Estudo do perispírito
De que é formado esse perispírito,
cuja existência, assim durante a vida, como durante a morte, se acha
demonstrada? Qual a substância constituinte desse envoltório permanente da
alma? Tal a primeira questão que tentaremos resolver.
Nenhuma das narrativas, nenhuma das experiências acima
referidas nos instruíram sobre esse ponto importante. Não tendo sido possível
submeter esse corpo material aos reactivos ordinários, forçoso é, ainda agora,
que nos atenhamos à observação e ao que os Espíritos hão dito a tal respeito.
Aliás, dificilmente poderíamos encontrar melhores instrutores do que aqueles
mesmos que produzem as aparições. Não esqueçamos que eles põem em jogo leis
que ainda teremos de descobrir, pois mostraram que uma matéria invisível aos
olhares humanos pode impressionar uma chapa fotográfica, mesmo na mais absoluta
obscuridade. Os fenómenos de transporte constituem outra prova da acção dos
Espíritos sobre a matéria, acção que se opera por processos de que nem sequer
suspeitamos. E que dizer dessas materializações que engendram, por alguns
instantes, um ser tangível, tão vivo quanto os assistentes, senão que a ciência
humana é de todo impotente para explicar tais manifestações de uma biologia
extra-terrena?
Até mais amplos esclarecimentos, contentar-nos-emos com os
que nos queiram ministrar as individualidades do espaço e tentaremos demonstrar
que eles nada têm de contrário às leis conhecidas, não tomadas na sua acepção
acanhada, mas consideradas na sua filosofia. Nestes estudos, não se deve pedir
uma demonstração em regra, que seria impossível produzir-se. Desde que, porém,
por meio de analogias tiradas das leis naturais, possamos formar ideia bastante
clara da causa dos fenómenos e do modo provável por que se operam, sensível progresso
teremos realizado na senda da investigação, banindo das nossas concepções a
ideia de sobrenatural.
O conhecimento do perispírito
tem grande importância para a explicação das anomalias que os pacientes
sonambúlicos apresentam, nos casos, bem comprovados, de visão à distância, de
telepatia, de transmissão de pensamento e de perda da lembrança de tudo ao
despertar. Do mesmo modo, os fenómenos de personalidades múltiplas, os casos de
bicorporeidade e as aparições tangíveis, de que temos falado, podem ser muito
bem compreendidos, desde que se admita a nossa teoria, ao passo que se
conservam inteiramente inexplicáveis por meio do ensino materialista.
Na presença de tais factos, os sábios oficiais guardam
prudente mutismo. Se, pelo maior dos acasos, falam dessas experiências, é para
as declarar apócrifas, indignas de prender a atenção de homens inteligentes e,
então, as assinalam como últimos vestígios atávicos das superstições dos nossos
antepassados.
Importa, porém, que, de uma vez por todas, nos entendamos a
esse respeito. Não ignoramos que não se pode absolutamente discutir com quem
esteja de parti pris e que o Espiritismo, hoje, se acha mais
ou menos na mesma situação em que se encontrava o magnetismo há uma vintena de
anos. A história aí está a mostrar-nos a obstinação estúpida dos que se
petrificaram nas suas ideias preconcebidas.
Sabemos o que pensar da penetração de espírito dos
sucessores daqueles que acreditavam que as pedras talhadas eram produzidas pelo
trovão; que negaram a electricidade, zombando de Galvani; que vituperaram e
perseguiram Mesmer; que qualificaram de loucura o telefone e o fonógrafo, como,
aliás, todas as descobertas novas. Por isso mesmo, sem dar atenção ao banimento
mais ou menos sincero a que eles condenam o fenómeno espírita, corajosamente
exporemos a nossa maneira de ver, apoiando-a em factos positivos e bem
estudados.
A despeito de todas as negações possíveis, o fenómeno
espírita é uma verdade tão bem comprovada hoje, que não há factos científicos
mais bem firmados do que eles, entre os que não são de observação quotidiana,
tais como: a queda dos aerólitos, as auroras boreais, as tempestades
magnéticas, a raiva, etc.
A ciência está neste dilema: ou os espíritas são charlatães
e é falso tudo o que eles proclamam e, nesse caso, ela os deve desmascarar,
pois que lhe incumbe a instrução do povo; ou os factos que os espíritas têm
observado são reais, porém mal referidos e, portanto, erróneas as conclusões
que eles daí deduzem, caso em que a ciência se acha obrigada a lhes rectificar
os erros. Assim, qualquer que seja a eventualidade que se considere, vê-se que
o silêncio ou o descaso nenhum cabimento têm. Essa a razão pela qual
sinceramente chamamos a atenção dos homens de boa-fé para as nossas teorias
que, embora ainda muito incompletas, explicam com lógica os diferentes
fenómenos de que acima falamos.
Eis, sucintamente, os princípios gerais sobre os quais nos
apoiaremos. São os de Allan Kardec, que magistralmente resumiu em sua obra
todos os ensinos dos Espíritos que o assistiram.
/…
Gabriel Delanne, A Alma é Imortal, Terceira
parte – O Espiritismo e a ciência Capítulo I Estudo do perispírito, 1º
fragmento da obra.
(imagem de ilustração: Pitágoras, pormenor d'A
escola de Atenas de Rafael
Sanzio (1509)
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