As forças ideoplásticas ~
A primeira dessas categorias é de todos familiar e por isso me limitarei a
aflorá-la concisamente.
Refiro-me às provas de natureza indutiva, que as experiências de
sugestão hipnótica podem fornecer em prol da hipótese de um pensamento
objectivável.
Apenas, para bem elucidar o assunto, suponho necessário precedê-lo de algumas
noções gerais, quanto à significação que devemos ligar ao vocábulo imagens do
ponto de vista psicológico.
Denominamos ideia ou imagem, à lembrança de uma ou
de muitas sensações, simples ou associadas.
Todo e qualquer pensamento não é mais que um fenómeno de memória,
que se resume no despertar ou no reproduzir de uma sensação anteriormente
percebida.
Existem tantos agregados de imagens, quanto os sentidos que possuímos.
Assim, temos grupos de imagens visuais, auditivas, tácteis, olfactivas,
gustativas, motrizes etc.
Aí temos imagens que, ao mesmo tempo que as sensações, constituem a matéria
prima de todas as operações intelectuais.
Memória, raciocínio, imaginação são fenómenos psíquicos que, em última análise,
consistem em agrupar e coordenar imagens, em lhes apreender as conexões
constituídas, a fim de as retocar e agrupar em novas correlações,
mais ou menos originais ou complexas, segundo a maior ou menor potência intelectual
dos indivíduos.
Taine disse:
“Assim como o corpo é um polipeiro de células, assim o espírito é um polipeiro de imagens.”
Pensava-se outrora que as ideias não tinham correlativo fisiológico, isto é,
que um substrato físico não lhes fora necessário para manifestarem-se no meio
físico. Hoje, pelo contrário, está provado que as ideias ocupam no cérebro as
mesmas localizações das sensações.
Noutros termos: está provado não ser o pensamento senão uma sensação
renascente de modo espontâneo e que, portanto, ele – o pensamento – é
de natureza mais simples e mais fraca que a impressão primitiva, ainda que
capaz de adquirir, em condições especiais, uma intensidade suficiente para
provocar a ilusão objectiva daquilo com que sonhamos.
Mas, o pensamento não é unicamente a ressurreição de sensações anteriores: a
faculdade imaginativa domina no homem; é graças a ela que as imagens se
combinam entre si, a fim de criarem outras imagens. Por aí se
prova existir na inteligência uma iniciativa individual própria, assim como
relativa liberdade em face dos resultados da experiência; e isto devido a duas
outras faculdades, superiores, da inteligência: abstracção e comparação.
Segue-se que a imaginação, a abstracção e a comparação dominam as
manifestações do espírito, delas decorrendo todos os inventos e
descobertas, inspirações e criações do génio.
Posto isto, notarei que um primeiro índice da natureza objectivável das imagens se
depara na maneira como se comportam elas nas manifestações do
pensamento.
Subentendido fica que nos estribamos nos conhecimentos novos sobre o assunto,
os quais levam a modificar o ponto de vista até agora mantido, quanto aos modos
funcionais da inteligência.
Sem esses conhecimentos, oriundos das
investigações metapsíquicas, não poderíamos, certamente, atribuir aos
diversos modismos funcionais, que realizam as imagens, tanto em vigília como no
sono natural, a significação que, entretanto, de direito lhe conferimos.
/…
Ernesto Bozzano, Pensamento
e Vontade – As forças ideoplásticas, 2 de 2, 2º fragmento
da obra.
(imagem de ilustração: A Female Saint_1941,
pintura de Edgar
Maxence)
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