Posição do materialismo dialéctico
Não resta dúvida que o materialismo dialéctico é o mais
avançado passo da filosofia materialista, graças ao aproveitamento da tríade
básica da mais antiga filosofia espiritualista, que podemos encontrar desde o taoísmo chinês
ao druidismo gaulês, do antigo bramanismo à
filosofia jónica, de Sócrates e Platão ao Evangelho de
Cristo.
Diante
da sua concepção do mundo e do seu método de análise histórica, o materialismo
fixista do século XVIII e o próprio mecanicismo parecem conjecturas infantis.
Na Dialéctica da Natureza, Engels observa, a
propósito: “A ciência natural da primeira metade do século XVIII estava muito
acima da antiguidade grega no tocante ao conhecimento e à classificação dos
materiais, mas ao mesmo tempo abaixo dela, no domínio ideal desse material, na
concepção da natureza.”
O mesmo podemos hoje dizer, no tocante à posição do
materialismo dialéctico em face à filosofia idealista alemã do século XVIII, e
particularmente à escola hegeliana. Repete-se, nesse caso, o que se verificara
com Feuerbach diante
de Hegel, no terreno da análise das relações sociais. A dialéctica marxista se
nos apresenta, por isso mesmo, como um pássaro de asa quebrada,
que, apesar de bater com energia a asa que lhe sobrou intacta, não consegue
elevar-se além da poeira da terra. Falta-lhe a visão tão-somente de
metade da realidade objectiva, dessa realidade que ele tanto defende e a
que tanto se apega. Marx e
Engels preferiram ignorar essa metade, que Hegel lhes oferecera, com os seus
olhos de condor, para se reduzirem à miopia de Feuerbach. E cometeram assim o
maior equívoco da moderna história da filosofia; tomando, como o fizera Proudhon,
a exclusão pela síntese.
/…
José Herculano Pires, Espiritismo Dialéctico –
Posição do materialismo dialéctico, 2º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: Diógenes, pormenor d'A escola de Atenas de Rafael Sanzio, 1509)
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