Temos constantemente debaixo dos olhos um exemplo que nos
pode dar uma ideia da maneira como a vontade de Deus se pode exercer sobre as
partes mais íntimas de todos os seres e, consequentemente, como as impressões
mais subtis da nossa alma chegam até ele. Foi retirado duma instrução dada por
um Espírito a este respeito.
«O homem é um pequeno mundo cujo dirigente é o Espírito e o
corpo o principio dirigido. Neste Universo, o corpo representará uma criação em
que o espírito será Deus (percebereis que não se pode tratar aqui mais que de
uma analogia e não de uma identidade). Os membros deste corpo, os diferentes
órgãos que o compõem, os seus músculos, os seus nervos, as suas articulações
são outras tantas individualidades materiais, se assim podemos dizer, localizadas
num sítio especial do corpo; apesar do número das suas partes constituintes, de
natureza tão variada e tão diferente, ser considerável, não oferece no entanto
dúvidas a ninguém que não pode produzir movimentos, que uma qualquer impressão
não pode dar-se num sítio particular sem que o Espírito tenha disso
consciência. Há sensações diversas em vários sítios simultaneamente? O Espírito
sente-as todas, percebe-as, analisa-as, atribui a cada uma a sua causa e o seu
lugar de acção por intermédio do fluido do perespírito.
»Um fenómeno análogo dá-se entre a Criação e Deus. Deus está
em todo o lado na natureza, tal como o Espírito está em todo o corpo; todos os
elementos da Criação estão em contacto constante com ele, tal como todas as
células do corpo humano estão em contacto imediato com o ser espiritual; não há
portanto razão nenhuma para que os fenómenos da mesma ordem não se produzam da
mesma maneira, num e noutro caso.
»Um membro agita-se: o Espírito sente; uma criatura pensa: Deus
sabe-o. Todos os membros estão em movimento, os diferentes órgãos são
postos em movimento: o Espírito sente cada manifestação, distingue-a e
localiza-a. As diferentes criações agitam-se, pensam, agem de forma diversa e
Deus sabe tudo o que se passa, atribuindo a cada uma o que lhe é
particular.
»Podemos deduzir daqui igualmente a solidariedade da
matéria e da inteligência, a solidariedade entre os seres de um mundo e,
enfim, entre as criações e o Criador.»
Quinemant, Sociedade Espírita de Paris, 1867
/...
(imagem de ilustração: Winding the Skein –
1878, pintura de Frederic
Leighton)
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