sexta-feira, 17 de julho de 2015

O Génio Céltico e o Mundo Invisível ~

O movimento pancéltico (III)

A França enviou, muitas vezes, ilustres representantes a essas assembleias. Ali compareceram, sucessivamente, os Srs. Henri Martin, Luzel, H. de la Villemarqué, de Blois, de Boisrouvray, Rio de Francheville e, mais recentemente, Le Braz, Le Goffic, etc. Em todos os lugares, as delegações francesas foram recebidas com grande honra e hospedadas em castelos ou em ricas casas burguesas. Quando elas desfilavam nas ruas das antigas cidades galesas ou na entrada das Assembleias, precedidas pelos seus tocadores de gaitas de foles, tocando a ária nacional galesa “Marcha dos homens de Harlech”, as multidões as ovacionavam. E, que contraste entre as delegações escocesas, compostas de pessoas de alta estatura, com as suas possantes gaitas de foles, e como, perto delas, as nossas gaitas de foles tinham fraca aparência!

A propósito dessa “Marcha dos homens de Harlech”, o Sr. Le Goffic lembra um facto histórico muito comovente. Na batalha de Saint-Cast, quando a armada inglesa desembarcava nas costas da Bretanha, uma companhia de fuzileiros galeses avançou ao encontro dos homens do Duque de Aiguillon, que defendiam o solo nacional. Das fileiras desses homens se elevou um canto no qual os galeses reconheceram o hino céltico e, de imediato, pararam hesitantes, admirados. O oficial inglês que os comandava interpelou-os rudemente, dizendo:

– Tendes medo?

– Não – responderam eles –, mas, pela ária que essa gente canta, reconhecemos que são homens de nossa raça. Nós também somos bretões.

música celta, de uma melancolia penetrante, é rica e variada; os seus hinos, as suas melodias, os seus cantos populares são muito antigos e o Sr. Le Goffic foi levado a crer que os grandes compositores alemães se inspiraram nessas músicas. É certo que Haendel morou durante muito tempo na Inglaterra e conheceu as melodias populares galesas e escocesas. Certos trechos de Haydn e de Mozart se assemelham, de muito perto, às árias antigas que datam de dois ou de há três séculos passados.

Essas Assembleias, pelo seu cerimonial, podiam parecer antiquadas e suscitar zombarias de certos críticos ignorantes, mas eis o que escreveu a esse respeito uma testemunha ocular:

“Aqueles que viram, no círculo de pedras sagradas, levantar-se o arquidruida, um velho embranquecido e alto, com peitoral de oiro maciço, com a cabeça cingida de folhas de carvalho bronzeado, e que ouviram a sua oração para a multidão, inclinada e descoberta, a oração solene do Gorsedd; aqueles que prestaram atenção especialmente à emoção religiosa dessa gente e ao enorme suspiro que a sacudia, quando o arauto desenrolava a lista fúnebre dos bardos mortos, e depois ao entusiasmo que se erguia e tudo iluminava – quando esse mesmo arauto entoava a ária nacional galesa “A terra dos antepassados”, repetida em uníssono por um formidável coro de vinte mil vozes –, esses não mais sorriram do espectáculo e compreenderam a magia poderosa, a fascinação misteriosa que ele continua a exercer sobre a alma impressionável dos galeses.”

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LÉON DENIS, O Génio Céltico e o Mundo Invisível, Primeira Parte OS PAÍSES CÉLTICOS, CAPÍTULO I – Origem dos celtas, Guerra dos gauleses, Decadência e queda, Longa noite; o despertar, O movimento pancéltico, 6º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: The Apotheosis of the French Heroes who Died for their Country During the War for Freedom_1802, pintura de Anne-Luis GIRODET-TRIOSON)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

teremos que modificar o nosso conceito da morte?

Estudos Científicos das Experiências de Quase Morte

A PERCEPÇÃO AMPLIFICADA DURANTE AS EQM

A paradoxal ocorrência de uma percepção muito intensamente lúcida e os processos de pensamento lógico disponíveis durante um período de circulação cerebral danificada coloca questões de especial perplexidade à compreensão actual da consciência e das suas relações com o funcionamento do cérebro.

Um elevado nível cognitivo, quer físico quer intelectual, e a complexidade de processos perceptivos durante o período de aparente morte clínica desafiam o conceito de que a consciência esteja localizada apenas no cérebro.

Parnia e outros (2001) e Parnia e Fenwick (2002) escreveram que os dados de vários estudos de EQM’s sugerem que essas experiências ocorrem com perda da consciência, o que é uma conclusão surpreendente, porque o cérebro está em estado de disfuncionalidade dado que o doente se encontra em coma profundo, as estruturas cerebrais, que sustentam a experiência subjectiva e a memória, devem encontrar-se severamente danificadas.

Experiências complexas tais como as que são descritas nas EQM não deveriam ter lugar, nem poderiam ser retidas na memória.

É de esperar que, tais doentes, não tivessem a capacidade de registar experiências subjectivas, como era o caso da grande maioria de sobreviventes a paragens cardíacas ou, na melhor das hipóteses, a estados de confusão no caso de falha de funções cerebrais.

O facto de que nas paragens cardíacas a perda de funções corticais precede a perda rápida da actividade do tronco encefálico constitui mais um reforço deste ponto de vista. Uma explicação alternativa seria de que as experiências em apreço tivessem aparecido durante a perda ou a recuperação da consciência.

A transição do estado consciente para o estado de inconsciência é rápida e afecta o sujeito de imediato. As experiências que acontecem durante a recuperação da consciência são confusas, o que não aconteceu nos casos em estudo. De facto, a memória é um indicador muito sensível de lesão cerebral e a extensão da amnésia anterior ou posterior à perda de consciência é uma indicação exacta quanto à severidade da lesão. Portanto não seria de esperar que acontecimentos sucedidos imediatamente antes ou depois da perda de consciência fossem nitidamente recordados.

A CONSCIÊNCIA NÍTIDA DURANTE A PARALISIA CEREBRAL?

Sem o aparecimento de outras teorias sobre as EQM’s, a noção assumida até aqui mas nunca provada cientificamente, de que a consciência e as memórias são produzidas por grande número de neurónios e se encontram localizadas no cérebro, deve ser colocada em discussão.

Como é possível que a consciência nítida relativa a factos ocorridos fora do corpo possa ser experimentada no momento em que o cérebro já não se encontra em funcionamento em período de morte clínica, mesmo com registo nulo de encefalograma (Sabom, 1998)?

Além disso, mesmo os doentes cegos descreveram percepções visuais durante as experiências fora do corpo durante EQM (Ring e Cooper, 1999).

O estudo científico das EQM leva ao limite as ideias médicas e neurofisiológicas acerca do alcance da consciência humana e das relações mente-cérebro.

ALGUNS ELEMENTOS DAS EQM

Antes de discutir com maior detalhe alguns aspectos neurofisiológicos do funcionamento do cérebro durante a paragem cardíaca, gostaria de reconsiderar certos elementos da EQM.

EXPERIÊNCIA FORA-DO-CORPO E MANUTENÇÃO DA IDENTIDADE

Nesta experiência as pessoas têm percepções reais de uma posição fora e por cima do seu corpo inerte.

Os protagonistas de EQM têm a sensação de terem largado o seu corpo como um casaco velho e, surpreendidos, verificam que mantém a sua própria identidade e a possibilidade preceptiva, as emoções e uma consciência nítida.

Esta experiência fora-do-corpo é cientificamente importante porque os médicos, enfermeiras e os parentes do doente podem conferir as declarações que ele relata, corroborando o preciso momento em que a EQM ou a experiência fora-do-corpo ocorreram – durante o período de ressuscitação cardiopulmonar (RCP).

Isto provará que uma tal experiência não pode ser uma alucinação, porque não ocorre com base na “realidade”, nem pode ser uma ilusão, por esta ser um juízo incorrecto de uma percepção correcta.

Teria a EQM de ser considerada uma espécie de percepção extrassensorial?

Este é o relato de uma enfermeira de uma Unidade de Cuidados Coronários (Van Lommel e outros, 2001):

“Durante um serviço nocturno chegou à Unidade de Cuidados Intensivos Coronários uma ambulância com um doente em coma, com cianose. Tinha sido encontrado num prado, há meia hora, em coma. Quando começámos a entubar o paciente reparámos que usava dentadura. Tirei-lha, tendo-a colocado no carrinho de apoio médico. Uma hora e meia depois o doente tinha recuperado o ritmo cardíaco e a pressão sanguínea, mas continuava entubado, ventilado e em estado de coma. Foi transferido para a unidade de cuidados intensivos para prosseguir em respiração artificial. Só mais de uma semana depois me encontrei novamente com o doente, agora já na enfermaria da cardiologia. No momento em que me viu disse: “Oh, aquela enfermeira sabe onde estão os meus dentes”. Fiquei surpreendidíssima e ele explicou: “Você estava lá quando eu fui trazido para o hospital, tirou-me a dentadura da boca e pô-la no carrinho com todos aqueles frascos em cima e arrumou depois os meus dentes na gaveta abaixo”.

Fiquei especialmente admirada porque me lembro de isso ter sucedido durante a altura em que ele estava em coma profundo e a ser sujeito à ressuscitação cardiorrespiratória (RCP). Parece que o doente se viu a si próprio deitado na cama e, olhando de cima, pôde observar as enfermeiras e os médicos atarefados com o processo da RCP. Também foi capaz de descrever com exactidão e pormenor a pequena sala onde fora ressuscitado e a aparência dos que ali estavam, incluindo eu mesma. Está profundamente impressionado pela experiência pela qual passou e já não tem medo da morte.”

A REVISÃO DA VIDA A TRÊS DIMENSÕES

Durante o episódio assim designado o sujeito sente presencialmente e revive, não apenas todos os actos como também todos os pensamentos da sua vida passada, analisando a interinfluência que estes operaram relativamente a si mesmo e a terceiras pessoas. Todas as acções tidas e pensamentos havidos parecem ter significado e estão devidamente memorizados.

Porque cada um dos protagonistas de EQM está ligado às memórias, emoções e dados da consciência de terceiras pessoas, por isso toma consciência dos próprios pensamentos, palavras e acções tidos para com elas no momento exacto em que ocorreram. Daqui a existência, durante a revisão de vida, de uma ligação com os campos da consciência de outras pessoas bem como com os seus próprios campos de consciência (interligação).

Os doentes analisam toda a sua vida rapidamente; o tempo e o espaço parecem não existir durante uma tal experiência. Instantaneamente encontram-se no local onde estiverem a pensar (“não localidade” – “non-locality”), e podem falar durante horas acerca do conteúdo da revisão de vida muito embora a ressuscitação possa ter durado apenas minutos. (Van Lommel, 2004).

Toda a minha vida até ao presente se me deparou numa revisão como que panorâmica, a três dimensões, e cada evento foi acompanhado pela consciência do bem e do mal ou com uma análise de causa e efeito. Não somente me foi dado entender o meu ponto de vista, mas também o sentir de todas as outras pessoas envolvidas, como se tivesse dentro de mim todos os seus pensamentos. Isto significa que entendi não apenas o que tinha feito e pensado, mas também de que modo tinha influenciado outros, como se me fosse dada visão em todas as direcções. Deste modo nem os vossos pensamentos são apagados. E sempre, durante toda a revisão, foi acentuada a importância do amor. Recapitulando, não sei qual foi a duração dessa revisão e da análise de vida, que pode ter sido longa dado que tudo foi mostrado, mas ao mesmo tempo parece ter durado apenas uma fracção de segundo, dado que vivenciei tudo no mesmo momento. O tempo e o espaço parece não terem existido. Tudo se passava em todos os lugares e ao mesmo tempo, e por vezes a minha atenção era chamada para qualquer coisa, e lá estava eu presente.

ENCONTROS COM PARENTES FALECIDOS; TRANSMISSÃO DE PENSAMENTO; PREVISÕES; INTERLIGAÇÃO

Se houver encontros numa dimensão de outro mundo com parentes falecidos, eles são reconhecíveis pela sua aparência, sendo a comunicação feita por transmissões de pensamento. Também pode ser experimentada uma previsão, na qual tanto futuras imagens da vida pessoal como imagens mais gerais do futuro podem ocorrer.

De novo é como se o tempo e o espaço não existissem durante a previsão. Assim, durante as EQM também é possível efectuar contactos com os campos de consciência de parentes falecidos (interligação).

Por vezes são encontradas pessoas cuja morte era impossível ter-se conhecido; Algumas vezes pessoas desconhecidas são encontradas durante a EQM.

REGRESSO AO CORPO

Alguns doentes conseguem descrever como regressaram ao seu corpo, a maior parte pelo topo da cabeça, depois de terem sido informados “que não era ainda a sua altura” ou que “tinham ainda tarefas por cumprir”. O regresso consciente ao corpo é sentido como algo muito opressivo. Recuperam os sentidos dentro do seu corpo e é como se se sentissem “aprisionados” no seu corpo danificado, significando isso toda a dor e as restrições da sua enfermidade.

TRANSFORMAÇÕES DA PERSONALIDADE CAUSADAS PELA EQM

Praticamente a totalidade das pessoas que tiveram uma EQM perderam o medo da morte. Isso deve-se à convicção de que há uma continuidade para a consciência, que retém todos os pensamentos e factos vividos, mesmo quando se é considerado morto por quem está a ver ou mesmo por médicos. Você está separado do corpo sem vida, mantendo a sua identidade e a clara consciência com dotes perceptivos. Parece mesmo que somos mais do que apenas um corpo.

Todos estes elementos da EQM foram apercebidos durante o período de paragem cardíaca, durante o período de inconsciência aparente, durante o período de morte clínica!

Como é que será possível explicar todas estas vivências durante o período de perda temporária de todas as funções do cérebro devido a isquémia pancerebral?

Sabemos que as vítimas de paragem cardíaca perdem a consciência ao fim de segundos. Como é que sabemos se o seu eletrencefalograma é plano, e como poderemos estudar tal coisa?

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Dr. Pim van LommelAs Experiências de Quase-Morte, A Consciência e o Cérebro Estudos Científicos das Experiências de Quase Morte; A Percepção Amplificada durante As EQM, A Consciência Nítida durante a Parelisia Cerebral? Alguns Elementos das EQM; Experiência Fora do-Corpo e Manutenção da Identidade, A Revisão da Vida a Três Dimensões, Encontros com Parentes Falecidos; Transmissão de Pensamento; Previsões; Interligações, Regresso ao Corpo, Transformações da Personalidade Causadas Pela EQM (3º fragmento) tradução para a língua portuguesa de palavra luz depois de autorizada pelo autor.
(imagem de contextualização: O Hospital Rijnstate, em Arnhem – Holanda)