Sinais dos tempos | Se a Terra já não precisa de recear
cataclismos gerais, não deixa por isso de estar submetida a revoluções
periódicas cujas causas estão explicadas, do ponto de vista científico, nas
instruções seguintes dadas por dois espíritos eminentes. (*)
«Cada corpo celeste, além das leis simples que presidem à divisão dos dias e
das noites, das estações, etc. sofre revoluções que exigem milhares de séculos
para a sua perfeita realização mas que, tal como
as revoluções mais breves, passam por todos os períodos desde o nascimento
até ao limite máximo, para recomeçar de seguida a percorrer as mesmas fases.
»O homem só abarca as fases de duração relativamente curta e de que pode
constatar a periodicidade; mas há os que incluem longas gerações de seres e até
mesmo sucessões de raças, cujos efeitos, por consequência, têm para ele os
aspectos da novidade e da espontaneidade enquanto, se o seu olhar se pudesse
transportar a alguns milhares de séculos atrás, veria entre esses mesmos
efeitos e as suas causas, uma correlação de que nem sequer suspeita. Estes
períodos, que confundem a imaginação dos humanos pela sua relativa extensão,
não passam no entanto de momentos na duração eterna.
»Num mesmo sistema planetário, todos os corpos que dele dependem reagem uns
sobre os outros devido à aproximação ou afastamento que resulta do seu
movimento de translação através das miríades de sistemas que compõem a nossa
nebulosa. Vou mais longe ainda: digo que a nossa nebulosa, que é como um
arquipélago na imensidão, tendo também o seu movimento de translação através
das miríades de nebulosas, sofre a influência daquelas de que
se aproxima.
»Assim, as nebulosas actuam sobre as nebulosas, os sistemas
actuam sobre os sistemas, como os planetas actuam uns sobre os outros e
assim de aproximação em aproximação até ao átomo; daí, em cada
mundo, as revoluções locais ou gerais que só parecem perturbações porque a
brevidade da vida não permite que se obtenha delas mais do que efeitos
parciais.
»A matéria orgânica não poderia escapar a estas influências;
as perturbações que sofre podem portanto alterar o estado físico dos seres
vivos e determinar algumas dessas doenças que, de uma maneira geral, danificam
as plantas, os animais e os homens; estas doenças, como todos os flagelos, são
para a inteligência humana um estimulante que a impele, pela
necessidade, para a busca dos meios de as combater e para a descoberta das
leis da natureza.
»Mas a matéria orgânica actua por sua vez sobre o Espírito;
este, pelo seu contacto e a sua ligação íntima com os elementos materiais, sofre
também influências que modificam a sua disposição sem no entanto lhe retirarem
o seu livre-arbítrio, lhe sobre-excitam ou abrandam a
actividade e por isso mesmo contribuem para o seu desenvolvimento. A
efervescência que por vezes se manifesta numa população inteira, entre os
homens de uma mesma raça, não é uma coisa fortuita nem resultado de um
capricho; tem a sua causa nas leis da natureza. Esta efervescência, primeiro
inconsciente, que não passa de um vago desejo, uma aspiração não definida a
qualquer coisa melhor, uma necessidade de mudança, traduz-se numa surda
agitação, depois por actos que trazem consigo as revoluções sociais, que,
acreditai, têm também a sua periodicidade como as revoluções físicas, pois tudo
se encadeia. Se a visão espiritual não estivesse limitada pelo véu material,
veríeis estas correntes fluídicas que, como milhares de fios condutores,
ligam as coisas do mundo espiritual e do mundo material.
»Quando vos dizem que a humanidade atingiu um período de
transformação e que a Terra se deve elevar na hierarquia dos mundos, não vejam
nestas palavras nada de místico, mas pelo contrário, a realização de uma das
leis fatais do Universo.»
ARAGO
«Sim, é verdade, a humanidade transforma-se tal como já se
transformou noutras épocas, e cada transformação é marcada por uma
crise que constitui para o género humano o que as crises do crescimento
são para os indivíduos; crises muitas vezes penosas, dolorosas, que arrastam
com elas as gerações e as instituições, mas sempre seguidas por uma
fase de progresso material e moral.
»A humanidade terrestre, chegada a um desses períodos de
crescimento, está em breve há um século em pleno trabalho de transformação; é
por isso que se agita por todos os lados, presa de uma espécie de febre
e como que movida por uma força invisível, até ter retomado assento
sobre novas bases. Quem a vir então, encontrá-la-á muito modificada
nos seus costumes, no seu carácter, nas suas leis, nas suas crenças, numa
palavra, em todo o seu estado social.
»Uma coisa que vos parecerá estranha mas que não deixa por
isso de ser uma rigorosa verdade, é que o mundo dos Espíritos que vos rodeia
sofreu o contragolpe de todas as comoções que agitam o mundo dos encarnados;
digo mesmo que tem nisso uma parte activa. Isto nada tem de surpreendente para
quem saiba que os Espíritos formam um só com a humanidade; que dela
saem e nela devem reentrar; é portanto natural que se interessem pelos
movimentos que se operam entre os homens. Tende então a certeza que, quando uma
revolução social se realiza na Terra, ela agita igualmente o mundo invisível;
todas as paixões boas e más são aí sobe-excitadas como entre vós; uma
efervescência indizível reina entre os Espíritos que fazem ainda parte
do vosso mundo e que esperam o momento de lá voltarem a
entrar.
»A agitação dos encarnados e dos não encarnados por vezes
juntam-se, a maior parte das vezes até porque tudo se liga à natureza, às
perturbações dos elementos físicos; é então, durante um certo tempo, uma
confusão geral, que passa como um furacão, após o qual o céu volta a estar sereno
e a humanidade, reconstruída sobre novas bases, imbuída de novas ideias,
percorre uma nova etapa de progresso.
»É no período que se abre que veremos o Espiritismo
florescer e que ele dará os seus frutos. É portanto para o futuro, mais do que
para o presente, que trabalhais; mas era necessário que estes trabalhos fossem
elaborados antecipadamente porque preparam as vias da regeneração pela
unificação e pela racionalidade das crenças. Felizes os que disso
beneficiam desde já; será para eles tanto de ganho como de sofrimentos
poupados.»
DR. BARRY
/...
(*) Extracto de duas comunicações dadas na Sociedade de Paris e publicadas na
Revista Espírita de Outubro de 1868, p. 313. São o corolário das de Galileu, relatadas no
Capítulo VI e um complemento ao Capítulo IX sobre as revoluções do globo. (N.
do A.)
Biografias: François Arago, Dr. James Barry
ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o
Espiritismo – Capítulo XVIII, SÃO CHEGADOS OS TEMPOS – Sinais dos
tempos 8 e 9, tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores
Livros de Vida.
(imagem de ilustração: Violeta e os meteoritos,
pintura em acrílico de Costa
Brites)
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