Este ano faz precisamente trinta anos que desencarnou José Herculano Pires, um
dos maiores vultos do Espiritismo do Brasil. Sim, foi, precisamente, na noite
do dia 9 de Março de 1979, que a sua alma gloriosa de grande missionário, defensor
da pureza doutrinária do Espiritismo e consolidador da
Doutrina Espírita em terras brasileiras, regressou à Pátria Espiritual. Foi
com justa razão que Jorge Rizzini, o seu biógrafo, viu em sua pessoa um “Apóstolo
de Allan Kardec”, com o que concordamos plenamente.
José
Herculano Pires nasceu na antiga Província do Rio Novo, que é hoje a
bela cidade de Avaré, no interior do Estado de São Paulo, no dia 25 de Setembro
de 1914. Era o filho primogénito de José Pires Correa casado com Bonina Amaral
Simonetti Pires, que lhe deu sete filhos. O seu pai, inicialmente, era
farmacêutico, mas abandonou a profissão para se tornar um dos mais brilhantes
jornalistas do interior de São Paulo. A sua mãe foi uma distinta pianista de
Avaré.
Herculano Pires pertencia a uma tradicional família católica da classe média e,
na infância, teve sérios problemas de saúde.
A sua faculdade como médium vidente, começou a manifestar-se quando ele era
ainda menino. Tinha visões reais de Espíritos andando de noite pela casa.
Em 1920 a sua família transferiu-se para a cidade de Itaí e depois para
Cerqueira César, voltando, logo em seguida, para Avaré, onde foi matriculado na
Escola de Comércio, fundada e dirigida pelo Professor Jonas Alves de Almeida.
Na adolescência, Herculano Pires foi aprendiz de tipógrafo e aluno do erudito
Professor Pedro Solano de Abreu, e, durante dois anos, de 1927
a 1929, trabalhou com seu pai, na Gráfica Casa Ipiranga que o Sr. Pires
Correa fundara em Cerqueira César, onde residia com a família e onde lançou o
primeiro jornal político, um semanário em forma de tablóide, que recebeu o
título de “O Porvir”. Herculano Pires foi o seu tipógrafo auxiliar
e, nesse órgão da imprensa, publicou os seus primeiros versos e variados
contos.
Herculano Pires, além de poeta e jornalista, foi também professor e grande
escritor.
Desde a adolescência interessou-se muito pelo estudo de temas filosóficos.
Deixou então o Catolicismo e, por influência de um parente próximo, Sr.
Francisco Correa de Mello, tornou-se teosofista, passando a estudar a fundo os
principais livros dessa filosofia, principalmente os de Helena
Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica Mas, pouco depois veio a
desilusão, porque verificou que a Teosofia lhe apresentou certas explicações
que lhe pareciam absurdas.
Estava então propenso a se entregar ao Materialismo marxista,
quando, certo dia, em 1936, encontrando-se com um amigo, que era espírita e
fiel discípulo de Allan Kardec, foi por ele desafiado a ler “O Livro
dos Espíritos”. Muito a contragosto, aceitou o desafio. Leu e gostou.
Gostou tanto que se tornou espírita convicto, levado pelo raciocínio e
pela lógica indestrutível que encontrou no Missionário lionês, em quem o
astrónomo francês, Camille
Flammarion, viu o bom senso encarnado.
Para Herculano Pires, ser espírita “significa viver o Espiritismo; transformar
os princípios doutrinários em norma viva de conduta, para todos os
instantes da nossa curta existência na Terra; é praticar o
Espiritismo, não apenas no recinto dos Centros ou no convívio dos confrades,
mas, em toda a parte: na rua, no trabalho, no lar, na solidão dos próprios
pensamentos”.
Tornou-se conferencista eloquente e muito solicitado pelos presidentes de
centros espíritas. Num deles, situado na cidade de Ipauçu, encontrou, certa
vez, a bela jovem Maria Virgínia de Anhaia Ferraz, também espírita, por quem se
apaixonou e com quem veio a casar-se no dia 11 de Dezembro de 1938, numa
cerimónia apenas civil, em casa da noiva.
Herculano Pires foi um grande polemista, tendo mantido discussões acaloradas
com pastores protestantes e sacerdotes católicos e até mesmo com muitos
confrades espíritas defensores da obra “Os Quatro Evangelhos” de Jean-Baptiste Roustaing, publicada em Bordéus, em Maio de 1866. Ele não
era de cruzar os braços diante das mistificações e abusos praticados no
meio espírita, como acontece hoje.
Ao grande Mestre as nossas sinceras homenagens de admiração e respeito.
/...
Erasto de Carvalho Prestes, in O Franco
Paladino, Maio de 2009 / Órgão de divulgação do Espiritismo
codificado pelo Mestre Allan Kardec – Viva José Herculano Pires!,
1º fragmento solto da obra.
(imagem de contextualização: São
Luís com a coroa de espinhos, desenho de Alexandre
Cabanel)
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