O
movimento pancéltico (III)
A França enviou, muitas vezes, ilustres representantes a
essas assembleias. Ali compareceram, sucessivamente, os Srs. Henri Martin,
Luzel, H. de la Villemarqué, de Blois, de Boisrouvray, Rio de Francheville
e, mais recentemente, Le Braz, Le Goffic, etc. Em todos os lugares, as
delegações francesas foram recebidas com grande honra e hospedadas em castelos
ou em ricas casas burguesas. Quando elas desfilavam nas ruas das antigas
cidades galesas ou na entrada das Assembleias, precedidas pelos seus tocadores de
gaitas de foles, tocando a ária nacional galesa “Marcha dos homens de Harlech”,
as multidões as ovacionavam. E, que contraste entre as delegações escocesas,
compostas de pessoas de alta estatura, com as suas possantes gaitas de foles, e
como, perto delas, as nossas gaitas de foles tinham fraca aparência!
A propósito dessa “Marcha dos homens de Harlech”, o Sr. Le Goffic lembra
um facto histórico muito comovente. Na batalha de Saint-Cast, quando a armada
inglesa desembarcava nas costas da Bretanha, uma companhia de fuzileiros
galeses avançou ao encontro dos homens do Duque
de Aiguillon, que defendiam o solo nacional. Das fileiras desses homens se
elevou um canto no qual os galeses reconheceram o hino céltico e, de imediato,
pararam hesitantes, admirados. O oficial inglês que os comandava interpelou-os
rudemente, dizendo:
– Tendes medo?
– Não – responderam eles –, mas, pela ária que
essa gente canta, reconhecemos que são homens de nossa raça. Nós também somos
bretões.
A música celta, de uma
melancolia penetrante, é rica e variada; os seus hinos, as suas melodias, os
seus cantos populares são muito antigos e o Sr. Le Goffic foi levado a crer que
os grandes compositores alemães se inspiraram nessas músicas. É certo que
Haendel morou durante muito tempo na Inglaterra e conheceu as melodias
populares galesas e escocesas. Certos trechos de Haydn e de Mozart se
assemelham, de muito perto, às árias antigas que datam de dois ou de há três
séculos passados.
Essas Assembleias, pelo seu cerimonial, podiam parecer
antiquadas e suscitar zombarias de certos críticos ignorantes, mas eis o que
escreveu a esse respeito uma testemunha ocular:
“Aqueles que viram, no círculo de pedras sagradas,
levantar-se o arquidruida, um velho embranquecido e alto, com
peitoral de oiro maciço, com a cabeça cingida de folhas de carvalho bronzeado,
e que ouviram a sua oração para a multidão, inclinada e descoberta, a oração
solene do Gorsedd; aqueles que prestaram atenção especialmente à emoção
religiosa dessa gente e ao enorme suspiro que a sacudia, quando o arauto
desenrolava a lista fúnebre dos bardos mortos, e depois ao entusiasmo que se
erguia e tudo iluminava – quando esse mesmo arauto entoava a ária nacional
galesa “A terra dos antepassados”, repetida em uníssono por um formidável coro
de vinte mil vozes –, esses não mais sorriram do espectáculo e compreenderam a
magia poderosa, a fascinação misteriosa que ele continua a exercer sobre a alma
impressionável dos galeses.”
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LÉON DENIS, O Génio Céltico e o Mundo Invisível,
Primeira Parte OS PAÍSES CÉLTICOS, CAPÍTULO I – Origem dos celtas, Guerra dos
gauleses, Decadência e queda, Longa noite; o despertar, O movimento pancéltico, 6º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: The Apotheosis of the French Heroes who Died for their Country During the War for Freedom_1802, pintura de Anne-Luis GIRODET-TRIOSON)
(imagem de contextualização: The Apotheosis of the French Heroes who Died for their Country During the War for Freedom_1802, pintura de Anne-Luis GIRODET-TRIOSON)
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