sábado, 14 de janeiro de 2023

apóstolos de verdade ~


Emmanuel, Kardec e a Codificação Espírita 

|João Roberto do Nascimento| 

"Emmanuel, sem dúvida alguma, é o Espírito que mais prestígio tem no cenário espírita brasileiro. O seu trabalho junto do médium mineiro Chico Xavier, é notável em todos os aspectos. Se o Chico triunfou no seu mediunato, não podemos negar, muito deve ao seu Guia Espiritual, Emmanuel, cujo trabalho literário é extenso e envolve todos os ramos do conhecimento. Os seus romances são jóias de inestimável valor. Todavia, mesmo no meio de tanta admiração e respeito que nutrimos por esse Espírito, ainda encontramos lacunas e perguntas relacionadas a alguns assuntos, que nos parecem pouco explicados. 

Algumas vezes, percebo que Emmanuel vai na contramão daquilo que escreveu o Codificador. E, entre Emmanuel e Allan Kardec, eu não tibubeio, fico com Kardec. E lembro hoje de um bate-papo que tive com o Dr. Ary Lex, - inteligente velhinho - que, em certo momento me falou: ‘... não há como negar, os Espíritos que trabalharam com Kardec, eram de longe, muito mais evoluídos e preparados na exposição do Espiritismo do que os Espíritos que hoje se manifestam através do Chico, do Divaldo, ou qualquer outro médium que seja...’, no que concordei plenamente. 

"Quanto a Emmanuel, tenho algumas indagações, que julgo importantes e precisam ser analisadas, levando-se em conta o alto apreço e aceitação que esse Espírito tem no movimento espírita. 

"O escritor Jorge Rizzini, ao escrever o Prefácio do livro "O Corpo Fluídico" de Wilson Garcia, chega mesmo a dizer: ‘... A grande verdade é esta: o Guia do Espiritismo no Brasil, não obstante a publicidade secular da FEB, não é o Espírito Roustainguista Ismael, e, sim, Emmanuel! A obra de Emmanuel prova, de sobejo, a afirmativa’. E é ainda nesse belo Prefácio, que o Rizzini, inspiradíssimo e com fino humor, melhor definiu o Anjo Ismael, dizendo: ‘... Espírito que se diz ‘Anjo’, mas que aconselha Roustaing ao povo ao invés de Kardec, está pedindo doutrinação!’. Nada mais verdadeiro. 

"De nossa parte, notamos que em muitos pontos, Emmanuel contraria Kardec; a) não aconselha, por exemplo, a evocação dos Espíritos, em nenhum caso (O Consolador); b) defende a teoria das Almas Gémeas (ídem), em flagrante contradição com aquilo que disseram os Espíritos a Kardec (O Livro dos Espíritos); c) Apoia a teoria do Corpo Fluídico de Jesus, como declarou o jornalista Luciano dos Anjos, roustainguista declarado, no seu livro ‘Os Adeptos de Roustaing’. E, para comprovar que Emmanuel também é roustainguista, como ele, Luciano dos Anjos cita trechos do livro ‘Vida de Jesus’ de Antonio Lima, e ‘Brasil, coração do Mundo e...’ de Humberto de Campos (Espírito) (...) Mas, não podemos negar, o facto é que todas essas passagens, citadas por Luciano dos Anjos, foram tiradas de livros publicados pela FEB. Ficamos então a meditar se a FEB não teve o cuidado de maquiar ou adulterar trechos, que pudessem ferir os absurdos de Roustaing. De minha parte, acredito que sim, pois acho que a FEB é bem capaz desse artifício. É facto, não é boato, que, para manter o prestígio dessa teoria esdrúxula, a FEB não mediu esforços, nem agiu dignamente em diversas ocasiões, para não ferir a sua convicção, ou denegrir o seu estatuto, que, em seu art. 1º, § único, manda que todos rezem pela cartilha de Roustaing e ainda se intitulam de "Casa Mater do Espiritismo", ignorando que Kardec pulverizou a teoria do corpo fluídico no livro A Génese, no cap. XV, itens 64 a 67, usando de bom senso e de uma lógica irretocável. Seja como for, se Emmanuel realmente aprovava a teoria de Roustaing, ele nunca o declarou abertamente... 

"Outro episódio em que noto contradição entre o que Kardec escreveu e o que Emmanuel ensina, é aquele em que Jesus nos fala da multiplicação dos pães. Para Kardec, foi figurada, visando apenas a um ensino de ordem moral. Já para Emmanuel não foi figurada coisa nenhuma, foi material; sim, o facto ocorreu, materialmente. (...) E Emmanuel chegou mesmo a afirmar que sua esposa Lívia, na época em que ele era senador romano, fora uma das beneficiadas daquele banquete de pão e peixe. (livro "Há 2.000 anos", cap. VII – As pregações do Tiberíades). 

"O escritor A. N. Wilson, que não é espírita, também pensa como Kardec. Foi o que deixou bem claro no seu livro "Jesus, um retracto do homem", edição Ediouro: ‘O fenómeno da multiplicação dos pães não passa de um ensino figurado, de ordem moral, sem a necessidade de ter ocorrido materialmente. E, para se chegar a esta conclusão, basta usar de bom senso, levando-se em conta o que Jesus dizia de si mesmo: ‘Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome’ (João, cap. VI). É o que, por lógica, deduzimos. 

"Agora, vou apontar uma omissão, encontrada no livro "Paulo e Estêvão" do Espírito Emmanuel, psicografado por Chico Xavier. Emmanuel, em parte alguma, cita o nome de Erasto, Discípulo de Paulo. Por que será? E Paulo, o Apóstolo dos Gentios, em sua terceira viagem, enviou dois de seus discípulos à Macedónia. É o que se lê em Actos, cap. XIX, v. 22: ‘E, enviando à Macedónia, dois daqueles que o seguiam, Tomóteo e Erasto, ficou ele por algum tempo na Ásia" e esta outra: "Erasto ficou em Corinto, e deixei Trofimo doente em Mileto" (II Timóteo, cap. IV, v. 20). 

"Como sabemos, Erasto, no tempo da Codificação do Espiritismo, iria desempenhar, e desempenhou, realmente, importante papel junto à falange do Espírito de Verdade. Foi ele quem mais chamou a atenção para o perigo de ideias fantasiosas no meio espírita. É mesmo dele a frase, que se tornou célebre: ‘É preferível rejeitar nove verdades, que aceitar uma só mentira", contida em "O Livro dos Médiuns". E, pergunto, existe mentira maior do que aquela que foi propalada por Roustaing, defendida e divulgada por "uns poucos"?!... 

"Emmanuel, ainda em "Paulo e Estêvão" dá, claramente, a entender que não considera Tiago como irmão de Jesus, contrariando assim o que disse o próprio Paulo. Fico com a pulga atrás da orelha, e reflicto: será que Emmanuel ainda não se encontra em processo de desligamento dos artigos de fé católica?! Pois só para a Igreja, na sua visão obtusa, é que é inadmissível o facto de Jesus ter tido irmãos, pois isto contraria o dogma da virgindade perpétua de Maria. E além da Igreja, também temos o Sr. J.B. Roustaing e a sua ‘Revelação da Revelação’ (ou seria ‘Mistificação da Mistificação?!’) que revive o dogma católico da virgindade de Maria. Quanta bizarria! 

"Emmanuel, em muitos de seus trabalhos literários, romanceia passagens contidas em Actos dos Apóstolos e nos Evangelhos e, ás vezes muda até o próprio contexto das Escrituras. Emmanuel - não podemos negar -, tem uma capacidade invejável, e consegue florir os relatos com uma forte dose de sentimentalismo religioso, sem, contudo, deixar de dar a sua opinião, que pode ser certa ou não, pois é a opinião de um Espírito que abraçou o Espiritismo, mas que ainda guarda consigo - é o que percebemos – ideias e conceitos que se cristalizaram através dos tempos no seu foro íntimo, nas suas encarnações pretéritas, quando viveu na condição de padre e submisso aos dogmas católicos. 

"Estas opiniões particulares de Espíritos que ocupam lugar de destaque no movimento espírita, tornam-se verdades indiscutíveis, devido à falta de estudo de grande parte da comunidade espírita, que, infelizmente, coloca os livros da Codificação em segundo plano, em detrimento de outros livros mediúnicos com conteúdos meio (ou muito) duvidosos. É de se lamentar certas atitudes! 

"Não menosprezamos o trabalho de Emmanuel, de forma alguma, pois reconhecemos o seu valor e admiramos o trabalho gigantesco desse mineirinho querido, que foi o nosso doce Chico Xavier. Mas também não podemos fugir aos imperativos do Espiritismo, que manda que devemos passar tudo pelo crivo da razão e do bom senso" (João Roberto Nascimento é militante espírita de São Paulo/SP e um importante colaborador do Centro de Estudos Espíritas Allan Kardec, do Centro Espírita Três de Outubro, do Centro Espírita Nova Era, do Centro Espírita "O Semeador" e do Centro Espírita Seara do Mestre). 


NOSSO COMENTÁRIO 

Caro companheiro João Roberto Nascimento, os nossos parabéns sinceros pelo trabalho brilhante de crítica doutrinária que realizou, em relação à obra de Emmanuel, onde aparecem, realmente, muitos pontos contraditórios em relação às do Mestre e Missionário Allan Kardec

Mas, de minha parte, não compartilho, de modo algum dos elogios efusivos que você dirigiu ao Guia e Mentor Espiritual de Chico Xavier. 

Para mim, o ex-padre Manoel da Nóbrega só retornou à antiga Colónia, hoje "Pátria do Evangelho", para atrapalhar e mesmo impedir o retorno de Allan Kardec ao planeta, para completar a sua missão, como anunciara o Espírito de Verdade. Obra, portanto, dos jesuítas, inimigos do verdadeiro Espiritismo. Para isso, provocaram uma verdadeira enxurrada de mensagens e livros psicografados, para, assim, desviarem a atenção dos ingénuos, incautos e ignorantes e mesmo de muitos letrados. Chegaram até ao cúmulo de enfiar na cabeça deles que se cumpriu a profecia contida em "Obras Póstumas", pois o Mestre de Lyon, desta vez voltou com feições efeminadas, pusilânime, com uma grande dose de carolismo, um pouco vaidoso e submisso à FEB roustainguista. Grande palhaçada!... 

/... 


Erasto de Carvalho Prestes, in O Franco Paladino, Julho de 2003 / Órgão de divulgação do Espiritismo codificado pelo Mestre Allan Kardec – EMMANUEL, KARDEC E A CODIFICAÇÃO ESPÍRITA / João Roberto do Nascimento, 2º fragmento solto desta obra. 
(imagem de contextualização: Erasto de Carvalho Prestes, O Franco Paladino de Kardec, fotografia de 2009)

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