sexta-feira, 23 de junho de 2017

o grande enigma ~


Deus e o Universo (V)

É a ti, ó Potência Suprema! Qualquer que seja o nome que te dêem e por mais imperfeitamente que sejas compreendida; é a ti, fonte eterna da vida, da beleza, da harmonia, que se elevam as nossas aspirações, a nossa confiança, o nosso amor.

Onde estás, em que céus profundos, misteriosos, tu te escondes? Quantas Almas acreditaram que bastaria, para te encontrar, o deixar a Terra! Mas tu te conservas invisível no mundo espiritual, quanto no mundo terrestre, invisível para aqueles que não adquiriram ainda a pureza suficiente para reflectir os teus divinos raios.

Tudo revela e manifesta, no entanto, a tua presença. Tudo quanto na Natureza e na Humanidade canta e celebra o amor, a beleza, a perfeição, tudo que vive e respira é mensagem de Deus. As forças grandiosas que animam o Universo e proclamam a realidade da Inteligência divina; ao lado delas, a majestade de Deus se manifesta na História, pela acção das grandes Almas que, semelhantes a vagas imensas, trazem às plagas terrestres todas as potências da obra da sabedoria e do amor.

E Deus está, assim, em cada um de nós, no templo vivo da consciência. É aquele o lugar sagrado, o santuário em que se encontra a divina centelha.

Homens! Aprendei a imergir em vós mesmos, a esquadrinhar os mais íntimos recônditos do vosso ser; interrogai-vos no silêncio e no retiro. E aprendereis a reconhecer-vos, a conhecer o poder escondido em vós. É ele que leva e faz resplandecer no fundo das vossas consciências as santas imagens do bem, da verdade, da justiça, e é honrando essas imagens divinas, rendendo-lhes um culto diário, que essa consciência, ainda obscura, se purifica e se ilumina.

Pouco a pouco, a luz se engrandece dentro de nós. De igual modo que gradualmente, de maneira insensível, as sombras dão lugar à luz do dia, assim a Alma se ilumina das irradiações desse foco que reside nela e faz desabrochar, no nosso pensamento e no nosso coração, formas sempre novas, sempre inesgotáveis de verdade e de beleza. E essa luz é também harmonia penetrante, voz que canta na alma do poeta, do escritor, do profeta, e os inspira e lhes dita as grandes e fortes obras, nas quais eles trabalham para elevação da Humanidade. Mas, sentem essas coisas apenas aqueles que, tendo dominado a matéria, se tornaram dignos dessa comunhão sublime, por esforços seculares, aqueles cujo senso íntimo se abriu às impressões profundas e conhece o sopro potente que atiça os clarões do génio, sopro que passa pelas frontes pensativas e faz estremecer os envoltórios humanos.

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Léon Denis, O Grande Enigma, Primeira parte Deus e o Universo, I O grande Enigma 5 de 5, 8º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: La Madonna de Port Lligat, detalhe | 1950, Salvador Dali)

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Saberes e o tempo ~

As famílias químicas ~

Procedendo à análise de todas as substâncias terrestres, chegaram os químicos a reconhecê-las devidas a inúmeras combinações de cerca (*) de 70 corpos simples, Isto é, de 70 elementos que se não puderam decompor. Fora, pois, de supor-se que há tantas matérias entre si diferentes, quantos corpos simples. Pura ilusão haveria aí, devido à nossa impotência para reduzir esses corpos a uma matéria uniforme, que então lhes seria a base. É o que pensavam Proust e Dumas, quando, no começo do século, procuravam descobrir, por meio da lei das proporções definidas, qual seria a substância única, isto é, aquela de que fossem múltiplos exactos os elementos dos corpos primários. Dumas chegou a mostrar que não é o hidrogénio, como então se acreditava, mas uma substância ainda desconhecida, cujo equivalente, em vez de ser a unidade, seria a metade desta: 0,5.

Os físicos partidários da teoria do éter – e hoje são todos – vão ainda mais longe do que os químicos. A matéria desconhecida, pela mesma razão de ter por equivalente 0,5, seria ponderável, até para os instrumentos de que o homem dispõe. Ora, o éter, que enche o Universo, é imponderável; donde se segue que a substância hipotética dos químicos, a ter por peso metade do hidrogénio, seria, quando muito, uma das primeiras condensações ou um dos primeiros agrupamentos do éter. Assim, pois, seria o éter, segundo os físicos, a matéria única constitutiva de todos os corpos.

“O estudo da luz e da electricidade – diz Angelo Secchi –, nos há levado a considerar infinitamente provável que e éter mais não é do que a própria matéria, chegada ao mais alto grau de tenuidade, a esse estado de rarefacção extrema a que se chama estado atómico. Consequentemente, todos os corpos seriam apenas agregados dos próprios átomos desse fluido.” (**)

Estas maneiras teóricas de ver se originam dos seguintes factos químicos:

1º) nos corpos simples existem verdadeiras famílias naturais;

2º) um grupo composto, cujos elementos se conheçam, pode desempenhar o papel de um corpo simples; um corpo dito simples pode ser decomposto;

3º) corpos formados exactamente dos mesmos elementos, reunidos estes, nas mesmas proporções, têm, entretanto, propriedades diferentes;

4º) a análise espectral revela a existência primitiva de uma só substância nas estrelas mais quentes, em geral o hidrogénio.

Examinemos rapidamente tão interessantes factos.

Se atentarmos nos diferentes corpos simples, convencer-nos-emos de que não são de ordem fundamental as suas divergências, visto que eles podem agrupar-se em séries de famílias naturais. Essa divisão, fundada em analogias manifestas que alguns deles apresentam, uns com relação aos outros, oferece uma vantagem que se não pode negar, porquanto, feito estudo profundo do corpo mais importante, a história dos outros, salvo questões de detalhes, se deduz naturalmente desse estudo. A semelhança na maneira de se comportarem mostra que essas matérias apresentam analogias de composição e, portanto, que elas não são tão dessemelhantes quanto pareciam à primeira vista.

Não lhes é peculiar a individualidade que apresentam os corpos simples. Há corpos compostos, como o cianogénio – formado pela combinação do carbono com o azoto –, que, nas reacções, desempenham o papel de um corpo simples. É claro que, se não houvesse podido separar os elementos constituintes do cianogénio, também ele houvera sido classificado entre os corpos simples. Aliás, com os métodos aperfeiçoados da ciência, tais como a análise espectral, já se pode saber que o ferro, por exemplo, é formado de elementos mais simples, embora ainda não se haja conseguido isolar estes últimos. Mas, o que não se conseguiu com relação ao ferro, William Crookes realizou com referência ao ítrio. Podemos, pois, prever próxima a época em que desaparecerá a demarcação entre os corpos simples. O mesmo poder de análise, que limitou a inumerável multidão das substâncias naturais, minerais, vegetais e animais, a alguns elementos apenas, certamente nos conduzirá à descoberta da matéria única de onde todas as outras derivam.

Os fenómenos da alotropia e da isomeria justificam essa expectativa.

/…
(*) Ainda não está definitivamente determinado o número dos corpos simples. Todos os dias, com efeito, se descobrem novos, principalmente no estado gasoso: o argónio, o metargónio, o criptónio, o zenónio, o neónio, etc.
(**) Unidade das forças físicas, pág. 604.


Gabriel Delanne, A Alma é Imortal, Terceira parte – O Espiritismo e a ciência Capítulo II O tempo, o espaço, a matéria primordial, O estado molecular – As famílias químicas, 7º fragmento da obra.
(imagem: Pitágoras, pormenor d'A escola de Atenas de Rafael Sanzio (1509)