terça-feira, 26 de novembro de 2013

Victor Hugo | uma chama de fogo a iluminar as idades


Introdução '

Apenas um real e positivo idealismo pode dar vigor e energia à natureza humana.

Apenas um ideal que seja capaz de sobrepor-se à dura realidade do dia-a-dia pode ajudar o homem a lutar contra aquilo que está destruindo o verdadeiro sentido da vida.

Este ideal está na beleza, na justiça e no bem, mas, principalmente, na poesia que simultaneamente pode vincular o homem tanto ao humano quanto ao transcendente.

O homem como Ideia poderá olhar de frente e com segurança o mundo material e o mistério do universo; mas, considerado como um reflexo dos fenómenos físicos, o homem será um ser sem liberdade e sujeito ao mecanismo do meio em que está situado. Porém, a vontade humana será real apenas mediante a auto-liberdade do ser. O Ideal é como o vapor que pode movimentar um grande volume de ferro, razão pela qual o homem não será o verdadeiro motor da história enquanto for considerado como um reflexo do meio em que vive. O homem, a moral e a sociedade serão realidades criadoras apenas quando a vontade puder gerar a sua própria liberdade sobre a base de um ideal inspirado na verdade.

Se o homem não for uma ideia soberana e criadora será um ser sem dignidade. Será apenas um mecanismo que acciona as causas dos reflexos circundantes e uma consequência das forças físicas sem nenhuma teleologia moral ou espiritual. A verdade e a justiça não são anuladas por ser o homem uma Ideia. O verdadeiro homem progressista é o que se sustenta pela força da Ideia e, por isso mesmo, pelo Espírito. Os que são capazes de forjar o bem para a humanidade são os que vivem iluminados pela luz que emana da sua própria inteligência. São os que vivem sustentados pelo Ideal porque se sentem a ideia que se sobrepõem às influências opressoras dos fenómenos físicos.

Victor Hugo foi um exemplo do que dissemos. A sua natureza poética não surgiu no seu Ser pelos reflexos do meio ambiente da sua época. Ao contrário, o seu Ser foi poético, idealista e amante da justiça porque esses valores morais estavam no seu espírito e não fora dele. Não se chega a escrever um poema somente com os reflexos materiais que influem sobre a inteligência. Um poema escreve-se quando o espírito possui as condições indispensáveis para dar curso a esse fenómeno poético.

A verdade e a justiça não estarão no homem pela acção reflexa do meio; tais valores éticos surgirão da Ideia que determina o ser espiritual e social do homem. Surgem da consciência, que é onde Victor Hugo falou a Deus e, logo, ao Espírito. O autor de Os Miseráveis foi uma vida que lutou pela Ideia apesar dos mais variados obstáculos sociais que atingiram a sua sensibilidade. Mas não foi um homem que amarrou o seu ideal ao mundo exclusivo da matéria. A sua inteligência penetrou no Além não apenas para ver uma nova imagem das coisas objectivas, mas para descobrir a essência da vida imortal do Espírito.

Victor Hugo sabia que somente se constrói um mundo-novo e melhor se as asas do pensamento não são atropeladas pelas garras da vulgaridade e da indiferença. Por isso é necessário o Ideal, é indispensável a Fé e urge conhecer o sentido da vida, posto que sem uma teleologia espiritual o ser e a existência se apresentam como dois enigmas que desembocam num abismo. Victor Hugo não se rendeu à morte e ao nada. Afirmou pela poesia a vida do Espírito e da Ideia e lutou como um gigante para mostrar ao homem a essência divina e imortal que se esconde na sua carne perecível.

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Humberto Mariotti, Victor Hugo Espírita, Introdução 1º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Victor Hugo | 1879, retratado por Léon Bonnat)

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