Capítulo II – O tempo, o espaço, a matéria
primordial
Espaço ~
É infinito o espaço, pela razão de ser impossível supor-lhe qualquer limite
e porque, malgrado a dificuldade que encontramos para conceber o infinito, mais
fácil nos é, contudo, ir eternamente pelo espaço em pensamento, do que pararmos
num lugar qualquer, depois do qual nenhuma extensão mais houvesse a ser
percorrida.
Para imaginarmos, tanto quanto o permitam as nossas
faculdades restritas, a infinidade do espaço, imaginemos que, partindo da
Terra, perdida no meio do infinito, rumo a um ponto qualquer do Universo, com a
velocidade prodigiosa da centelha eléctrica, que transpõe milhares de
léguas num segundo, havendo, pois, percorrido milhões de léguas mal
tenhamos deixado este globo, nos achemos num lugar de onde a Terra não nos
pareça mais do que uma vaga estrela. Um instante depois, seguindo sempre na
mesma direcção, chegamos às estrelas longínquas, que da nossa morada terrestre
mal se percebem. Daí, não só a Terra terá desaparecido das nossas vistas nas
profundezas do céu, como também o Sol, com todo o seu esplendor, estará
eclipsado pela extensão que dele nos separa. Sempre com a mesma velocidade do
relâmpago, transpomos sistemas de mundos, à medida que avançamos pela amplidão,
ilhas de luzes etéreas, vias estelíferas, paragens sumptuosas onde Deus
semeou mundos na mesma profusão com que semeou as plantas nos prados
terrestres.
Ora, minutos apenas há que caminhamos e já centenas de
milhões de léguas nos separam da Terra, milhares de milhões de mundos passaram
sob os nossos olhares e, entretanto, escutai bem! Na realidade, não
avançamos um único passo no Universo.
Se continuarmos durante anos, séculos, milhares de séculos,
milhões de períodos cem vezes seculares e incessantemente com a mesma
velocidade do relâmpago, nada teremos avançado, qualquer que
seja o lado para onde nos encaminhemos e qualquer que seja o ponto para onde
nos dirijamos, a partir do grão invisível que deixamos e que se chama Terra.
Eis o que é o espaço!
Justificação desta teoria
Concordam essas poéticas e grandiosas definições com o que
sabemos de positivo sobre o Universo? Concordam, porquanto, sucessivamente, a
luneta, o telescópio e a fotografia nos hão feito penetrar, cada vez mais
longe, no campo do infinito.
Durante séculos, os nossos pais imaginaram que a criação se
limitava à Terra que eles habitavam e que julgavam chata. O céu era apenas uma
abóbada esférica onde se achavam incrustados pontos brilhantes chamados
estrelas. O Sol era tido como um facho móvel destinado a distribuir claridade.
Nós, terrícolas, éramos os únicos habitantes da criação, feita especialmente
para nosso uso. A observação, mais tarde, facultou-nos reconhecer a marcha das
estrelas; a abóbada celeste se deslocava, arrastando consigo todos os pontos
luminosos. Depois, o estudo dos movimentos planetários e a fixidez da Estrela
Polar levaram Tales
de Mileto a reconhecer a esfericidade da Terra, a obliquidade da
eclítica e a causa dos eclipses.
Pitágoras conheceu
e ensinou o movimento diurno da Terra sobre o seu eixo, o seu movimento em
torno do Sol e ligou os planetas e os cometas ao sistema solar. Esses
conhecimentos precisos datam de 500 anos a.C. Mas, sabidas apenas de alguns
raros iniciados, tais verdades foram esquecidas e a massa humana continuou
a ser joguete de ilusão. Foi preciso que surgisse Galileu e se desse
a descoberta da luneta, em 1610, para que concepções exactas viessem a
rectificar os antigos erros.
Desde então, o Universo se apresenta qual realmente é.
Reconhece-se que os planetas são mundos semelhantes à Terra e muito
provavelmente habitados também; que o Sol mais não é do que um astro entre
inúmeros outros; que com o telescópio se percebem as estrelas e as nebulosas
disseminadas pelo espaço sem limites, a distâncias incalculáveis; que,
finalmente, a fotografia, recente descoberta do génio humano, revela a presença
de mundos que o olhar do homem jamais contemplara, nem mesmo com o auxílio dos
mais possantes instrumentos.
As chapas fotográficas que hoje se preparam são não somente
sensíveis a todos os raios elementares que afectam a retina, mas alcançam
também as regiões ultravioletas do espectro e as regiões opostas, as do calor
obscuro (infravermelho), nas quais o olhar humano é impotente para penetrar.
Assim é que os irmãos Henry conseguiram tornar conhecidas
estrelas da 17ª grandeza, as quais nenhum olho humano ainda percebera.
Descobriram também, para lá das Plêiades,
uma nebulosa, invisível devido ao seu afastamento.
À medida que os nossos processos de investigação se
ampliam, a natureza recua os limites do seu império. Ao passo que os mais
poderosos telescópios não revelavam, num canto do céu, mais que 625 estrelas, a
fotografia tornou conhecidas 1.421. Assim, pois, em parte alguma o vácuo, por
toda parte e sempre as criações a se desdobrarem em número indefinido! As
insondáveis profundezas da amplidão fatigam, pela sua imensidade, as
imaginações mais ardentes. Pobres seres chumbados num imperceptível átomo,
não podemos elevar-nos a tão sublimes realidades.
/…
Gabriel Delanne, A Alma é Imortal, Terceira
parte – O Espiritismo e a ciência Capítulo II O tempo, o espaço, a matéria
primordial, Espaço, 4º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: Pitágoras, pormenor
d'A escola de Atenas de Rafael Sanzio (1509)
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