sexta-feira, 29 de novembro de 2013

o grande enigma ~

Ao Leitor

Nas horas pesadas da vida, nos dias de tristeza e de acabrunhamento, leitor, abre este livro! Eco das vozes do Alto, ele te dará coragem; inspirar-te-á a paciência e a submissão às leis eternas!

Onde e como pensei em escrevê-lo? Numa tarde de inverno, tarde de passeio na costa azulada da Provença.

Deitava-se o Sol sobre o mar pacífico. O seus raios de ouro, resvalando sobre a vaga adormecida, acendiam tintas ardentes sobre o cimo das rochas e dos promontórios, enquanto o delgado crescente lunar subia no céu sem nuvens. Fazia-se grande silêncio, envolvendo todas as coisas. Solitário, um sino longínquo, lentamente, soava o ângelus.

Pensativo, eu ouvia os ruídos abafados, os rumores apenas perceptíveis das cidades de inverno em festa e as vozes que cantavam na minha alma.

Pensava na indiferença dos homens que se inebriam de prazeres para melhor esquecer o fim da vida, os seus imperiosos deveres, as suas pesadas responsabilidades.

O mar balouçante, o Espaço que, pouco a pouco, se constelava de estrelas, os odores penetrantes dos mirtos e dos pinheiros, as harmonias longínquas na calma da tarde, tudo contribuía para derramar, em mim e em torno de mim, um encanto subtil, íntimo e profundo.

E a voz me disse:

Publica um livro que nós te inspiraremos, um livrinho que resuma tudo o que a Alma humana deve conhecer para se orientar no seu caminho;

publica um livro que demonstre a todos não ser a vida uma coisa vã de que se possa fazer uso leviano, e sim uma luta pela conquista do Céu, uma obra elevada e grave de edificação, de aperfeiçoamento, regida por leis augustas e equitativas, acima das quais paira a eterna Justiça, amenizada pelo Amor.

/…


Léon Denis, O Grande Enigma, Ao Leitor 1 de 3, 1º fragmento da obra.
(imagem: La Madonna de Port Lligat, detalhe | 1950, Salvador Dali)

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