte?

ALGUNS ASPECTOS BÁSICOS DE FÍSICA QUÂNTICA

Este não é o local nem a ocasião adequados para aprofundar questões de mecânica quântica, mas eu gostaria de discutir alguns aspectos básicos de física quântica, porque julgo necessário que se perceba o que entendo por “continuidade de consciência” (Van Lommel, 2004).

Acerca daquilo que expliquei até agora, julgo haver uma semelhança surpreendente entre o conteúdo de vários aspectos da nossa consciência durante a EQM e alguns conceitos provados de Mecânica Quântica, a qual transformou completamente a visão aparente e material do nosso mundo, o chamado “espaço real”.

Diz-nos que as partículas podem propagar-se ondulatoriamente e podem ser descritas em mecânica quântica como funções de onda.

Pode ser provado que a luz em algumas experiências se comporta como partículas (fotões) e que noutras experiências se comporta como ondas. Ambas as experiências estão certas, o que também significa que não há objectividade; é a consciência do observador e o seu desígnio da experiência que definem o resultado.

De acordo com Bohr ondas e partículas são aspectos complementares da luz (Bohr e Kalckar,1997). A experiência de Aspect e colegas (1982), baseada no teorema de Bell, estabeleceu a “não localidade” (non-locality) na mecânica quântica (interligação “não local”).

A “não localidade” sucede porque todos os acontecimentos estão relacionados e se influenciam mutuamente, o que implica que não haja causas localizadas para um acontecimento.

espaço fásico é um espaço invisível, “não local”, sobre-dimensional, consistindo em campos de onda de probabilidade, em que cada evento passado ou futuro está disponível enquanto possibilidade.

O físico quântico David Bohm designou esta dimensão como “ordem implicada” (ou “implícita”) de ser (Bohm, 1980), e Ervin Laszlo chamou estes campos informativos campos “ponto zero” ou vácuoquântico (Laszlo, 2003, 2004).

Dentro deste, assim chamado, espaço fásico nenhuma matéria está presente, tudo pertence à incerteza, e nem medidas nem observações de físicos são possíveis (Heisenberg, 1971).

O acto da observação muda instantaneamente a probabilidade numa realidade por meio do colapso da “função de onda”. Roger Penrose chama esta resolução de múltiplas possibilidades num só estado definitivo “redução objectiva”(Penrose, 1996). Deste modo nenhuma observação é possível sem mudança fundamental do sujeito observado; apenas resta a subjectividade.

A física quântica não pode explicar a essência da consciência nem o segredo da vida, mas na minha opinião ajuda a entender a transição entre campos da consciência no “espaço fásico” (a comparar com campos de probabilidade que conhecemos da mecânica quântica) e a consciência desperta associada ao 22 corpo no espaço real, porque esses são dois aspectos complementares da consciência (Walach and Hartmann, 2000).

A nossa consciência completa e indivisa com memórias expressivas encontra a sua origem e está arquivada no“espaço fásico” e o cérebro apenas serve como estação de trânsito para partes da nossa consciência e das nossas memórias a serem acolhidas na nossa “consciência desperta”.

Isto passa-se como na internet, que não tem a sua origem no próprio computador que não é mais do que seu receptor. Nesta base a ideia da consciência não está radicada no domínio mensurável da física, no nosso mundo “manifesto”.

O eterno “aspecto onda” da nossa consciência indestrutível em espaço fásico, com interligação “não-local” é inerentemente não mensurável por processos físicos. O “imensurável” nunca poderá ser medido. Tal situação pode ser comparada com a das forças gravitacionais, na qual apenas os efeitos físicos podem ser medidos, não sendo directamente demonstráveis as forças propriamente ditas.

A vida cria a transição do “espaço fásico” para o nosso manifesto “espaço real”; de acordo com as nossas hipóteses a vida cria, sob as condições normais diurnas em que estamos despertos, a possibilidade de receber apenas algumas partes destes campos de consciência (ondas) no domínio da nossa consciência desperta que pertence ao nosso corpo físico (partículas). Durante a vida, a nossa consciência tem o aspecto de “ondas” bem como o de “partículas”, e existe uma permanente interacção entre estes dois aspectos da consciência.

Quando morremos, a nossa consciência deixa de ter um aspecto de “partículas”, mas apenas um aspecto de “ondas”. O interface entre a nossa consciência e o nosso corpo é eliminado.

Este conceito (Van Lommel, 2004) é uma teoria complementar, tal como ambos os aspectos da luz (“onda” e “partícula”) e não uma teoria dualística.

A experiência subjectiva (consciente) e as correspondentes propriedade físicas objectivas são duas manifestações fundamentalmente diferentes da mesma realidade mais profundamente subjacente. Não podem ser reduzidas uma à outra. O aspecto “partícula”, o aspecto físico da consciência no mundo material, tem a sua origem no aspecto “onda” do “espaço fásico” pelo colapso da função “onda” em partículas (“reducção objectiva”), e estas podem ser medidas por EEG, MEG, RMFI, e PET Scannning.

Várias redes neurais funcionam como interfaces para diferentes aspectos da nossa consciência, conforme pode ser demonstrado pelas imagens cambiantes durante registos de RMFI ou PET scanning.

Deste modo as funções das redes neurais deviam ser encaradas como receptoras e transmissoras de consciência e de memória, e não como reserva das mesmas. Com este novo conceito de consciência e das relações mente-cérebro, todos os elementos das EQM durante a paragem cardíaca poderiam ser explicados. Essa ideia é compatível com a interligação “não-local” com campos da consciência ou outras pessoas em “espaço fásico”. Esta comunicação remota e “não-local” parece ter ficado demonstrada cientificamente colocando pares de sujeitos em duas câmaras de Faraday, o que exclui de modo concludente qualquer mecanismo de transferência electromagnética.

Um estímulo visual de padrão reversível é usado para provocar respostas visuais evocadas no registo de electro encefalograma de um sujeito estimulado. E tal é instantaneamente recebido pelo sujeito não estimulado, o que resulta num câmbio imediato de actividade no seu registo electroencefalográfico (Thaheld, 2003; Wackermann e outros, 2003).

Tentando entender a ideia da interacção mecânica quântica entre o “espaço fásico” invisível e o do nosso corpo físico visível, é adequado fazer-se uma comparação com os modernos sistemas de comunicações.

Há, mundialmente, uma troca contínua de informações objectivas por meio de campos electromagnéticos, via rádio, TV, telemóveis e computadores. Não temos uma ideia das enormes quantidades de campos magnéticos que, dia e noite, nos envolvem e atravessam neste preciso instante, bem como toda a qualidade de estruturas físicas – paredes e edifícios.

Só nos apercebemos desses campos electromagnéticos informativos quando usamos o telemóvel, ligamos o rádio ou a TV.

A informação recebida não está dentro desses equipamentos nem nos respectivos componentes. Apenas se torna perceptível mediante a capacidade de recepção dos aparelhos e a informação contida nos campos electromagnéticos torna-se observável mediante os nossos sentidos, sendo transmitida desse modo à nossa consciência. A voz que ouvimos ao telefone, contudo, não está “dentro” dele.

O concerto musical que ouvimos pelo rádio é por ele recebido de longe. As imagens e os sons que vimos e ouvimos nos televisores não é neles que têm a sua origem e a internet não está dentro do nosso computador. Recebemos essas emissões transmitidas à velocidade da luz de distâncias de centenas ou milhares de milhas.

Quando desligamos o televisor a recepção cessa, mas a transmissão continua a fazer-se. A informação transmitida continua presente nos respectivos campos electromagnéticos. A ligação foi interrompida, mas não desapareceu e ainda pode ser recebida noutros locais usando outro receptor (“não localidade”).

Na minha opinião, baseado em depoimentos relatados de modo universal de vivências ocorridas durante paragens cardíacas, podemos concluir que os campos informativos da nossa consciência, constituídos por ondas, têm as suas raízes no “espaço fásico”, numa dimensão invisível sem tempo ou espaço, e estão presentes à nossa volta e através de nós. Ficam ao alcance da nossa consciência desperta através do nosso cérebro em funcionamento, no formato de campos electromagnéticos mutáveis e oscilantes. Poderá o nosso cérebro ser comparável com o nosso aparelho de televisão, que recebe ondas electromagnéticas e as transforma em imagem e som? Poderia igualmente ser comparável com a câmara de vídeo que transforma imagens e sons em ondas electromagnéticas? Essas ondas conservam a essência de certa informação, mas apenas ficarão ao alcance dos nossos sentidos mediante aparelhos adequados, como o receptor de televisão ou leitor de vídeo.

Logo que as funções do cérebro se perderam, tal como por morte clínica durante a paragem cardíaca ou a morte cerebral, as memórias e a consciência ainda existem, mas a capacidade receptora perdeu-se e a ligação ou o interface interromperam-se.

A consciência pode ser experimentada durante esse período de não funcionamento cerebral, o que é designado como EQM.

Por isso, na minha opinião a consciência não está radicada no nosso corpo físico!


CONCLUSÃO

A inevitável conclusão de que a consciência pode ser experimentada independentemente da funcionalidade do cérebro, pode induzir vastas modificações no paradigma científico da medicina ocidental e poderia ter implicações em questões éticas e médicas tais como o tratamento de doentes em coma ou em estado terminal, a utilização para transplantes de órgãos em processo de morte com coração ainda activo e corpo quente mas com diagnóstico de morte cerebral.

Esse entendimento também afecta profundamente a nossa opinião a respeito da morte, perante a inevitável conclusão de que – acontecida a morte – a faculdade da consciência continua a estar disponível noutra dimensão, num mundo invisível e imaterial, o “espaço fásico”, dentro do qual estão inseridos todo o passado, o presente e o futuro.

“A MORTE É APENAS O FIM DO NOSSO ASPECTO FÍSICO”

A investigação dos EQM não pode dar-nos provas irrefutáveis desta conclusão, porque as pessoas que passaram por eles não morreram de facto definitivamente, mas todos estiveram muito perto disso, com o cérebro paralisado.

Foi contudo demonstrado que, durante a EQM a consciência esteve disponível independentemente do funcionamento do cérebro!

E isso também nos conduz a pensar que o mundo como o vemos à nossa volta, bem como durante tais EQM encontra a sua realidade subjectiva apenas a partir do nosso conhecimento consciente, a partir da nossa consciência.

Ainda ficam mais perguntas do que respostas, mas, baseados nos acima mencionados aspectos teóricos da continuidade obviamente vivenciada da nossa consciência, deveríamos concluir finalmente a possibilidade de que a morte, como o nascimento, não passará de uma simples passagem de um estado da consciência para outro.

Podemos também concluir que a nossa consciência desperta, aquela de que dispomos no nosso dia a dia, não é senão uma parcela de uma nossa consciência total e indivisa.

A interligação com esta consciência mais acentuada pode ser experimentada durante uma situação médica crítica (a EQM), que se passa em condições limite de morte aparentemente inevitável (morte iminente), um acidente rodoviário (experiência do “medo da morte”), durante meditação ou profundo relaxamento (experiência iluminada ou de unidade), durante os estados mutáveis da consciência em regressões, hipnose e isolamento, ou de ingestão de drogas como o LSD, ou nas fases terminais da vida (visões no leito de morte).

A interligação com estes campos informativos da consciência também explica:

– a intuição acentuada,

– as visões ou sonhos premonitórios,

– as aparições no momento da morte ou depois dela, tal como acontece quando se contacta com a consciência de pessoas em estado terminal à distância, ou parentes falecidos;

 as chamadas experiências peri e post-mortem ou comunicações após a morte.

Esta consciência acentuada e alargada baseia-se em campos indestrutíveis de informação e em permanente evolução, nos quais todo o conhecimento, sabedoria e Amor Incondicional estão presentes e disponíveis. Esses campos da consciência estão guardados numa dimensão que não está sujeita aos nossos conceitos de espaço e de tempo, com interligação “não-local” e universal.

Podia designar-se isto como a nossa consciência Superior, a consciência Divina ou consciência Cósmica.

Ervin Laszlo chamou estes campos informativos da consciência como campo do ponto zero ou campo Akasha do vácuo quântico, ou melhor ainda no “plenum cósmico”, com uma memória cósmica holográfica por padrões de interferência de campos escalares ondulatórios (Laszlo, 2004)

Isto possibilita recuperar informação a respeito do sujeito como um todo de qualquer sítio situado dentro do campo, dado que os padrões de influência que codificam a função onda expandem-se através das propagações do alcance da onda e resistem por tempo indefinido.

Porque toda a matéria, e também o nosso corpo material, é 99,99% vazio (“vacuum”), todas as células do nosso corpo (bem como o nosso ADN) são continuamente invadidos por esses campos informativos da consciência, com os quais se mantém em contacto.

Quando por fim, a seguir a um período de morte que pode durar entre horas e dias, o nosso corpo por fim faleceu, aquilo que resta dele é apenas matéria “morta”, e nós podemos apenas manter o contacto com esses eternos e indestrutíveis campos de consciência, ou tornámo-nos parte deles.

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Dr. Pim van LommelAs Experiências de Quase-Morte, A Consciência e o Cérebro – ALGUNS ASPECTOS BÁSICOS DE FÍSICA QUÂNTICA, CONCLUSÃO, “A MORTE É APENAS O FIM DO NOSSO ASPECTO FÍSICO” (6º fragmento e o último) tradução para a língua portuguesa de espiritismo cultura, depois de autorizada pelo autor.
(imagem de contextualização: O Dr. Pim van Lommel / 2014 / médico e pesquisador com investigações médicas realizadas, desde, há décadas, no Hospital Rijnstate, Arnhem / Holanda)