quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Inquietações Primaveris ~


Inquietações Primaveris ~~

A adolescência é a fase mais difícil e perigosa da vida, mas também a mais bela. Tudo é esperança e sonho, mesmo para os espíritos mais práticos. Mas existem as adolescências desastradas, carregadas de provas esmagadoras. É nessa fase – entre os 13 e os 14 anos até aos 18 ou 20 –, que o jovem toma consciência de suas novas responsabilidades, na sua nova residência na Terra, para lembrarmos o título de um dos mais belos livros de poemas de Pablo Neruda. Nesse período as lições e os exemplos da infância amadurecem lentamente e precisam, mais do que nunca, ser acrescidos de novos e vigorosos estímulos. Porque, nessa primavera da vida avivam-se o perfume das flores, o cheiro estonteante do pólen e as condições de vagas lembranças do passado. O adolescente sente-se atraído por sectores diversos de actividades e é arrastado para comportamentos anteriores quase sempre perigosos. Ele se mostra rebelde, insatisfeito, opõe-se aos pais e pretende corrigi-los. Torna-se crítico, irónico, não raro zombeteiro, pretensioso, acreditando saber mais do que os outros, especialmente do que os mais velhos. É o momento da reelaboração da experiência das gerações anteriores, bem acentuado na obra de Dewey. Ele tem razão e sabe que a tem, mas não sabe como a definir, expor e orientar o seu pensamento ainda informe e já ansioso por se externar e se impor ao mundo. Não se pode contrariá-lo frontalmente nem aprová-lo sem restrições. Qualquer dessas atitudes poderá mesmo exasperá-lo. Deve-se tratá-lo com cuidado, evitando excessos e, dar-lhe exemplos positivos sem alarde, sem propaganda. Ele, só ele, é quem deve perceber o que se faz de bom ou de mau à sua volta. Estímulos bons e tentações perigosas perturbam a sua alegria, pequenas decepções parecem-lhe definitivas. É nessa fase que se pode perceber, mais ou menos, quais os tipos de experiências por que ele passou na última encarnação. Essa percepção oferece indicações importantes para a orientação do processo educativo, desde que consideradas com cautela e confrontadas com outras manifestações que as corroborem. De qualquer maneira, não se deve dar ciência dessas observações ao jovem. Elas servem apenas para os pais e os familiares integrados no trabalho de orientação. Comunicações de entidades sérias e suficientemente conhecidas poderão também auxiliar. 

Nas famílias espíritas, bem integradas na Doutrina, o processo torna-se mais facilmente realizável. Nas famílias católicas e protestantes, ou integradas em seitas anti-reencarnacionistas, as dificuldades são maiores, mas não insuperáveis. A leitura e o estudo das obras de Allan Kardec ajudarão muito o desenvolvimento do processo educativo, desde que o adolescente se mostre interessado pelo conhecimento do problema. Forçá-lo a isso seria contraproducente. Tudo o que representar ou parecer imposição será fatalmente rejeitado. A leitura referida poderá ser sugerida por outro adolescente, sem que se deixe transparecer o dedo de um adulto por trás da tentativa. 

De maneira geral, a observação da vocação e das tendências do adolescente são importantes. Mas o mais importante será sempre o exemplo dos mais velhos, na família e na escola, pois o instinto de imitação da criança subsiste no adolescente e se prolonga, geralmente, na maturidade, diluído, mas constante, o que podemos verificar facilmente no meio social comum. Os tempos actuais não são favoráveis a bons exemplos, mas há sempre bons livros a se presentear a um adolescente no seu aniversário, sem se deixar perceber qualquer intenção orientadora. Os livros que tratam de problemas espirituais e morais devem ser de autores arejados, que encarem o mundo e a vida de maneira objectiva, sem cair no sermonário ou no misticismo piegas. Ou tratamos com os jovens numa linguagem clara, directa e positiva ou não seremos ouvidos. As novas gerações são vanguardistas de um novo mundo e não querem compromissos com o mundo de mentiras e hipocrisias em que vivemos até agora. 

Não se pense, porém, que todos os adolescentes são difíceis. No seu excelente estudo A Crise da AdolescênciaMaurice Debesse tem muito para nos ensinar. 

As inquietações primaveris da adolescência reflectem amarguras e alegrias de outras encarnações. As amarguras correspondem a fracassos dolorosos de uma vida passada, que tanto pode ser a última como também uma encarnação anterior, até mesmo longínqua. As alegrias reflectem acontecimentos felizes, que por isso carregam também as sombras da saudade, gerando no adolescente estranhas e profundas nostalgias. Não se trata propriamente de lembranças ou recordações, mas apenas de um eco soturno que parece ressoar nas profundezas de uma gruta. O adolescente sofre essas repercussões sem as identificar, sem saber de onde chegam à sua acústica interior esses ruídos semelhantes ao das vagas das ondas numa praia deserta. Anseios indefinidos brotam do seu coração, tentando arrastá-lo para distâncias desconhecidas, mundos perdidos no tempo, criaturas amadas, mas desconhecidas que o chamam e anseiam por encontrá-lo. Os sonhos o embalam às vezes, ao dormir, em situações que o confundem, pois, as imagens de outros tempos e as do presente se embaralham no processo onírico, não lhe permitindo a identificação de lugares, edifícios, cidades em que ele parece ter vivido. Os terrores nocturnos o assaltam com visões que muitas vezes nada têm de trágico ou perigoso, mas que, não obstante o despertam apavorado e trémulo. Atrevido e audacioso à luz do dia, disposto a enfrentar o mundo dos velhos e transformá-lo heroicamente num mundo melhor, mostra-se infantil e frágil nesses momentos de ressonância imprecisa do passado. Às vezes um pequeno incidente do presente, uma troca de palavras ásperas com alguém, uma jovem que o encarou distraidamente na rua e depois lhe virou abruptamente o rosto, é suficiente para levá-lo a fugir para o seu quarto, fechando-se à chave para chorar angustiado sem saber por que motivo chora. A crise da adolescência não é fatal, obrigatória, pelo menos nessa intensidade. Varia enormemente nos graus de sua manifestação e em alguns adolescentes parece nunca se manifestar. Na verdade, manifesta-se atenuada, traduzindo-se em caprichos estranhos, numa espécie de esquizofrenia incipiente, que logra os psicólogos e psiquiatras. São as variações de temperamento, de situações vividas, de sensibilidade mais ou menos aguçada, de maior ou menor integração do espírito na nova encarnação, que determinam essa variedade. A ressonância existe sempre, mas nem sempre desencadeia a crise. Os temperamentos estéticos, sonhadores, são os mais afectados. Os espíritos práticos apegam-se mais facilmente à nova realidade e a ressonância produz-se neles de maneira esmaecida, sem afectar o seu comportamento. 

Há criaturas que desde a infância começam a sentir os sintomas da crise. Certos adolescentes passam pelo período da crise como abobados, em estado de permanente distracção. Rejeitam o mundo e o meio em que vivem e desejam morrer. Acham que nunca se integrarão na realidade presente. Realidade que vai aos poucos se impondo a essas criaturas que acabam por se adaptarem a ela. A vida tem as suas leis e sabe domar a rebeldia humana. Algumas dessas almas rebeladas acomodam-se ao mundo, mas nunca o aceitam de bom grado. Parecem exiladas no nosso planeta. O período mais difícil que atravessam é o da adolescência, rejeitando companhias, fugindo às reuniões festivas, entregues a uma espécie de desânimo permanente. 

Na pesquisa espírita verifica-se, na maioria desses casos, a presença de entidades inconformadas que aumentam a inquietação desses espíritos saudosistas. Nas reuniões mediúnicas e através de passes encontram geralmente a solução dessa nostalgia aparentemente sem motivo. 

O mundo actual pressiona de maneira arrasadora essas almas sensíveis, que muitas vezes estão a passar pelos resgates de privilégios que usaram e abusaram aqui mesmo, na Terra. As mudanças de posição social, a troca de um meio refinado pelas situações inferiores, no processo reencarnatório, causa os desajustes naturais de todas as mudanças. Mas cada alma já vem preparada espiritualmente para superar essas dificuldades dos períodos de adaptação. 

Na Educação para a Morte esses casos são naturalmente prevenidos através dos esclarecimentos da finalidade da existência. Ensinando-se e provando-se, com os dados científicos hoje amplamente conseguidos, que a evolução é lei geral do Universo e que a evolução humana se desenvolve em etapas sucessivas que nos levam sempre a situações melhores, as inquietações da adolescência são compensadas pela esperança e até mesmo a certeza de um futuro melhor. O desespero e o desânimo são sempre produzidos pela ausência da esperança. Em geral essa ausência decorre de informações negativas sobre o destino humano. As informações positivas e desinteressadas, fornecidas por cientistas que buscam a verdade e não a ilusão mística das religiões, sempre interessadas no proselitismo de que vivem, são mais facilmente aceites e compreendidas. A desmoralização natural das religiões da morte abriu as portas do mundo às concepções negativas do materialismo e do ateísmo. Por isso o mundo se tornou mais árido e insuportável, uma espécie de prisão espacial em que a espécie humana está condenada a uma vida de réprobos sem perspectiva. E de tal forma essa prisão asfixiou a Terra que os próprios cientistas, adversos à questão espiritual, se incumbiram de derrubar a Ditadura da Física, como assinalou Rhine. O cálculo de probabilidades substituiu a rigidez das operações exactas e invariáveis da concepção mecanicista. Introduzido o espírito nas equações físicas, a liberdade se impôs nas avaliações da mecânica e da dinâmica da Natureza. Em vão surgiu a revolta filosófica do Estruturalismo de Strauss, que não passou de sonho de uma noite de verão para os anti-evolucionistas apegados ao bolor rançoso do Fixismo dogmático. As perspectivas actuais, não obstante as loucuras do momento, são de esperança para a Terra e para o Homem. Bastaria esse facto para alentar os corações inquietos e as mentes perturbadas. O princípio da Ordem Universal perdeu a sua rigidez estática e o fluir da vida revelou a sua fluidez na surpreendente flexibilidade das estruturas vivas. 

Já não há lugar para os adeptos da nadificação na nossa cultura. O Universo revelou-se energético de força, espírito e matéria. Já não se pode falar, como no tempo de Bukner, apenas em força e matéria. Voltamos ao pensamento grego de Tales de Mileto, o vidente que dizia: “O Mundo é pleno de deuses.” Na época, os deuses eram os espíritos que o povoavam e, por sua natureza específica, pairavam acima da natureza humana comum. Todos os sofismas da Mística milenar e todas as dúvidas do Cepticismo antigo e moderno morreram nas explosões atómicas de Hiroshima e Nagasaki. Nada se perde, nada se acaba, tudo se integra, desintegra e reintegra nas incessantes metamorfoses do Cosmos. Inadmissível o conceito vazio do Nada, esse buraco no absurdo. O Nada não existe em parte alguma e a vida não é chama que se apague ao sopro de deuses ou demónios. As sondagens astronáuticas provaram o princípio kardeciano da relação criadora e dialéctica entre força e a matéria. Ninguém, nenhuma coisa ou objecto, nenhum ser se frustra em parte alguma, simplesmente porque as coordenadas do tempo e do espaço repousam na duração, esse conceito moderno e dinâmico que substituiu o conceito estático de eternidade. 

A natureza ôntica revela a essência do ser como síntese consciencial da dialéctica espírito e matéria. Como Geley demonstrou, a realidade una e densa é um fluxo energético ininterrupto que vai do inconsciente ao consciente. Léon Denis, que Conan Doyle chamou de O Druída de Lorena, ofereceu-nos a síntese poética e racional (Razão e Poesia – confirmando o hilosoismo grego) nesta visão espantosa da realidade universal: A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem. A consciência é potência no mineral, desenvolvimento progressivo no vegetal, onde a sensibilidade aflora, transição vital no animal, que desenvolve a motilidade e, acto no homem, a caminho inevitável e irreversível da transcendência na existência. Deus, a Consciência Absoluta, não é o Primeiro motor Imóvel de Aristóteles, mas a Consciência Funcional do Cosmos. Como na definição da Educação por Hubert, Deus é a Consciência Plena que eleva e atrai sem cessar as consciências embrionárias para integrá-las na sua plenitude Divina. 

/… 


José Herculano Pires – Educação para a Morte, Inquietações Primaveris, 12º fragmento desta obra. 
(imagem de contextualização: O caranguejo, pintura de William-Adolphe Bouguereau)

sábado, 14 de janeiro de 2023

apóstolos de verdade ~


Emmanuel, Kardec e a Codificação Espírita 

|João Roberto do Nascimento| 

"Emmanuel, sem dúvida alguma, é o Espírito que mais prestígio tem no cenário espírita brasileiro. O seu trabalho junto do médium mineiro Chico Xavier, é notável em todos os aspectos. Se o Chico triunfou no seu mediunato, não podemos negar, muito deve ao seu Guia Espiritual, Emmanuel, cujo trabalho literário é extenso e envolve todos os ramos do conhecimento. Os seus romances são jóias de inestimável valor. Todavia, mesmo no meio de tanta admiração e respeito que nutrimos por esse Espírito, ainda encontramos lacunas e perguntas relacionadas a alguns assuntos, que nos parecem pouco explicados. 

Algumas vezes, percebo que Emmanuel vai na contramão daquilo que escreveu o Codificador. E, entre Emmanuel e Allan Kardec, eu não tibubeio, fico com Kardec. E lembro hoje de um bate-papo que tive com o Dr. Ary Lex, - inteligente velhinho - que, em certo momento me falou: ‘... não há como negar, os Espíritos que trabalharam com Kardec, eram de longe, muito mais evoluídos e preparados na exposição do Espiritismo do que os Espíritos que hoje se manifestam através do Chico, do Divaldo, ou qualquer outro médium que seja...’, no que concordei plenamente. 

"Quanto a Emmanuel, tenho algumas indagações, que julgo importantes e precisam ser analisadas, levando-se em conta o alto apreço e aceitação que esse Espírito tem no movimento espírita. 

"O escritor Jorge Rizzini, ao escrever o Prefácio do livro "O Corpo Fluídico" de Wilson Garcia, chega mesmo a dizer: ‘... A grande verdade é esta: o Guia do Espiritismo no Brasil, não obstante a publicidade secular da FEB, não é o Espírito Roustainguista Ismael, e, sim, Emmanuel! A obra de Emmanuel prova, de sobejo, a afirmativa’. E é ainda nesse belo Prefácio, que o Rizzini, inspiradíssimo e com fino humor, melhor definiu o Anjo Ismael, dizendo: ‘... Espírito que se diz ‘Anjo’, mas que aconselha Roustaing ao povo ao invés de Kardec, está pedindo doutrinação!’. Nada mais verdadeiro. 

"De nossa parte, notamos que em muitos pontos, Emmanuel contraria Kardec; a) não aconselha, por exemplo, a evocação dos Espíritos, em nenhum caso (O Consolador); b) defende a teoria das Almas Gémeas (ídem), em flagrante contradição com aquilo que disseram os Espíritos a Kardec (O Livro dos Espíritos); c) Apoia a teoria do Corpo Fluídico de Jesus, como declarou o jornalista Luciano dos Anjos, roustainguista declarado, no seu livro ‘Os Adeptos de Roustaing’. E, para comprovar que Emmanuel também é roustainguista, como ele, Luciano dos Anjos cita trechos do livro ‘Vida de Jesus’ de Antonio Lima, e ‘Brasil, coração do Mundo e...’ de Humberto de Campos (Espírito) (...) Mas, não podemos negar, o facto é que todas essas passagens, citadas por Luciano dos Anjos, foram tiradas de livros publicados pela FEB. Ficamos então a meditar se a FEB não teve o cuidado de maquiar ou adulterar trechos, que pudessem ferir os absurdos de Roustaing. De minha parte, acredito que sim, pois acho que a FEB é bem capaz desse artifício. É facto, não é boato, que, para manter o prestígio dessa teoria esdrúxula, a FEB não mediu esforços, nem agiu dignamente em diversas ocasiões, para não ferir a sua convicção, ou denegrir o seu estatuto, que, em seu art. 1º, § único, manda que todos rezem pela cartilha de Roustaing e ainda se intitulam de "Casa Mater do Espiritismo", ignorando que Kardec pulverizou a teoria do corpo fluídico no livro A Génese, no cap. XV, itens 64 a 67, usando de bom senso e de uma lógica irretocável. Seja como for, se Emmanuel realmente aprovava a teoria de Roustaing, ele nunca o declarou abertamente... 

"Outro episódio em que noto contradição entre o que Kardec escreveu e o que Emmanuel ensina, é aquele em que Jesus nos fala da multiplicação dos pães. Para Kardec, foi figurada, visando apenas a um ensino de ordem moral. Já para Emmanuel não foi figurada coisa nenhuma, foi material; sim, o facto ocorreu, materialmente. (...) E Emmanuel chegou mesmo a afirmar que sua esposa Lívia, na época em que ele era senador romano, fora uma das beneficiadas daquele banquete de pão e peixe. (livro "Há 2.000 anos", cap. VII – As pregações do Tiberíades). 

"O escritor A. N. Wilson, que não é espírita, também pensa como Kardec. Foi o que deixou bem claro no seu livro "Jesus, um retracto do homem", edição Ediouro: ‘O fenómeno da multiplicação dos pães não passa de um ensino figurado, de ordem moral, sem a necessidade de ter ocorrido materialmente. E, para se chegar a esta conclusão, basta usar de bom senso, levando-se em conta o que Jesus dizia de si mesmo: ‘Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome’ (João, cap. VI). É o que, por lógica, deduzimos. 

"Agora, vou apontar uma omissão, encontrada no livro "Paulo e Estêvão" do Espírito Emmanuel, psicografado por Chico Xavier. Emmanuel, em parte alguma, cita o nome de Erasto, Discípulo de Paulo. Por que será? E Paulo, o Apóstolo dos Gentios, em sua terceira viagem, enviou dois de seus discípulos à Macedónia. É o que se lê em Actos, cap. XIX, v. 22: ‘E, enviando à Macedónia, dois daqueles que o seguiam, Tomóteo e Erasto, ficou ele por algum tempo na Ásia" e esta outra: "Erasto ficou em Corinto, e deixei Trofimo doente em Mileto" (II Timóteo, cap. IV, v. 20). 

"Como sabemos, Erasto, no tempo da Codificação do Espiritismo, iria desempenhar, e desempenhou, realmente, importante papel junto à falange do Espírito de Verdade. Foi ele quem mais chamou a atenção para o perigo de ideias fantasiosas no meio espírita. É mesmo dele a frase, que se tornou célebre: ‘É preferível rejeitar nove verdades, que aceitar uma só mentira", contida em "O Livro dos Médiuns". E, pergunto, existe mentira maior do que aquela que foi propalada por Roustaing, defendida e divulgada por "uns poucos"?!... 

"Emmanuel, ainda em "Paulo e Estêvão" dá, claramente, a entender que não considera Tiago como irmão de Jesus, contrariando assim o que disse o próprio Paulo. Fico com a pulga atrás da orelha, e reflicto: será que Emmanuel ainda não se encontra em processo de desligamento dos artigos de fé católica?! Pois só para a Igreja, na sua visão obtusa, é que é inadmissível o facto de Jesus ter tido irmãos, pois isto contraria o dogma da virgindade perpétua de Maria. E além da Igreja, também temos o Sr. J.B. Roustaing e a sua ‘Revelação da Revelação’ (ou seria ‘Mistificação da Mistificação?!’) que revive o dogma católico da virgindade de Maria. Quanta bizarria! 

"Emmanuel, em muitos de seus trabalhos literários, romanceia passagens contidas em Actos dos Apóstolos e nos Evangelhos e, ás vezes muda até o próprio contexto das Escrituras. Emmanuel - não podemos negar -, tem uma capacidade invejável, e consegue florir os relatos com uma forte dose de sentimentalismo religioso, sem, contudo, deixar de dar a sua opinião, que pode ser certa ou não, pois é a opinião de um Espírito que abraçou o Espiritismo, mas que ainda guarda consigo - é o que percebemos – ideias e conceitos que se cristalizaram através dos tempos no seu foro íntimo, nas suas encarnações pretéritas, quando viveu na condição de padre e submisso aos dogmas católicos. 

"Estas opiniões particulares de Espíritos que ocupam lugar de destaque no movimento espírita, tornam-se verdades indiscutíveis, devido à falta de estudo de grande parte da comunidade espírita, que, infelizmente, coloca os livros da Codificação em segundo plano, em detrimento de outros livros mediúnicos com conteúdos meio (ou muito) duvidosos. É de se lamentar certas atitudes! 

"Não menosprezamos o trabalho de Emmanuel, de forma alguma, pois reconhecemos o seu valor e admiramos o trabalho gigantesco desse mineirinho querido, que foi o nosso doce Chico Xavier. Mas também não podemos fugir aos imperativos do Espiritismo, que manda que devemos passar tudo pelo crivo da razão e do bom senso" (João Roberto Nascimento é militante espírita de São Paulo/SP e um importante colaborador do Centro de Estudos Espíritas Allan Kardec, do Centro Espírita Três de Outubro, do Centro Espírita Nova Era, do Centro Espírita "O Semeador" e do Centro Espírita Seara do Mestre). 


NOSSO COMENTÁRIO 

Caro companheiro João Roberto Nascimento, os nossos parabéns sinceros pelo trabalho brilhante de crítica doutrinária que realizou, em relação à obra de Emmanuel, onde aparecem, realmente, muitos pontos contraditórios em relação às do Mestre e Missionário Allan Kardec

Mas, de minha parte, não compartilho, de modo algum dos elogios efusivos que você dirigiu ao Guia e Mentor Espiritual de Chico Xavier. 

Para mim, o ex-padre Manoel da Nóbrega só retornou à antiga Colónia, hoje "Pátria do Evangelho", para atrapalhar e mesmo impedir o retorno de Allan Kardec ao planeta, para completar a sua missão, como anunciara o Espírito de Verdade. Obra, portanto, dos jesuítas, inimigos do verdadeiro Espiritismo. Para isso, provocaram uma verdadeira enxurrada de mensagens e livros psicografados, para, assim, desviarem a atenção dos ingénuos, incautos e ignorantes e mesmo de muitos letrados. Chegaram até ao cúmulo de enfiar na cabeça deles que se cumpriu a profecia contida em "Obras Póstumas", pois o Mestre de Lyon, desta vez voltou com feições efeminadas, pusilânime, com uma grande dose de carolismo, um pouco vaidoso e submisso à FEB roustainguista. Grande palhaçada!... 

/... 


Erasto de Carvalho Prestes, in O Franco Paladino, Julho de 2003 / Órgão de divulgação do Espiritismo codificado pelo Mestre Allan Kardec – EMMANUEL, KARDEC E A CODIFICAÇÃO ESPÍRITA / João Roberto do Nascimento, 2º fragmento solto desta obra. 
(imagem de contextualização: Erasto de Carvalho Prestes, O Franco Paladino de Kardec, fotografia de 2009)