Há corpos simples, quais o fósforo, que revelam
propriedades diferentes, sem que se lhes tenha acrescentado ou subtraído a
menor parcela de matéria. Toda a gente sabe que o fósforo é branco, venenoso e
muito inflamável. Entretanto, se, durante algum tempo, for exposto à luz no
vácuo, ou se for aquecido em vaso fechado, ele muda de cor e torna-se de um
vermelho belo. Nesse estado, é inofensivo, do ponto de vista da saúde e, deixa
de incendiar-se pelo atrito. Contudo, a mais severa análise não logra descobrir
qualquer diferença na composição química do fósforo vermelho ou branco. O
carvão pode tomar a forma de diamante ou de grafite; o enxofre apresenta
modificações características, conforme o estado em que se encontre; o oxigénio
torna-se ozónio. A todos esses diferentes estados do mesmo corpo foi dada a
denominação de alotrópicos.
Esses caracteres tão opostos, que a mesma
substância pode denotar, são devidos a mudanças que se lhes operam no íntimo.
As moléculas se agrupam diferentemente, ao mesmo tempo em que os seus
movimentos se modificam. Daí, as variações que se produzem nas suas respectivas
propriedades.
É tão verdade isso, que corpos muito diferentes
pelas suas propriedades, tais como as essências de terebintina, de limão, de
laranja, de alecrim, de basilisco, de pimenta, são, todavia formadas todas da
combinação de dezasseis equivalentes de hidrogénio com vinte equivalentes de
carbono.
Essa ordem especial das partículas associadas,
chamadas moléculas,
tornou-se visível por meio da cristalização.
Se nos lembrarmos de que todos os tecidos dos vegetais
e dos animais são formados, principalmente, de combinações variadas de quatro
gases apenas: o hidrogénio, o oxigénio, o carbono e o azoto, aos quais se
adicionam fracas quantidades de corpos sólidos em número muito reduzido,
compreenderemos a inesgotável fecundidade da Natureza e os infinitos recursos
de que ela dispõe para, agrupando átomos, formar moléculas que,
a seu turno, se podem agregar entre si com a mesma diversidade de maneiras.
Se se complicarem essas disposições por meio
dos movimentos de translação e de rotação peculiares aos átomos e moléculas,
torna-se possível conceber que todas as propriedades dos corpos estão
intimamente ligadas a tão diversos arranjos, tão variados e tão
diferentes uns dos outros.
Numa série de memórias muito relevantes, o
astrónomo Norman
Lockyer fez notar que a análise espectral do ferro contido na
atmosfera solar permite se conclua com certeza que esse corpo não é simples;
que é um grupo complexo, tendo por base um metal ainda desconhecido.
Somente, porém, nas altas temperaturas da fornalha ardente do nosso astro
central essa dissociação se torna aparente. Nenhuma temperatura terrestre seria
capaz de produzi-la.
Esse químico eminente dos espaços estelares
estudou os espectros das estrelas, desde as mais quentes até às que se
encontram prestes a extinguir-se e, mostrou que o número dos corpos
simples aumenta, à medida que a temperatura diminui. Quer isso dizer que
eles nascem sucessivamente, pois que cada massa se encontra isolada no espaço e
nenhuma partícula de matéria recebe do exterior, por mais insignificante que
seja.
Em suma, a ideia de uma matéria única, donde
necessariamente derive tudo o que existe, está hoje admitida pelos sábios e os
Espíritos que no-la preconizaram, estão de acordo com a ciência contemporânea. Veremos
se a continuação dos seus ensinamentos é tão verdadeira quanto as suas
primeiras asserções.
/…
Gabriel Delanne, A Alma é Imortal, Terceira parte – O Espiritismo e
a ciência Capítulo II O tempo, o espaço, a matéria primordial – A
isomeria, 8º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Pitágoras, pormenor
d'A escola de Atenas de Rafael
Sanzio (1509)
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