as normas de Kardec ~
Mas o desenvolvimento dos princípios espíritas não pode ser feito de maneira
arbitrária, pois no campo do conhecimento há leis de lógica e de
logística que regem o processo cultural.
Kardec estabeleceu
as normas que temos de observar para não cairmos nos enganos e nas ilusões tão
comuns à nossa precipitação. Essas normas, elas mesmas, estão hoje a ser
acrescidas de meios novos de verificação da realidade através da Ciência e da
Filosofia. O bom senso, como ensinou Allan Kardec, é o fio-de-prumo que
nos garante a construção de um conhecimento mais amplo e mais rico, mas ao
mesmo tempo mais preciso.
Usar do bom senso é o primeiro preceito da normativa de Kardec. Examinar
com rigor a linguagem dos Espíritos comunicantes, submetê-los a testes de
bom senso e conhecimento, verificar a relação de realidade dos conceitos por
eles enunciados (relação do seu pensamento com os factos, as coisas e os
seres), enquadrar os seus ensinos e revelações no contexto cultural da época,
verificando o alcance abusivo ou não das afirmações mais audaciosas – eis os
elementos que temos de observar no trato da mediunidade, se não quisermos
cair em situações difíceis, a que fatalmente nos levariam espíritos imaginosos
ou pseudo-sábios. E ao lado disso submeter tudo quanto possível à
comprovação experimental, à pesquisa.
Bem sabemos que tudo isso requer espírito metódico, um fundo básico de
conhecimentos gerais, capacidade normal de discernimento, superação da
curiosidade doentia, controle rigoroso da ambição e da vaidade, equilíbrio
do raciocínio, maturidade intelectual, critério científico de observação e
pesquisa e firme decisão de não se deixar levar pelas aparências, aprofundando
sempre o exame de todos os aspectos dos problemas e das circunstâncias. Sim,
tudo isso é difícil, mas sem isso não faremos ciência e sem ciência não
teremos Espiritismo. Se
alguém notar que não dispõe dessas qualidades deve reconhecer-se inábil para a
investigação espírita. É melhor aceitar com humildade as próprias limitações do
que aventurar-se a realizações impossíveis.
/…
José Herculano Pires – A Pedra e o Joio, Crítica à Teoria
Corpuscular do Espírito, As normas de Kardec, 3º fragmento.
(imagem de ilustração: As Colhedoras de Grãos,
pintura a óleo por Jean-François
Millet)
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