quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Génio Céltico e o Mundo Invisível ~

Origem dos Celtas. Guerra dos gauleses. Decadência e queda. Longa noite; o despertar. O movimento pancéltico ~

Nos primeiros vislumbres da História, encontramos os celtas estabelecidos em boa parte da Europa.

De onde vieram? Qual foi o lugar de sua origem? Certos historiadores colocam o berço da sua raça nas montanhas de Taurus, no centro da Ásia Menor, nas vizinhanças dos caldeus. Quando a população aumentou, eles teriam transposto o Pont-Euxin (no Mar Negro) e penetrado até à parte central da Europa. Mas, nos nossos dias, essa teoria parece ter caído em desuso, ocorrendo o mesmo com a hipótese dos arianos.

Camille Jullian, do Colégio de França, na sua obra mais recente sobre a Histoire de la Gaule, contenta-se em fixar entre 600 e 800 a.C. a chegada à Gália dos “kymris”, o ramo mais moderno dos celtas. Eles vinham, crê-se, da foz do Rio Elba e das costas da Jutlândia, enxotados por maremotos, o que os obrigou a emigrar em direcção ao sul.

Chegados à Gália, encontraram um ramo mais antigo dos celtas, os gaélicos, que ali se achavam fixados desde há muito tempo e que eram de estatura menor, geralmente morenos, enquanto que os “kymris” eram altos e louros. Essas diferenças são ainda sensíveis na Armorique, onde as costas do oceano, no Morbihan, são povoadas de homens pequenos e morenos, misturados com elementos estrangeiros, atlantes ou bascos, que se fundiram com as populações primitivas. Nas Costas do Norte (Côtes-du-Nord) ou na Mancha os habitantes eram de estatura mais alta, aos quais se vieram juntar os celta-bretões expulsos da grande ilha pelas invasões dos anglo-saxões.

Os considerandos de C. Jullian se acham confirmados pelo parentesco das línguas célticas e germânicas, semelhantes pela sua estrutura, pelos sons guturais, abuso de letras duras como o K, o W, etc.

No meio das correntes migratórias, que se cruzam e se entrecruzam na noite da pré-história, a Ciência acha um processo mais seguro nos estudos linguísticos para reconstituir a filiação das raças humanas. (i)

(i) D’Arbois de Jubainville, no seu curso do Colégio de França, por vezes, se dedicava a uma demonstração no quadro-negro a fim de estabelecer o grau de parentesco das línguas indo-europeias. Ele pegava uma palavra que traduzia em gaélico, em alemão, em russo, em sânscrito, em grego, em latim, e descobria que, sob aquelas diferentes traduções, essa palavra tinha uma mesma raiz.

Daremos apenas um resumo da história dos gauleses. Sabe-se que os nossos antepassados, durante séculos, encheram o mundo com o barulho das suas armas. Ávidos de aventuras, de glórias e de combates, eles não podiam resignar-se a uma vida apagada e tranquila e iam para a morte como a uma festa, tal era a sua certeza do Além.

Conhecem-se as suas numerosas incursões na Itália, na Espanha, na Alemanha e até no Oriente. Os gauleses invadiam regiões vizinhas e, pela lei de choque e retorno, sofreram invasões e foram reduzidos à impotência.

A alma da Gália encontra-se nas instituições druídicas e bárdicas. Os druidas não eram somente os sacerdotes, mas também os filósofos, os sábios, os educadores da juventude. Os ovates presidiam as cerimónias do culto e os bardos consagravam-se à poesia e à música.

Mais adiante exporemos o que era a obra e o verdadeiro carácter do Druidismo.

No início da nossa era, os romanos já tinham penetrado na Gália, escalado o vale do Rhône e, após terem ocupado Lyon, avançaram até ao coração do país.

Os gauleses resistiram com energia e provocaram, por vezes, rudes reveses aos seus inimigos; entretanto, eles estavam divididos e não ofereciam, amiúde, mais do que resistências locais. A sua coragem, levada até à temeridade, e o seu desprezo pelas astúcias guerreiras e pela morte tornavam-se uma desvantagem para eles.

Combatiam em desordem, nus até à cintura, com armas mal preparadas, contra adversários cobertos de ferro, astuciosos e desleais, fortemente disciplinados e abastecidos de materiais considerável para a época.

Vercingétorix, o grande chefe arverno, sustentado pelo poderio dos druidas, conseguiu, certa vez, sublevar toda a Gália contra César, e uma luta grandiosa teve lugar. (ii) Educado pelos bardos, Vercingétorix tinha em parte as qualidades que se impõem à admiração dos homens e os levam à obediência e ao respeito. O seu amor pela Gália aumentava com o progresso crescente dos exércitos romanos.

(ii) Arverno – indivíduo dos arvernos (formação latina “arvernil”), povo da Gália Central ou Gália Céltica que habitava a região montanhosa (Puy de Dôme, Mont-Dore e Cantal) hoje denominada Auvergne, uma antiga província francesa. (Nota da Revisora. As suas notas subsequentes conterão apenas as iniciais N.R.)

Que diferença entre Vercingétorix e César! O herói gaulês, cheio de fé na potência invisível que governa os mundos, sustentado pela sua crença nas vidas futuras, tinha por regra de conduta o dever, por ideal a grandeza e a liberdade de seu país.

César, profundamente céptico, só acreditava na fortuna. Tudo nesse homem era astúcia e cálculo; uma sede intensa de dominação o devorava. Após uma vida de excessos, crivado de dívidas, ele veio à Gália procurar na guerra os meios de elevar os seus créditos. Ele cobiçava de preferência as cidades ricas e, após tê-las entregues à pilhagem, viam-se longos comboios encaminharem-se para a Itália, levando ouro gaulês aos credores de César.

É necessário lembrar que, em nome do patriotismo, César perjurou, negou as liberdades romanas e oprimiu o seu país. Certamente não negaremos o génio político e militar de César, mas devemos, na verdade, lembrar que esse génio era marcado por vícios vergonhosos.

E é nos escritos desse inimigo da Gália que se vai sempre procurar a verdade histórica! É nos seus Comentários, escritos sob a inspiração do ódio, com a intenção evidente de se realçar aos olhos dos seus concidadãos, que se estuda a história da guerra das Gálias. Mas, dois autores romanos, Pollion e Suetônio, confessam que essa obra está cheia de inexactidões, de erros voluntários.

Em resumo, os gauleses, ardentes, entusiastas, impressionáveis, tinham-se beneficiado da corrente céltica, dessa grande corrente, veículo das altas inspirações, que, desde os primeiros tempos, tinham influenciado todo o nordeste da Europa. Eles foram impregnados pelos eflúvios magnéticos do solo, desses elementos que, em todas as regiões da Terra, caracterizam e diferenciam as raças humanas. (iii)

(iii) Ver, no capítulo XIII, no fim desta obra, as mensagens números 5 e 6, de Allan Kardec.

Mas o seu ardor juvenil, a sua paixão pelas armas e pelos combates os tinham levado muito longe, e as perturbações causadas à ordem e à marcha regular das coisas retornaram pesadamente sobre eles, em virtude dessa lei soberana que reconduz aos indivíduos, como aos povos, todas as consequências das obras que eles executaram. Porque tudo o que fazemos pesa sobre nós, através dos tempos, na forma de chuvas ou de raios, de alegrias ou de dores, e a dor não é o agente menos eficaz da educação das almas e da evolução das sociedades.

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LÉON DENIS, O Génio Céltico e o Mundo Invisível, Primeira Parte OS PAÍSES CÉLTICOS, CAPÍTULO I – Origem dos celtas. Guerra dos gauleses. Decadência e queda. Longa noite; o despertar. O movimento pancéltico 1º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: The Apotheosis of the French Heroes who Died for their Country During the War for Freedom_1802, pintura de Anne-Luis GIRODET-TRIOSON)

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