Se a questão do homem espiritual permaneceu até hoje no
estado de teoria, foi porque faltaram os meios de observação directa que tivemos para constatarmos o estado do mundo material e o campo ficou aberto
às concepções do espírito humano.
Enquanto o homem não conheceu as leis que regem a matéria e
não pôde aplicar o método experimental, errou de teoria em teoria
sobre o mecanismo do Universo e da formação da Terra.
Passou-se na ordem moral como na ordem física; para fixar as
ideias, faltou o elemento essencial: o conhecimento das leis do princípio
espiritual. Este conhecimento estava reservado à nossa época, assim como o
das leis da matéria foi obra dos dois últimos séculos.
Até hoje, o estudo do princípio espiritual, compreendido na
metafísica, tinha sido puramente especulativo e teórico; no Espiritismo é
sobretudo experimental. Com a ajuda da faculdade mediúnica, hoje mais
desenvolvida e sobretudo generalizada e mais bem estudada, o homem encontrou-se
na posse de um novo instrumento de observação. A capacidade mediúnica foi,
para o mundo espiritual, o que o telescópio foi para o mundo astral e o
microscópio para o mundo dos infinitamente pequenos; permitiu explorar,
estudar, por assim dizer de visu, as suas relações com o mundo
corporal; isolar no homem vivo o ser inteligente do ser
material e vê-los agir separadamente. Uma vez em relação com os habitantes
deste mundo, podemos acompanhar a alma na sua marcha ascendente, nas suas
migrações, nas suas transformações; pudemos enfim estudar o elemento
espiritual. Eis o que faltava aos anteriores comentadores do Génesis para o
compreenderem e lhe corrigirem os erros.
Estando o mundo espiritual e o mundo material em contacto
constante, são solidários um com o outro; ambos têm a sua acção na
Génese. Sem o conhecimento das leis que regem o primeiro, seria tão
impossível continuar uma Génese completa, como a um estatuário dar vida a uma
estátua. Só hoje, apesar de nem a ciência material nem a ciência
espiritual terem dito a última palavra, o homem possui os dois elementos
necessários para fazer luz sobre este imenso problema. Eram absolutamente
necessárias estas duas chaves para se chegar a uma solução,
mesmo que aproximada.
/…
ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o
Espiritismo – Capítulo IV, PAPEL DA CIÊNCIA NA GÉNESE números de 15
a 17, tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida.
(imagem de ilustração: A Criação de Adão, detalhe
do tecto da Capela
Sistina, por Michelangelo)
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