A INVESTIGAÇÃO ONTOLÓGICA NA PARAPSICOLOGIA
1) É Acessível o Ontológico ao Parapsicológico?
Se a parapsicologia se nos apresenta como uma nova
problemática do Ser, não há dúvida de que a sua missão científica, se assim
podemos dizer, se defrontará com zonas do conhecimento que se acham em plena
crise. A actualidade, propícia à investigação ontológica, oferece à
parapsicologia excelente ocasião para assinalar as formas reais do
conhecer, muitas das quais ainda não são percebidas pela sensibilidade normal
do indivíduo. A simples possibilidade de um acesso ontológico à parapsicologia implica
a urgência de um que-fazer filosófico apoiado numa sensibilidade
incomum. Se é possível um conhecer extrassensorial, mesmo no seu aspecto
mais limitado, o ontológico poderá ser alcançado (e essa é a nova esperança)
por vias de facto que eliminem todo o obstáculo ao psicológico
incomum.
A relação entre objecto e sujeito, parapsicologicamente considerada, implica a
possibilidade de uma criptestesia, quepermitirá a captação de valores
gnosiológicos provenientes de zonas profundas do homem e do Universo.
Se pudéssemos penetrar ontologicamente as camadas do parapsicológico, o ser
humano, com pleno direito, poderia aspirar a um futuro que signifique o de uma
verdadeira realidade metafísica.
Os actos psíquicos e os momentos extrassensoriais da
parapsicologia são, por si mesmos, valores espirituais, nos quais se oculta a
face de um poderoso númeno, capaz de vencer a relatividade do
mundo circundante, através de um novo Eu do indivíduo. Como de
outras vezes, o campo do saber está sendo solicitado a ampliar-se, mas, desta
vez, apoiado no númeno (i) parapsicológico. É evidente que a
busca metapsíquica se
aproxima, podemos dizer, de um verdadeiro desejo de encontrar para o indivíduo
uma significação espiritual transcendente. Desta vez, se o factor ontológico
for secundado pelo factor parapsicológico, o conhecimento estaria ante a
possibilidade de beneficiar-se grandemente. Seria deplorável se a
parapsicologia se desviasse do seu campo extrassensorial, por falta de
inquietude filosófica; mas a filosofia deverá amparar a parapsicologia,
para que o seu real objectivo não se converta num intranscendente
parapsicologismo.
(i) Númeno é a essência do fenómeno, a coisa-em-si, enquanto o fenómeno
é a manifestação do númeno. (Nota de José Herculano Pires).
2) O Espiritual Como Objecto da Parapsicologia
O parapsicológico experimental já percorreu uma trajectória
suficiente para advertir, à crítica filosófica, que o extrassensorial não é
somente de origem natural e fisiológica, ou ainda biológica, mas que nele se
apresenta, superando o fenómeno, um novo ser espiritual, a
indicar-nos que o espírito, no imanente como no transcendente, é o objecto
obrigatório da parapsicologia. Se um exagerado naturalismo absorvesse a sua
essência psíquica, o númenoparapsicológico ficaria postergado
por muito tempo.
A excessiva naturalidade, que se pretende ver nos factos
psíquicos, faz o filósofo vacilar em decidir-se a interpretá-los. Por isso já
se disse, e com razão, que a demasiada naturalidade de um ramo da
ciência diminui as suas perspectivas metafísicas. Um naturalismo
superlativo poderia desvirtuar essa intencionalidade tão
promissora, que se revela na parapsicologia. Se a técnica metapsíquica se
mecanizar demasiado, teremos apenas uma máquina fenoménica. Entretanto, o que
agora se denomina crise do homem exige penetração da
investigação ontológica nas camadas inabituais da parapsicologia. A
interpretação espiritual dos seus fenómenos poderia significar uma nova
colocação do sentido metafísico do Ser, e ao mesmo tempo a
fundamentação de um esquema religioso digno do grau evolutivo atingido pela
cultura dos tempos actuais. (ii)
(ii) “A religião diz o professor – J.B. Rhine – é,
sem dúvida, a área de interesse mais imediato para a parapsicologia. Definida como
a investigação das funções não-físicas da natureza e dos princípios que a
governam, a parapsicologia teria que reivindicar muitos dos problemas
fundamentais da religião, assim como a patologia está necessariamente
interessada nos problemas da medicina.” (Revista de Parapsicologia, n° 2 –
Buenos Aires, 19,55).
Se é certo que a parapsicologia não poderá deter-se numa
dada interpretação do homem e da existência, isso não impede que a
investigação ontológica, baseada no realismo extrassensorial, a que Eugénio Osty chamou
deconhecimento supranormal, busque um tipo espiritual do Ser,
baseando-se no númeno parapsicológico.
A antiga psicologia baseava-se num trabalho estéril,
acabando por se perder num campo de imaterialidade psicofísica irreal.
Para o psicólogo comum, toda a extrassensorialidade humana é uma ilusão.
Continuando apoiado nos obsoletos sistemas psicofisiológicos, apavora-se com a
possibilidade de um indivíduo metapsíquico. Daí o acesso do espiritual ao
parapsicológico não só representar um triunfo da nova psicologia, mas também um
novo sentido para o Ser, na futura investigação ontológica.
/…
Humberto
Mariotti, O Homem e a Sociedade numa Nova Civilização, 1ª PARTE
O NÚMENO ESPIRITUAL NOS FENÓMENOS SOCIAIS Capítulo I A INVESTIGAÇÃO ONTOLÓGICA
NA PARAPSICOLOGIA 1º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: Alrededores de la ciudad paranóico-crítica:
tarde al borde de la historia europea | 1936, Salvador Dali)
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