domingo, 16 de março de 2014

O Mundo Invisível e a Guerra ~

II – Cenas do Espaço. Visões Reais da Guerra e da Epopeia

|Janeiro de 1915|

Eles se encontram ali, pairando sobre a enorme frente de batalha que vai das praias nevoentas aos picos dos Vosges, até às planícies da Alsácia. Estão ali os espíritos de todos quantos, no decorrer dos séculos e em todos os sectores, principalmente no militar, contribuíram para abrilhantar a França, para construir a sua glória imortal. Eles apoiam, arrastam e inspiram os nossos soldados e os seus comandantes.

Faz quatro meses que os combatentes, semi-enterrados, ocultos nos acidentes do chão, cercados de redes de arame, continuam uma guerra de destruição e astúcia onde se apura a paciência e a coragem se esgota lentamente.

Outrora a guerra possuía a sua trágica beleza, a sua grandeza. Lutava-se a peito descoberto, de cabeça erguida e com bandeiras desfraldadas. Hoje existem apenas ciladas, maquinações e covardias.

Em toda a parte, nos trabalhos da paz como nos da guerra, os alemães desnaturaram, amesquinharam e aviltaram tudo quanto foi nobre. A traição, a perfídia e a falsidade são os seus princípios rotineiros.

Os génios do mal, os espíritos inferiores de homicídio e de rapina dos tempos medievais estão entre eles, reencarnados nas suas fileiras ou invisíveis, participando dos seus combates.

Se eles triunfassem, a Europa ficaria escravizada, os fracos esmagados e os vencidos espoliados. Seria um retorno da humanidade aos tempos bárbaros.

Os nobres espíritos que zelam pelos nossos exércitos conheceram lutas mais nobres, mais generosas, e por isso surpreendem-se com essas tácticas e se afligem com esses procedimentos. Há ocasiões em que, vendo infrutíferos tantos esforços, sentem-se invadir pela hesitação e pela inquietude, perguntando, angustiados, qual será o fim dessa terrível luta.

Quanto sangue e lágrimas! Quantos jovens heróis sucumbidos! Quantos despojos humanos jazem sobre a terra! O nosso país verá aniquilar-se toda a sua força, toda a sua vitalidade?

Aí então aparece, do alto do espaço infinito, um novo espírito, e ao vê-lo todos se agitam e se comovem: é uma mulher, e uma auréola lhe cinge a fronte; o entusiasmo e a fé lhe animam o rosto.

Assim que ela aparece, um tremor perpassa por essas legiões de invisíveis. E um nome passa de boca em boca: Joana d’Arc!

É a filha de Deus, a virgem das lutas!

Ela vem revigorar as energias adormecidas, a coragem abalada. Desde o início da luta ela se mantinha afastada, entre as suas irmãs celestes, num grupo de seres graciosos e encantadores, seres angélicos, cujo comando Deus lhe confiou após o martírio.

A sua missão consiste em aplacar os sofrimentos humanos, diminuir as dores morais, pairando sobre as almas que suportam as suas provas.

A hora, porém, soou. Ao ter ciência dos males que devastam a pátria, essa França tão querida pela qual sacrificou a sua existência, o coração da Virgem Lorena se sentiu turbado, apossando-se dela o desejo ardente de nos socorrer, e então ela cede a esse desejo.

Na hora da partida, as suas irmãs, companheiras do espaço, inclinam-se ante aquela que veneram, dizendo:

“Faremos preces pelo triunfo de vossas armas, filha amada de Deus”.

Assim, pois, Joana acode e em seu derredor se congregam, prestativos, os espíritos heróicos, protectores da França, para saudá-la e acompanhá-la.

Na sua simplicidade, ela lhes diz:

Como nos séculos passados, senti a irresistível vontade de me juntar aos que estão lutando pela salvação da pátria. Aceitam-me em suas fileiras?”

Todos, num só entusiasmo, exclamaram:

“Ponha-se à nossa frente e marcharemos sob as suas ordens!”

/...



LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, II – Cenas do Espaço, Visões Reais da Guerra e da Epopeia, 1 de 3, 3º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: Tanque de guerra britânico capturado pelos Alemães, durante a Primeira Guerra Mundial)

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