quarta-feira, 4 de novembro de 2020

O Espiritismo na Arte ~


Parte III 

Senso artístico. Constituição e evolução.  
(março de 1922)

Em que consiste o senso artístico? 

O estudo atento da alma nos mostra que tudo na natureza – os sons, os perfumes, os raios de luz, as cores – encontra em nós as suas correspondências, as suas analogias e, que as suas radiações se fundem e se harmonizam às profundezas do ser, na medida da nossa evolução. É isso o que constitui o senso artístico, a compreensão do belo sob todas as formas. 

A evolução desse senso íntimo, a faculdade de expressá-lo, desenvolvem-se nas almas de vidas em vidas e terminam por produzir o talento, o génio. Nos aspectos superiores da arte, o artista encontra a alta concepção da beleza eterna; ele compreende que a sua fonte única está em Deus. Do infinito, essa fonte se lança sobre todos os seres e os penetra de acordo com o seu grau de receptividade. 

Raios de luz e cores, sons e perfumes, estão ligados por um encadeamento, uma espécie de escala da qual cada nota representa uma soma particular de vibrações e que constituem, no seu conjunto, uma unidade perfeita. Se a ela se juntam as formas e as linhas, essa unidade se tornará a lei geral do belo e, a arte, nas suas múltiplas manifestações, terá por objectivo reproduzi-las. 

O estudo da arte e as suas realizações nos impregnam, pouco a pouco, de esplendores do Universo. Inicialmente insensível e inconsciente no homem primitivo, esse trabalho acaba consciente, acentua-se, revela-se sob formas crescentes para se tornar como que um reflexo da beleza suprema. 

Porém, na Terra, a arte ainda é apenas um balbucio. Nos outros mundos e, principalmente no espaço, dizem-nos os nossos guias, ela produz maravilhas perto das quais as mais belas obras humanas pareceriam muito pobres e quase infantis. Chegada a essas alturas, a arte torna-se a forma mais sublime do culto prestado à divindade

Até aqui o artista se inspirou nas coisas do mundo visível ou tangível; dele ouviu as vozes, as harmonias; estudou-lhe as formas, as cores e com elas conseguiu impregnar as suas obras. Assim, o artista criou uma comunhão mais íntima entre o homem e a natureza. Graças a ele, as coisas obscuras e mudas tomaram a alma e as suas vagas aspirações, as suas queixas, as suas dores encontraram expressões que, tornando-as mais vivas, as aproximavam de nós, ao mesmo tempo que a alma humana se tornava mais sensível ao contacto da vida exterior. 

Assim, a arte entregou à vida do globo o sentido profundo que lhe faltava. Por meio da arte, as forças cegas da natureza penetraram em nós e adquiriram como que um reflexo da nossa consciência e dos nossos sentimentos. A alma humana foi em direcção às coisas e a sua influência lhes deu um modo mais intenso de vida e de sensações; por intermédio dessa comunhão a alma da Terra se elevou ao conhecimento de si mesma, do seu papel e do seu grande destino. 

Agora, como se pode ver pelas lições de o Esteta, é todo um outro mundo que se abre, é toda uma vida ignorada que surge, mais rica, mais abundante, mais variada do que tudo o que conhecemos até aqui e, a arte vai encontrar nesse meio desconhecido de fontes inesgotáveis de inspiração e de poesia, formas insuspeitáveis do pensamento e da vida. 

Desde agora, o domínio da matéria subtil e dos fluidos foi aberto, revelando-se sob aspectos prestigiosos, oferecendo ao homem meios de estudo e de observação que se estendem ao infinito ao campo das suas pesquisas e dos seus conhecimentos científicos. As aparições de espíritos nos familiarizaram com todas essas formas de existência extraterrestre, desde as materializações mais densas e mais grosseiras, até às manifestações da mais ideal e mais radiosa vida. 

Nas nossas conversas regulares com os espíritos-guias, obtemos indicações sobre a vida no espaço, sobre a grandiosidade de formas e de cores, sobre as suas suaves e poderosas harmonias, que abrem ao músico, ao pintor, ao escultor, caminhos múltiplos e inexplorados. 

Aqueles que possuem faculdades medianímicas irão percebê-los directamente e, com eles, todos os recursos da arte serão enriquecidos. O vasto mundo dos espíritos torna-se acessível aos nossos sentidos, pelos espectáculos e ensinamentos que ele nos reserva. As forças intelectuais da humanidade serão centuplicadas e, o seu génio artístico criará obras que superarão tudo o que os séculos realizaram. 

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LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte III – Senso artístico: constituição e evolução, 10º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: A Virgem dos Rochedos Versão do Louvre (primeira versão) 1483–1486, detalhe (a mão da virgem por cima da mão do anjo Uriel), pintura de Leonardo da Vinci)