SINAIS DOS TEMPOS
Com a ideia de que a actividade e a cooperação
individuais na obra geral da civilização estão limitadas à vida presente, que
nada fomos e nada seremos, para que serve ao homem o progresso posterior da
humanidade? Que lhe importa que no futuro os povos sejam mais bem governados, mais
felizes, mais esclarecidos, melhores uns para os outros? Dado que não deve
retirar daí nenhum benefício, não estará este progresso perdido para ele? Para
que lhe serve trabalhar para os que vierem depois dele, se nunca os deverá
conhecer, se são seres novos que pouco tempo depois entrarão eles mesmos no
nada? Sob o império da negação do futuro individual, tudo se limita
forçosamente às mesquinhas proporções do momento e da
personalidade.
Mas, pelo contrário, que amplitude confere ao
pensamento do homem a certeza da perpetuidade do
seu ser espiritual! Que de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do
Criador que esta lei, segundo a qual a vida espiritual e a vida corporal não
são mais do que dois modos de existência que se alternam para
realização do progresso! Que de mais justo e de mais consolador que a ideia dos
mesmos seres a progredirem sem parar, primeiro através das gerações do mesmo
mundo e a seguir de mundo em mundo até à perfeição, sem solução de
continuidade! Todas as acções têm então uma finalidade, pois,
trabalhando para todas, trabalhamos para nós e reciprocamente; para que nem o
progresso individual nem o progresso geral sejam alguma vez estéreis; aproveita
às gerações e aos indivíduos futuros que não são mais do que as gerações e os
indivíduos passados, chegados a um mais elevado grau de evolução.
A fraternidade deve ser a
pedra angular da nova ordem social; mas não há fraternidade real, sólida e
efectiva se não estiver apoiada numa base inabalável; esta base é a fé; não
a fé nestes ou naqueles dogmas particulares que mudam com os tempos e os povos
e se apedrejam, pois anatematizando alimentam o antagonismo, mas a fé nos
princípios fundamentais que toda a gente pode aceitar: Deus, a alma, o
futuro, O PROGRESSO INDIVIDUAL ILIMITADO, A PERPETUIDADE DAS RELAÇÕES ENTRE
OS SERES. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo
para todos; que Deus, soberanamente justo e bom, não pode querer nada
de injusto; que o mal vem dos homens e não dele, olhar-se-ão como filhos
de um mesmo Pai e dar-se-ão as mãos.
É esta a fé que o Espiritismo
dá e que será doravante o eixo sobre o qual se moverá o género humano, seja
qual for o modo de adoração e as crenças particulares.
O progresso intelectual realizado
até hoje nas mais vastas proporções é um grande passo e marca a primeira fase
da humanidade, mas sozinho é impotente para a regenerar; enquanto o homem
estiver dominado pelo orgulho e pelo egoísmo, utilizará a sua inteligência e os
seus conhecimentos em benefício das paixões e dos seus interesses pessoais; é
por isso que as aplicam no aperfeiçoamento dos meios para prejudicar os seus
semelhantes e os destruir.
Só o progresso moral pode
garantir a felicidade dos homens na Terra pondo um travão nas más paixões; só
ele pode fazer reinar entre os homens a concórdia, a paz, a fraternidade.
É ele que derrubará as barreiras dos povos, que
fará cair os preconceitos de casta e calar os antagonismos das seitas,
ensinando aos homens a olharem-se como irmãos, chamados a ajudarem-se uns aos
outros e não a viverem à custa uns dos outros.
É ainda o progresso moral, secundado aqui
pelo progresso da inteligência, que confundirá os homens numa mesma
convicção estabelecida sobre as verdades eternas, não sujeitas a discussão e
por isso mesmo aceitas por todos.
A unidade de crença será o elo
mais poderoso, o mais sólido fundamento da fraternidade universal,
destruída desde sempre pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as
famílias, que fazem com que se veja nos dissidentes inimigos de quem é preciso
fugir, combater, exterminar, em vez de irmãos que é preciso amar.
/…
ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias
Segundo o Espiritismo – Capítulo XVIII, SÃO CHEGADOS OS TEMPOS – Sinais
dos tempos 16 a 19, fragmento solto da obra, tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco,
Editores Livros de Vida.
(imagem de ilustração: Diógenes e
os pássaros de pedra, pintura em acrílico de Costa Brites)
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