sábado, 14 de dezembro de 2013

Saberes e o tempo ~

Estudo do perispírito

De que é formado esse perispírito, cuja existência, assim durante a vida, como durante a morte, se acha demonstrada? Qual a substância constituinte desse envoltório permanente da alma? Tal a primeira questão que tentaremos resolver.

Nenhuma das narrativas, nenhuma das experiências acima referidas nos instruíram sobre esse ponto importante. Não tendo sido possível submeter esse corpo material aos reactivos ordinários, forçoso é, ainda agora, que nos atenhamos à observação e ao que os Espíritos hão dito a tal respeito. Aliás, dificilmente poderíamos encontrar melhores instrutores do que aqueles mesmos que produzem as aparições. Não esqueçamos que eles põem em jogo leis que ainda teremos de descobrir, pois mostraram que uma matéria invisível aos olhares humanos pode impressionar uma chapa fotográfica, mesmo na mais absoluta obscuridade. Os fenómenos de transporte constituem outra prova da acção dos Espíritos sobre a matéria, acção que se opera por processos de que nem sequer suspeitamos. E que dizer dessas materializações que engendram, por alguns instantes, um ser tangível, tão vivo quanto os assistentes, senão que a ciência humana é de todo impotente para explicar tais manifestações de uma biologia extra-terrena?

Até mais amplos esclarecimentos, contentar-nos-emos com os que nos queiram ministrar as individualidades do espaço e tentaremos demonstrar que eles nada têm de contrário às leis conhecidas, não tomadas na sua acepção acanhada, mas consideradas na sua filosofia. Nestes estudos, não se deve pedir uma demonstração em regra, que seria impossível produzir-se. Desde que, porém, por meio de analogias tiradas das leis naturais, possamos formar ideia bastante clara da causa dos fenómenos e do modo provável por que se operam, sensível progresso teremos realizado na senda da investigação, banindo das nossas concepções a ideia de sobrenatural.

O conhecimento do perispírito tem grande importância para a explicação das anomalias que os pacientes sonambúlicos apresentam, nos casos, bem comprovados, de visão à distância, de telepatia, de transmissão de pensamento e de perda da lembrança de tudo ao despertar. Do mesmo modo, os fenómenos de personalidades múltiplas, os casos de bicorporeidade e as aparições tangíveis, de que temos falado, podem ser muito bem compreendidos, desde que se admita a nossa teoria, ao passo que se conservam inteiramente inexplicáveis por meio do ensino materialista.

Na presença de tais factos, os sábios oficiais guardam prudente mutismo. Se, pelo maior dos acasos, falam dessas experiências, é para as declarar apócrifas, indignas de prender a atenção de homens inteligentes e, então, as assinalam como últimos vestígios atávicos das superstições dos nossos antepassados.

Importa, porém, que, de uma vez por todas, nos entendamos a esse respeito. Não ignoramos que não se pode absolutamente discutir com quem esteja de parti pris e que o Espiritismo, hoje, se acha mais ou menos na mesma situação em que se encontrava o magnetismo há uma vintena de anos. A história aí está a mostrar-nos a obstinação estúpida dos que se petrificaram nas suas ideias preconcebidas.

Sabemos o que pensar da penetração de espírito dos sucessores daqueles que acreditavam que as pedras talhadas eram produzidas pelo trovão; que negaram a electricidade, zombando de Galvani; que vituperaram e perseguiram Mesmer; que qualificaram de loucura o telefone e o fonógrafo, como, aliás, todas as descobertas novas. Por isso mesmo, sem dar atenção ao banimento mais ou menos sincero a que eles condenam o fenómeno espírita, corajosamente exporemos a nossa maneira de ver, apoiando-a em factos positivos e bem estudados.

A despeito de todas as negações possíveis, o fenómeno espírita é uma verdade tão bem comprovada hoje, que não há factos científicos mais bem firmados do que eles, entre os que não são de observação quotidiana, tais como: a queda dos aerólitos, as auroras boreais, as tempestades magnéticas, a raiva, etc.

A ciência está neste dilema: ou os espíritas são charlatães e é falso tudo o que eles proclamam e, nesse caso, ela os deve desmascarar, pois que lhe incumbe a instrução do povo; ou os factos que os espíritas têm observado são reais, porém mal referidos e, portanto, erróneas as conclusões que eles daí deduzem, caso em que a ciência se acha obrigada a lhes rectificar os erros. Assim, qualquer que seja a eventualidade que se considere, vê-se que o silêncio ou o descaso nenhum cabimento têm. Essa a razão pela qual sinceramente chamamos a atenção dos homens de boa-fé para as nossas teorias que, embora ainda muito incompletas, explicam com lógica os diferentes fenómenos de que acima falamos.

Eis, sucintamente, os princípios gerais sobre os quais nos apoiaremos. São os de Allan Kardec, que magistralmente resumiu em sua obra todos os ensinos dos Espíritos que o assistiram.

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Gabriel DelanneA Alma é Imortal, Terceira parte – O Espiritismo e a ciência Capítulo I Estudo do perispírito, 1º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: Pitágoras, pormenor d'A escola de Atenas de Rafael Sanzio (1509)

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