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domingo, 6 de junho de 2021

o Homem e a Sociedade numa nova Civilização ~ do Materialismo histórico a uma Dialéctica do espírito ~


Capítulo V 

O SIGNIFICADO ESPÍRITA do Materialismo Dialéctico 
(II de III) 

Mas, para explicar claramente essa lei dialéctica, será preciso interpretar o Ser como uma tese essencial que, segundo a filosofia espírita, contém o Universo inteiro, e que começa o seu desenvolvimento no inconsciente das coisas, até chegar, mais tarde, ao grau de consciência. Este estado alcançado pela tese do Ser se transformará mais adiante; no contrário do seu primeiro período evolutivo, isto é, negará a sua condição anterior ao penetrar na de antítese, que representa uma etapa mais desenvolvida que a primeira, até se situar na de síntese, resumo superior dos seus dois tempos primitivos e tudo isso nos dará o seguinte: O presente é o que não existia ontem, mas esse ontem é a negação da qual surgiu o hoje; logo, deste hoje resultará a negação da qual surgirá o amanhã. 

Nisto consiste, pois, a lei chamada negação da negação ou evolução da involuçãoa interpretação espírita que nos mostra agora o desenvolvimento palingenésico como um processo dialéctico do Ser. Assim, vemos como o homem, ao nascer, é uma entidade espiritual de natureza dialéctica, chamada a desenvolver-se continuamente através do processo histórico. 

Pelo exemplo seguinte, vejamos como se desenvolve a lei denominada negação da negação: 

Tomemos um grão de trigo, o qual representa a tese. Que faremos, para que esse grão de trigo se torne o ponto de partida de um processo de desenvolvimento”? Enterramo-lo e, isso determina a etapa de antítese (ou de encarnação do Ser). Que sucederá então? Assistiremos à negação do grão de trigo, para que nasça a espiga. Primeira negação: o grão de trigo desapareceu, mas se transformou numa planta. Esta planta cresceu e produz grãos de trigo, como é natural e depois morre. Segunda negação: A planta desapareceu, depois de reproduzir o grão de trigo que a originou. Não nos esqueçamos, porém, de que não produziu um só grão de trigo, mas uma grande quantidade, que inclusive poderá suscitar novas qualidades. (*) 

Transportada a ideia do processo dialéctico para o desenvolvimento do Ser, vemos que esta negação da negação só poderá efectuar-se pela parte psíquica de sua natureza, que permitirá essa transformação. Estes processos dialécticos, que têm a virtude de revelar novas qualidades nas coisas de acordo com a filosofia espírita, explicam o desenvolvimento do dinamopsiquismo essencialmediante a evolução da involução, isto é, a essência evoluída, fazendo desenvolver a essência ainda não-evoluída. 

O estado de antítese, ou de encarnação do Ser, Gustave Geley nolo apresentou do seguinte modo: “Tudo ocorre como se cada existência terrestre, cada objectivação orgânica, ou, podemos dizer, cada encarnação, seria para a actividade do Ser uma limitação no espaço e nos meios; seria como uma sujeição a um trabalho limitado e especializado, a um esforço quase exclusivo, em uma única direcção.” 

Por último, a antítese, ou estado de encarnação do Ser é, como bem disse Geley, um processo de análise. É, acrescentava ele, a subdivisão da consciência em faculdades diversas e, do sentido único em sentidos múltiplos, para facilitar o seu exercício e promover o seu desenvolvimento. 

Como se verá, nesta limitação espiritual aparece o que se chama a etapa de antítese do Ser. Esta antítese consiste em não poder ele recordar o passado nem estender a visão além do físico e, ainda mais, em não dispor das faculdades metapsíquicas que o espírito possui em forma latente. Tudo isto corresponde ao que se chama antítese do Serdado que o mundo físico é como uma negação do mundo espiritual, receptáculo maravilhoso onde o indivíduo guarda todos os valores de sua evolução. 

Impulsionado o Ser pelo processo dialéctico, entrará no seu terceiro tempo: a sua existência de síntese. Esta síntese está baseada na dialéctica da desencarnação ou da morte; representa a reunião de todas as faculdades espirituais numa só; é o que se chama, na linguagem espírita, estado do Ser desencarnado. Este estado, disse Geley, constitui uma espécie de produto sintético dos elementos diversos das personalidades anteriores. Em resumo, a desencarnação é um processo de síntese, de síntese orgânica e de síntese psíquica do Ser. 

É nesta unidade, em que a tese e a antítese do indivíduo se transformam numa síntese, – que se opera na consciência por causa da desencarnação, – que o espírito se sente em toda a sua plenitude. Porque é nesta síntese que os valores humanos se convertem em valores divinos e onde se reconhece que a raiz de todos os fenómenos sociais e morais está no mundo espiritual. 

Nesta análise sobre os três tempos dialécticos do espírito, podemos notar a profundidade da dialéctica hegeliana, destacando-se, em compensação, à limitação ideológica do materialismo dialéctico, no que respeita ao homem, ao considerá-lo, como o faz o existencialismo ateu, um ser para a morte e para o nada eterno. Entretanto, o marxismo pretende refutar ideologicamente o pensamento existencialista, sem levar em conta que os seus princípios estão baseados, também, sobre nada do ser

Para a filosofia espírita, o processo histórico é produto da acção do espírito e não o resultado dos modos de produção; por conseguinte, ela não admite uma evolução exclusivamente material. Esta concepção é também sustentada pela lógica formal, na qual os seres e as coisas aparecem em estado imóvel e de repouso. Esta tese, porém, é inadmissível num tipo de materialismo considerado dialéctico, cuja doutrina sustenta que as coisas são e não são ao mesmo tempopela razão de que tudo está em perpétua transformação e que o movimento é que dá impulso aos fenómenos materiais. Sobre este ponto, convém fazer algumas reflexões. 

Se o movimento da matéria, de acordo com Georgi Plekanov, destacado expositor do materialismo dialéctico, é a base de todos os fenómenos da natureza e, se as moléculas da matéria em movimento, ao se unirem umas às outras, formam determinadas combinações, que são os seres e as coisas; se estas combinações se distinguem por uma solidez menor ou maior e, existem durante um tempo mais ou menos longo, desaparecendo finalmente, para serem substituídas por outras e, se o que é eterno é somente o movimento da matéria e a matéria em si como substância indestrutível, podemos formular as seguintes perguntas: Que maravilhoso demiurgo é a matéria, para possuir tantas propriedades e, o que é o movimento em si mesmo? 

Do ponto de vista espírita e metapsíquico, a matéria é uma objectivação que se traduz em movimento, mediante uma perimatériaa qual é a força que dá conformação e existência à matéria, mas nunca a matéria em si. O materialismo dialéctico, ao conceber o movimento como qualidade da matéria, admite a possibilidade de um princípio psíquico, já que o psíquico não é mais do que movimento, como o por ele atribuído à matéria. Daí que a filosofia espírita sustente que não podemos admitir nem o materialismo nem o espiritualismo puros. 

Foi Geley quem disse que tudo nos induz a crer que não há matéria sem inteligência, nem inteligência sem matéria. Esta é a razão pela qual o espiritismo pode oferecer um campo de reconhecimento entre o materialismo e o espiritualismo clássico. O mesmo Geley, para confirmar esta asserção, escreveu o seguinte: “Desde o momento em que, na teoria espírita, espírito, força e matéria estão sempre juntos e são inseparáveis; e que não podemos e não devemos supô-los com vida própria e isolados uns dos outros, a doutrina espírita pode ser desde logo admitida, tanto pelos que fazem da inteligência um produto da evolução avançada da matéria, como por aqueles que sustentam não ser a matéria nem mais nem menos do que uma manifestação do espírito.” A força, para Geley, nas duas hipóteses, constitui o princípio intermediário a que chamamos perimatéria. 

Pelo exposto, se deduz que a filosofia espírita pode ser aceite, no seu aspecto palingenésico, tanto pelo pensamento materialista como pelo espiritualista, desde que o espírito fosse a causa de um movimento ascendente do Universo. Em consequência, poder-se-ia dizer que o materialismo só é admissível na sua concepção mecanicista, mas nunca do ponto de vista materialista dialéctico, o qual se baseia na lei do movimento e na dinâmica do Universo, gérmen de uma possível entidade inteligente. 

/… 
(*) A. Thalheimer, Introdução ao Materialismo Dialéctico. 


Humberto MariottiO Homem e a Sociedade numa Nova Civilização, Do Materialismo Histórico a uma Dialéctica do Espírito, 1ª PARTE O NÚMENO ESPIRITUAL NOS FENÓMENOS SOCIAIS, Capítulo V – O Significado Espírita do Materialismo Dialéctico (II de III), 9º fragmento desta obra. 
(imagem de contextualização: Alrededores de la ciudad paranóico-crítica: tarde al borde de la historia europea | 1936, Salvador Dali)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

o Homem e a Sociedade numa nova Civilização ~ do Materialismo histórico a uma Dialéctica do espírito ~


Capítulo V

O SIGNIFICADO ESPÍRITA do Materialismo Dialéctico (i)


Nos tempos actuais, o materialismo dialéctico encontra-se no auge, devido a se considerar o seu método de conhecimento como o novo instrumento filosófico com o qual se pode interpretar a realidade histórica, e porque pode determinar uma transformação social que redunde num tipo de sociedade nova.

Segundo os seus princípios, o homem deixa de ser uma entidade que conduz a marcha dos fenómenos sociais, para converter-se numa máquina manejada pelas forças exteriores. Deste modo, a matéria é que tem preeminência sobre o espírito, convertendo-se o Ser numa representação fisioquímica. Esquecemos assim que o indivíduo possui uma realidade metapsíquica, que supera em todos os sentidos o seu mundo corporal.

Na dialéctica de Hegel, os fenómenos materiais são apenas objectivações da Ideia, e o mundo subjectivo desenvolve-se por uma lei de contradições que se opera através de uma tese, uma antítese e uma síntese. Penetrando na filosofia dialéctica de Hegel, compreenderemos, com assombro, que ela está baseada no mesmo processo da filosofia palingenésica do espiritismoGustave Geley, referindo-se a Hegel, disse:

“Na filosofia de Hegel encontram-se nitidamente as ideias de evolução e involução. O absoluto, que não é mais do que um ideal puro, sem realidade alguma, desenvolve-se para chegar à plena consciência de si mesmo. Isto origina a evolução, que Hegel chama o porvir. O desenvolvimento opera-se em três fases ou tempos: primeiro, estado de pura virtualidade, chamado por Hegel: tese; segundo, delimitação e divisão, isto é: a antítese; terceiro, desaparecimento das delimitações e a identificação dos contrários, numa síntese superior.

“Esta síntese, às vezes, converte-se logo no ponto de partida de um movimento análogo, que se repete até ao infinito. Tese, antítese e síntese reaparecem constantemente, em todos os momentos do desenvolvimento do Ser. Na sua evolução, o Ser realiza todos os progressos e chega, deste modo, à plena consciência de si mesmo. (*)

A exacta interpretação que Geley faz de Hegel leva-nos a supor um grande porvir para a função ideológica que desenvolverá a palingenesia dialéctica.

Hegel escreveu a sua Fenomenologia do Espírito afastando-se de todo o dogma. Geley, em plena actualidade, fez outro tanto com o seu extraordinário livro Do Inconsciente ao Consciente. Assim, para Geley, o Absoluto de Hegel se chama Dinamopsiquismo, e evolui do inconsciente ao consciente; de maneira que Espírito Absoluto do filósofo alemão e o Dinamopsiquismo do metapsiquista francês se nos apresentam como uma mesma entidade metafísica, cujas três fases de tese, antítese síntese da dialéctica concordam com a trilogia espírita de nascer, morrer renascer. Como poderemos ver, o nascimento corresponderia à tese, a morte à antítese e o renascimento à síntese.

Marx inverteu, como sabemos, o sentido original da dialéctica, acreditando demonstrar dessa maneira que o mundo material é que determina a realidade espiritual. Contudo, os fenómenos metapsíquicos dão razão à interpretação dialéctica de Hegel, demonstrando que por trás de todo o fenómeno material oculta-se um ser teleológico, que revela uma presença inteligente e espiritual. Os fenómenos de materialização e desmaterialização julgam o materialismo dialéctico de maneira terminante. Pois se o Espírito Absoluto de Hegel e o Dinamopsiquismo de Geley, em circunstâncias especiais, se materializam e desmaterializam, isso demonstra que a realidade material não é a que impulsiona o processo histórico, mas sim a Ideia ou realidade espiritual.

Chegamos assim à conclusão de que o determinismo histórico está movimentado por uma causalidade espiritual, cujo motor psíquico é a parte fundamental do Ser.

Tratamos, em seguida, de interpretar a lei materialista dialéctica de negação da negação, que, segundo a filosofia espírita, corresponde ao processo de evolução da involução.

Com efeito, quando o materialismo dialéctico afirma que as coisas são processos materiais, que se transformam e se desenvolvem, não faz outra coisa senão mostrar-nos um processo dialéctico espiritual, porque, se as coisas são processos, estes confirmam a tese palingenésica do Ser, quando nos explica que é um factor psíquico o determinante da evolução da involução (no materialismo dialéctico: negação da negação).

Mas antes de prosseguir, façamos algumas breves reflexões sobre esta teoria, chamada negação da negação pela filosofia Materialista dialéctica.

Para o espiritismo, é o conceito de negação que redunda na desordem, no caos, na morte e no nada. De maneira terminante, a negação não é mais do que a base ideológica do existencialismo ateu. Se tudo isto implica o conceito de negação o materialismo dialéctico nunca poderá falar de uma verdadeira negação de negação, por lhe faltar uma ideologia transcendental, que dê sentido e finalidade à existência e ao Universo.

A sua interpretação da história sempre se faz no conceito de negação, já que a sua própria ideologia é uma consequência da negação de toda a teleologia espiritual do homem e do mundo. Nenhuma ideia ou sistema que não aceite o espírito, como o expõe a filosofia espírita, poderá aspirar a uma posição verdadeira ao conceito de negação, visto que este não é mais do que um encontro com o nada. (**)

A negação é uma propriedade do Nada, e uma real negação da negação só poderá efectuar-se sobre o fundamento da vida eterna e da concepção de um homem infinito. Então, destruir negação nas coisas é trabalho do espiritualismo espírita, e não do materialismo dialéctico, assentado sobre a ideia do nada e da morte definitiva do indivíduo, isto é, sobre o conceito de negação, dentro do qual cabem todas as formas ideológicas que se opõem à vida e à evolução palingenésica.

Se, como afirma a dialéctica materialista, todas as coisas são processos, necessariamente a identidade e coesão das mesmas para que se mantenham, devem corresponder a um número psíquico, já que não pode; haver processo se não houver antes harmonia no formal. Consequentemente, a matéria, para estar submetida a processos, deve ser conduzida por algo, e esse algo não é mais do que o Espírito Absoluto de Hegel ou o Dinamopsiquismo de Geley.

O materialismo dialéctico silencia a este respeito. Não explica nada sobre esse factor essencial, que mantém o processo formal das coisas. E é aqui que a realidade do fenómeno metapsíquico se impõe, e por ele fica demonstrado que o Universo é o que Geley chama Dinamopsiquismo Essencial. É este facto que renova a filosofia idealista por meio do perispírito, órgão psíquico do espírito, através do qual o Absoluto de Hegel deixa de ser um puro ideal sem realidade alguma, como dizia Geley ao apreciar a dialéctica hegeliana.

Se todas as coisas são processos, como afirma o materialismo dialéctico, o próprio homem resultará um dinamopsiquismo individual, cuja natureza o revelará como um ser palingenésico. É aqui que se nos apresenta o processo dialéctico de tese, antítese sínteseconcordando admiravelmente com a trilogia espírita de nascer, morrer renascer, verdadeiro fundamento da negação da negação, ampliada pela tese palingenésica de evolução da involução.

/…
(*) Geley, Ensaio de Revista Geral e de Interpretação Sintética do Espiritismo.
(**) Título de um livro de Helmut Kuhn.


Humberto Mariotti (i)O Homem e a Sociedade numa Nova Civilização, Do Materialismo Histórico a uma Dialéctica do Espírito, 1ª PARTE O NÚMENO ESPIRITUAL NOS FENÓMENOS SOCIAIS, Capítulo V – O Significado Espírita do Materialismo Dialéctico 1 de 3, 8º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: Alrededores de la ciudad paranóico-crítica: tarde al borde de la historia europea | 1936, Salvador Dali)