segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

o grande enigma ~

ao leitor |||

Nunca, talvez, no decurso de sua história, a França sentiu mais profundamente a oportunidade de uma nova orientação moral.

As religiões, dissemos, perderam muito do seu prestígio, e os frutos envenenados do materialismo mostram-se por toda a parte.

Já tinham feito nascer entre as nações esse conflito sangrento que nos aproveitou tão pouco. A obra nefasta prossegue na hora presente.

Ao lado do egoísmo e da sensualidade de uns, pompeiam a brutalidade e a avidez de outros. Os actos de violência, os assassínios e os suicídios se multiplicam.

As greves revestem carácter cada vez mais grave. É a luta das classes, o desencadeamento dos apetites e dos furores.

A voz popular sobe e retumba; o ódio dos pequenos, contra aqueles que possuem e gozam, tende a passar do domínio das teorias para o dos factos.

As práticas bárbaras, destruidoras de toda a civilização, penetram nos costumes do operariado. Esse estado de coisas, agravando-se, nos levaria directamente à guerra civil e à selvajaria.

Tais são os resultados de uma falsa educação nacional. Desde há séculos, nem a escola nem a Igreja têm ensinado ao povo aquilo de que ele tem mais necessidade de conhecer:

o porquê da existência, a lei do destino com o verdadeiro sentido dos deveres e responsabilidades que a ele se ligam.

Daí, em toda parte, o desarrazoar das inteligências e das consciências, a confusão, a desmoralização, a anarquia. Estamos ameaçados de falência social.

Será necessário descer até ao fundo do pélago das misérias públicas, para ver o erro cometido e compreender que se deve buscar, acima de tudo, o raio que esclareça a grande marcha humana na sua estrada sinuosa, através dos precipícios e das rochas que desabam?

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Léon Denis, O Grande Enigma, Ao Leitor 3 de 3, 3º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: La Madonna de Port Lligat, detalhe | 1950, Salvador Dali)

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