domingo, 19 de janeiro de 2014

Saberes e o tempo ~

O Espiritismo e a ciência – Princípios gerais

Reconhecemos a existência de uma causa eficiente e directora do universo: a sublimada inteligência que, pela sua vontade omnipotente, imutável, infinita, eterna, mantém a harmonia do Cosmos. A alma, a força e a matéria são igualmente eternas, não podem aniquilar-se.

A Ciência admite a conservação da matéria e da energia, (i) prova rigorosamente que são indestrutíveis, mas indefinidamente transformáveis. Do mesmo modo, o Espiritismo dá a certeza da imortalidade do eu pensante.

O princípio espiritual é a causa de todos os fenómenos intelectuais que se dão nos seres vivos. No homem, esse princípio se toma à alma, que se revela à observação como absolutamente distinta da matéria, não só porque as faculdades que a determinam (tais como a sensação, o pensamento ou a vontade) não se podem conceber revestidas de propriedades físicas, mas, sobretudo, por ser ela uma causa de movimento e por se conhecer plenamente a si mesma, o que a diferencia de todos os outros seres vivos e, com mais forte razão, dos corpos brutos.

É-nos desconhecida a natureza da alma. Tentar defini-la, dizendo que é imaterial, nada significa, a menos que com essa palavra se queira precisar a diferença que há entre a sua constituição e a da matéria. Qualquer, porém, que seja o seu modo de existir, ela se mostra simples e idêntica. Aliás, a nossa ignorância acerca da natureza da alma é da mesma ordem e tão absoluta, quanto acerca da natureza da matéria ou da natureza da energia. Até agora, somos de todo impotentes para penetrar as causas primárias e temos que nos contentar com o definir a alma, a matéria e a energia pelas suas manifestações, sem pretendermos indagar se, de qualquer maneira, procedem umas das outras.

Certamente a alma não é a resultante das funções cerebrais, pois que subsiste após a morte do corpo. Da análise de suas faculdades ressalta que ela é simples, isto é, indivisível e a experiência espírita confirma essa verdade, mostrando que a sua personalidade se mantém integral depois da morte. O Espiritismo, com o apoiar-se exclusivamente nos factos, reduz a nada todas as teorias segundo as quais a alma sofre uma desagregação qualquer. O que, ao contrário, se verifica é a indestrutibilidade do princípio pensante.

As suas faculdades a alma as desenvolve por uma evolução incessante que tem por teatro, alternativamente, o espaço e o mundo terrestre. Em cada uma dessas suas passagens, adquire ela nova soma de conhecimentos intelectuais e morais, que são conservados, aperfeiçoados e aumentados por uma evolução sem-fim.

Possui um livre-arbítrio proporcional ao número de suas encarnações, dependendo a sua responsabilidade do grau do seu adiantamento moral e intelectual. Assim como o mundo físico tem a regê-lo a lei imutável, também o mundo espiritual é regido por uma justiça infalível, de sorte que as leis morais têm sanção absoluta após a morte. Como o Universo não se limita ao imperceptível grão de areia por nós habitado, como o espaço formiga de sóis e planetas em número indefinido, admitimos que as futuras existências do princípio pensante podem desenvolver-se nesses diferentes sistemas de mundos, de maneira que a nossa vida se perpetua pela imensidade sem limites.

Como pode a alma executar esse processo evolutivo, conservando a sua individualidade e os conhecimentos que adquiriu? Como actua sobre a matéria tangível, durante a encarnação? É o que tentamos determinar no nosso estudo sobre a Evolução anímica. Aqui, temos que começar por compreender o papel de cada uma das partes que formam o homem vivo.

/…
(i) A descoberta da radioactividade dos corpos parece demonstrar que a matéria se destrói e retorna à energia que a engendrara. Entretanto, não há contradição, porquanto, sendo eterna a energia, se a matéria é um modo dessa energia, nada mais faz do que mudar de forma, sem se aniquilar.



Gabriel Delanne, A Alma é Imortal, Terceira parte – O Espiritismo e a ciência Capítulo I Princípios gerais, 2º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: Pitágoras, pormenor d'A escola de Atenas de Rafael Sanzio (1509)

Sem comentários:

Enviar um comentário