O Espiritismo e a ciência – Princípios gerais
Reconhecemos a existência de uma causa eficiente e directora
do universo: a sublimada inteligência que, pela sua vontade
omnipotente, imutável, infinita, eterna, mantém a harmonia do Cosmos. A
alma, a força e a matéria são igualmente eternas, não podem aniquilar-se.
A Ciência admite a conservação da matéria e da energia, (i) prova
rigorosamente que são indestrutíveis, mas indefinidamente transformáveis. Do
mesmo modo, o Espiritismo dá
a certeza da imortalidade do eu pensante.
O princípio espiritual é a causa de todos os fenómenos
intelectuais que se dão nos seres vivos. No homem, esse princípio se toma à
alma, que se revela à observação como absolutamente distinta da matéria, não só
porque as faculdades que a determinam (tais como a sensação, o pensamento ou a
vontade) não se podem conceber revestidas de propriedades físicas, mas,
sobretudo, por ser ela uma causa de movimento e por se
conhecer plenamente a si mesma, o que a diferencia de todos os
outros seres vivos e, com mais forte razão, dos corpos brutos.
É-nos desconhecida a natureza da alma. Tentar defini-la,
dizendo que é imaterial, nada significa, a menos que com essa palavra se queira
precisar a diferença que há entre a sua constituição e a da matéria. Qualquer,
porém, que seja o seu modo de existir, ela se mostra simples e idêntica. Aliás,
a nossa ignorância acerca da natureza da alma é da mesma ordem e tão absoluta,
quanto acerca da natureza da matéria ou da natureza da energia. Até agora,
somos de todo impotentes para penetrar as causas primárias e temos que nos
contentar com o definir a alma, a matéria e a energia pelas suas manifestações,
sem pretendermos indagar se, de qualquer maneira, procedem umas das outras.
Certamente a alma não é a resultante das funções cerebrais,
pois que subsiste após a morte do corpo. Da análise de suas faculdades ressalta
que ela é simples, isto é, indivisível e a experiência espírita confirma essa
verdade, mostrando que a sua personalidade se mantém integral depois da morte.
O Espiritismo, com
o apoiar-se exclusivamente nos factos, reduz a nada todas as teorias segundo as
quais a alma sofre uma desagregação qualquer. O que, ao contrário, se verifica
é a indestrutibilidade do princípio pensante.
As suas faculdades a alma as desenvolve por uma
evolução incessante que tem por teatro, alternativamente, o espaço e o mundo
terrestre. Em cada uma dessas suas passagens, adquire ela nova soma de
conhecimentos intelectuais e morais, que são conservados, aperfeiçoados e
aumentados por uma evolução sem-fim.
Possui um livre-arbítrio proporcional ao número de
suas encarnações, dependendo a sua responsabilidade do grau do seu
adiantamento moral e intelectual. Assim como o mundo físico tem a regê-lo a lei
imutável, também o mundo espiritual é regido por uma justiça infalível, de
sorte que as leis morais têm sanção absoluta após a morte. Como o Universo
não se limita ao imperceptível grão de areia por nós habitado, como o espaço
formiga de sóis e planetas em número indefinido, admitimos que as futuras
existências do princípio pensante podem desenvolver-se nesses diferentes
sistemas de mundos, de maneira que a nossa vida se perpetua pela imensidade sem
limites.
Como pode a alma executar esse processo evolutivo,
conservando a sua individualidade e os conhecimentos que adquiriu? Como actua
sobre a matéria tangível, durante a encarnação? É o que tentamos determinar no
nosso estudo sobre a Evolução anímica. Aqui, temos que começar por
compreender o papel de cada uma das partes que formam o homem vivo.
/…
(i) A descoberta da radioactividade dos corpos parece
demonstrar que a matéria se destrói e retorna à energia que a engendrara.
Entretanto, não há contradição, porquanto, sendo eterna a energia, se a matéria
é um modo dessa energia, nada mais faz do que mudar de forma, sem se aniquilar.
Gabriel Delanne, A Alma é Imortal, Terceira
parte – O Espiritismo e a ciência Capítulo I Princípios
gerais, 2º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: Pitágoras, pormenor d'A
escola de Atenas de Rafael
Sanzio (1509)
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