ao leitor |||
Nunca, talvez, no decurso de sua história, a França sentiu
mais profundamente a oportunidade de uma nova orientação moral.
As religiões, dissemos, perderam muito do seu prestígio, e
os frutos envenenados do materialismo mostram-se por toda a parte.
Já tinham feito nascer entre as nações esse conflito
sangrento que nos aproveitou tão pouco. A obra nefasta prossegue na hora
presente.
Ao lado do egoísmo e da sensualidade de
uns, pompeiam a brutalidade e a avidez de outros. Os actos de violência,
os assassínios e os suicídios se multiplicam.
As greves revestem carácter cada vez mais grave. É a luta
das classes, o desencadeamento dos apetites e dos furores.
A voz popular sobe e retumba; o ódio dos pequenos, contra
aqueles que possuem e gozam, tende a passar do domínio das teorias para o dos
factos.
As práticas bárbaras, destruidoras de toda a civilização,
penetram nos costumes do operariado. Esse estado de coisas, agravando-se, nos
levaria directamente à guerra civil e à selvajaria.
Tais são os resultados de uma falsa educação nacional. Desde
há séculos, nem a escola nem a Igreja têm ensinado ao povo aquilo de que ele
tem mais necessidade de conhecer:
o porquê da existência, a lei do destino com o verdadeiro
sentido dos deveres e responsabilidades que a ele se ligam.
Daí, em toda parte, o desarrazoar das inteligências e das
consciências, a confusão, a desmoralização, a anarquia. Estamos ameaçados de
falência social.
Será necessário descer até ao fundo do pélago das misérias
públicas, para ver o erro cometido e compreender que se deve buscar, acima de
tudo, o raio que esclareça a grande marcha humana na sua estrada sinuosa,
através dos precipícios e das rochas que desabam?
/…
Léon Denis, O Grande Enigma, Ao Leitor 3 de 3, 3º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: La Madonna de Port Lligat,
detalhe | 1950, Salvador Dali)
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