Parte I
(Conceitos de arte. Espiritismo, fonte de inspiração. Materialismo, esterilizador da arte)
|Janeiro de 1922|
A beleza é um dos atributos divinos. Deus pôs nos seres
e nas coisas esse encanto misterioso que nos atrai, nos seduz, nos
cativa e enche a alma de admiração, às vezes de entusiasmo.
A arte é a busca, o estudo, a manifestação dessa beleza
eterna da qual percebemos, aqui na Terra, apenas um reflexo.
Para contemplá-la em todo o seu esplendor, em todo o seu
poder, é preciso subir de grau em grau em direcção à fonte de
onde ela emana, e isso é uma tarefa difícil para a maioria entre nós. Ainda
assim, podemos conhecê-la pelo espectáculo que o Universo oferece aos nossos
sentidos e também pelas obras que ela inspira aos homens de génio.
O Espiritismo vem abrir para a arte novas perspectivas,
horizontes sem limites. A comunicação que ele estabelece entre os mundos
visível e invisível, as indicações fornecidas sobre as condições da vida no
Além, a revelação que ele nos traz das leis de harmonia e de beleza que regem o
Universo vêm oferecer aos nossos pensadores, aos nossos artistas, motivos
inesgotáveis de inspiração.
A observação dos fenómenos de aparições proporciona aos
nossos pintores imagens da vida fluídica da qual James Tissot já pôde
tirar proveito nas ilustrações da sua Vida
de Jesus. Os oradores, os escritores, os poetas neles encontrarão uma
fonte fecunda de ideias e de sentimentos. O conhecimento das vidas sucessivas
do ser, a sua ascensão dolorosa através dos séculos, o ensino dos espíritos
sobre a questão grandiosa do destino, lançaram, sobre toda a História, uma luz
inesperada, e proporcionarão ainda aos romancistas, aos poetas, temas de drama,
motivos de elevação, todo um conjunto de recursos intelectuais que
ultrapassarão em riqueza tudo o que o pensamento pôde conhecer até aqui.
Quando reflectimos em tudo quanto o Espiritismo traz para a
humanidade, quando pensamos nos tesouros de consolação e de esperança, na mina
inesgotável de arte e de beleza que ele lhe vem oferecer, nós nos sentimos
cheios de piedade por esses homens ignorantes ou pérfidos, cujas críticas
malévolas não têm outro objectivo senão desacreditar, ridicularizar e mesmo
asfixiar a ideia nascente cujos benefícios já são tão sensíveis. Evidentemente,
essa ideia, na sua aplicação, necessita de um exame, um controle rigoroso; mas
a beleza que emana dessa ideia se revela deslumbrante para todo
o pesquisador imparcial, para todo o observador atento.
O materialismo, com o seu sopro dessecante, havia esterilizado a arte. Esta se
arrastava no realismo degradante sem poder elevar-se até aos cumes da beleza
ideal. O Espiritismo veio dar-lhe um novo estímulo, um impulso mais vivo
através das alturas onde ela encontra a fonte fecunda das inspirações e a
sublimidade do talento.
/…
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte I Conceitos de arte,
Espiritismo, fonte de inspiração, Materialismo, esterilizador da arte, 1º
fragmento da obra.
(imagem de ilustração: Mona Lisa 1503-1507 – Louvre,
pintura de Leonardo
da Vinci)
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