quinta-feira, 16 de maio de 2019

as nossas forças não possuem limites ~


Alma humana…

Assim se desvenda o mistério da Psique, a alma humana, filha do céu, presa temporariamente na carne e que volta para a sua pátria de origem ao longo das milhares de mortes e renascimentos.

A tarefa é árdua e as subidas a escalar são difíceis; a espiral assustadora a ser percorrida se desenrola sem um término aparente; mas as nossas forças não possuem limites, pois podemos renová-las incessantemente pela vontade e pela comunhão universal.

E, depois, não estamos sozinhos para efectuar essa grande viagem. Não apenas nos reuniremos, cedo ou tarde, com os seres amados, os companheiros de nossas vidas passadas, aqueles que compartilharam as nossas alegrias e os nossos tormentos, mas também com os outros grandes seres, que também foram homens e que agora são espíritos celestes e permanecem a nosso lado nas passagens difíceis. Aqueles que nos ultrapassaram no caminho sagrado não se desinteressam da nossa sorte e, quando a tormenta maltrata a nossa estrada, as suas mãos caridosas sustentam a nossa caminhada.

Lenta e dolorosamente, amadurecemos para as tarefas cada vez mais elevadas; participamos mais da execução de um plano cuja majestade enche de uma admiração comovente aquele que nele entrevê as linhas imponentes. À medida que a nossa ascensão se acentua, maiores revelações nos são feitas, novas formas de actividade, novos sentidos psíquicos nascem em nós, coisas mais sublimes nos aparecem. O universo fluídico se mostra sempre mais vasto para o nosso desenvolvimento; ele se torna uma fonte inesgotável de alegrias espirituais.

Posteriormente, chega a hora em que, após as suas peregrinações pelos mundos, a alma, das regiões da vida superior, contempla o conjunto de suas existências, o longo cortejo dos sofrimentos por que passou. Esses sofrimentos são o preço da sua felicidade, essas provas redundaram todas em seu proveito, afinal ela o compreende. Então, mudam-se os papéis. De protegida passa a protectora; envolve com a sua influência os que lutam ainda nas terras do espaço, insufla-lhes os conselhos da própria experiência; sustenta-os na via árdua, nas sendas ásperas que ela própria percorreu.

Conseguirá a alma chegar um dia ao termo de sua viagem? Avançando pelo caminho traçado, ela vê sempre se abrirem novos campos de estudos e descobertas. Semelhantes à corrente de um rio, as águas da Ciência suprema descem para ela em torrente cada vez mais caudalosa. Chega a penetrar a santa harmonia das coisas, a compreender que não existe nenhuma discordância, nenhuma contradição no universo; que por toda a parte reinam a ordem, a sabedoria, a providência e, a sua confiança e o seu entusiasmo aumentam cada vez mais. Com amor maior ao Poder Supremo, ela saboreia de maneira mais intensa as felicidades da vida bem-aventurada.

Daí em diante está intimamente associada à obra divina; está preparada para desempenhar as missões que cabem às almas superiores, à hierarquia dos Espíritos que, por diversos títulos, governam e animam o Cosmos, porque essas almas são os agentes de Deus na obra eterna da Criação, são os livros maravilhosos em que Ele escreveu os seus mais belos mistérios, são como as correntes que vão levar às terras do espaço as forças e as radiações da Alma Infinita.

Deus conhece todas as almas, que formou com o seu pensamento e o seu amor. Sabe o grande partido que delas há de tirar mais tarde para a realização das suas vistas. A princípio, deixa-as percorrer vagarosamente as vias sinuosas, subir os sombrios desfiladeiros das vidas terrestres, acumular pouco a pouco em si os tesouros de paciência, de virtude, de saber, que se adquirem na escola do sofrimento. Mais tarde, enternecidas pelas chuvas e pelas rajadas da adversidade, amadurecida pelos raios do sol divino, saem da sombra dos tempos, da obscuridade das vidas inumeráveis e, eis que as suas faculdades desabrocham em feixes deslumbrantes; a sua inteligência revela-se em obras que são como que o reflexo do Génio Divino.

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LÉON DENIS, O Problema do Ser, do Destino e da Dor,  IX – Evolução e finalidade da alma, fragmento.
(imagem de contextualização: Head of Divine Vengeance, pintura de Pierre-Paul Prud'hon)