terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

pensamento e vontade ~

As forças ideoplásticas ~

A primeira dessas categorias é de todos familiar e por isso me limitarei a aflorá-la concisamente.

Refiro-me às provas de natureza indutiva, que as experiências de sugestão hipnótica podem fornecer em prol da hipótese de um pensamento objectivável.

Apenas, para bem elucidar o assunto, suponho necessário precedê-lo de algumas noções gerais, quanto à significação que devemos ligar ao vocábulo imagens do ponto de vista psicológico.

Denominamos ideia ou imagem, à lembrança de uma ou de muitas sensações, simples ou associadas.

Todo e qualquer pensamento não é mais que um fenómeno de memória, que se resume no despertar ou no reproduzir de uma sensação anteriormente percebida.

Existem tantos agregados de imagens, quanto os sentidos que possuímos.

Assim, temos grupos de imagens visuais, auditivas, tácteis, olfactivas, gustativas, motrizes etc.

Aí temos imagens que, ao mesmo tempo que as sensações, constituem a matéria prima de todas as operações intelectuais.

Memória, raciocínio, imaginação são fenómenos psíquicos que, em última análise, consistem em agrupar e coordenar imagens, em lhes apreender as conexões constituídas, a fim de as retocar e agrupar em novas correlações, mais ou menos originais ou complexas, segundo a maior ou menor potência intelectual dos indivíduos.

Taine disse:

“Assim como o corpo é um polipeiro de células, assim o espírito é um polipeiro de imagens.”

Pensava-se outrora que as ideias não tinham correlativo fisiológico, isto é, que um substrato físico não lhes fora necessário para manifestarem-se no meio físico. Hoje, pelo contrário, está provado que as ideias ocupam no cérebro as mesmas localizações das sensações.

Noutros termos: está provado não ser o pensamento senão uma sensação renascente de modo espontâneo e que, portanto, ele – o pensamento – é de natureza mais simples e mais fraca que a impressão primitiva, ainda que capaz de adquirir, em condições especiais, uma intensidade suficiente para provocar a ilusão objectiva daquilo com que sonhamos.

Mas, o pensamento não é unicamente a ressurreição de sensações anteriores: a faculdade imaginativa domina no homem; é graças a ela que as imagens se combinam entre si, a fim de criarem outras imagens. Por aí se prova existir na inteligência uma iniciativa individual própria, assim como relativa liberdade em face dos resultados da experiência; e isto devido a duas outras faculdades, superiores, da inteligência: abstracção e comparação.

Segue-se que a imaginação, a abstracção e a comparação dominam as manifestações do espírito, delas decorrendo todos os inventos e descobertas, inspirações e criações do génio.

Posto isto, notarei que um primeiro índice da natureza objectivável das imagens se depara na maneira como se comportam elas nas manifestações do pensamento.

Subentendido fica que nos estribamos nos conhecimentos novos sobre o assunto, os quais levam a modificar o ponto de vista até agora mantido, quanto aos modos funcionais da inteligência.

Sem esses conhecimentos, oriundos das investigações metapsíquicas, não poderíamos, certamente, atribuir aos diversos modismos funcionais, que realizam as imagens, tanto em vigília como no sono natural, a significação que, entretanto, de direito lhe conferimos.

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Ernesto BozzanoPensamento e Vontade – As forças ideoplásticas, 2 de 2, 2º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: A Female Saint_1941, pintura de Edgar Maxence)

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