sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Victor Hugo | uma chama de fogo a iluminar as idades


Coincidências Ideológicas com Giuseppe Garibaldi e Giuseppe Mazzini ~ 

Todo o vocabulário filosófico de Victor Hugo se assemelha a esse tom dramático que possuem as comunicações mediúnicas. Se se fizesse um estudo das melhores páginas que constituem a literatura mediúnica, ver-se-ia que elas possuem o mesmo estilo do grande poeta francês. O vate de Jersey parecia estar continuamente em transe mediúnico. Por isso a sua doutrina é a do infinito, onde o Ser se mostra como uma partícula divina que electriza a essência cósmica e universal. Mensagens psicografadas como as que apresenta um livro intitulado "Símbolo ou o túmulo fala" (*), corroboram o que dissemos. Há nessa obra mediúnica páginas de um dramatismo espiritual que fazem pensar no estilo victorhugueano. É que no invisível está o mundo das almas onde o grande e majestoso tem as suas raízes. 

De facto, a literatura mediúnica não é convencional nem fictícia; pelo contrário, brota dos abismos profundos do invisível, das mesmas raízes do imaterial, onde o génio só pode falar a linguagem do eterno. O poeta concebia na sua cosmogonia um homem imortal e predestinado e, como ele dizia, sábio, visionário, pensador, taumaturgo, navegante, arquitecto, mago, legislador, filósofo, herói, poeta. Da sua ideologia espiritual e poética se desprendia a mesma teleologia existencial da codificação de Allan Kardec. A ideia do progresso infinito habitava no pensamento de Victor Hugo, pois a alma era para ele um ser que vem ao mundo pela enésima vez e não uma entidade biológica criada no instante da concepção. Sempre pressentiu que uma misteriosa pré-existência rege o destino do espírito; por isso perguntava: "Quem tem incubada essa águia? O abismo incubando o génio? Existe maior enigma? Terão visto outros mundos as grandes almas que transitoriamente se adaptam à terra? Chegarão alguns por isso com tantas intuições?" 

Assim; pois, pressentia que o mistério histórico está entretecido pelos seres espirituais que lhes dão características pessoais a seu tempo. O seu génio se atirava frente a esses seres mecânicos e vazios quando negavam a pré-existência dos espíritos. A defesa que fazia da pedra, do burro, da flor e do anjo era baseada na unidade espiritual da criação. O pensamento de Deus estava para Victor Hugo em tudo o que existe, por isso, nada e ninguém estaria excluído do grande desenvolvimento da história natural e divina. A sua cosmovisão filosófica e religiosa respondia ao que lhe transmitiram os espíritos desencarnados durante o seu desterro na ilha de Jersey, ou seja, desde que a Sra. E. de Girardin (Delphine Gay) o iniciara nas revelações dos tripés mediúnicos. 

O seu trabalho poético e literário deixou de ser um artifício intranscendente, como acontece quando se escreve sem uma visão espiritual da vida. A obra de Victor Hugo, por suas raízes aprofundadas no eterno, foi uma defesa do homem ao considerá-lo como um espírito reencarnado na terra. A sua criação poética se colocou ao lado da maior revelação dos tempos modernos; por isso, disse: ''O Espiritismo é o acontecimento mais notável do século XIX". Coincidiu assim com Giuseppe Garibaldi, que afirmou: "Esta religião da verdade e da ciência se chama Espiritismo''. O seu pensamento também se relacionou com Giuseppe Mazzini, que escreveu uma página admirável para definir a missão da Doutrina Espírita. Ela segue transcrita na íntegra para conhecimento do leitor. 

''O Espiritismo científico, isto é, a alma humana analisada experimentalmente nas suas propriedades e manifestações dará tão inesperados conhecimentos aos estudos, que perante eles quedarão atónitos, abismados e se derrubarão todos os humanos edifícios políticos e morais que até ao presente têm dominado. 

"Pela aplicação prática da resultante do estudo do Espiritismo, uma nova ética, pura, regenerada, potente surgirá da natureza. Será o potentíssimo credo que fará morrer as mais arraigadas instituições político-religiosas que reinam sobre a terra

"Por uma maior e mais disciplinada apreciação das leis que regem o universo, mudará completamente a orientação da ciência e o barulho inevitável que isso haverá de produzir afectará todas as manifestações da vida, que, então, se explicarão pela razão do maior, do mais santo dos conceitos: o do dever. 

"É isto que suporta o Espiritismo. A luta será áspera, fatigante; mas a consequência será inevitável. De que valerá o conluio contrário de todos os animais daninhos da terra: o mais forte, indomável Vetro avança a passos largos, saturado da sabedoria e da fé dos sábios e dos heróis de todas as épocas e, com os fulgores da ciência positiva caçará as feras até nas profundezas do seu mundo interior. 

''Então soprará sobre a terra as auras da paz, de gozo; do peito dos homens surgirá espontâneo um hino de louvor, de amor a Deus; a humanidade, perdendo o último vestígio animal que possui, voltará qual nascente mariposa, bela e pura, à conquista das mais excelsas regiões, das puras esferas. " (**) 

Nestes mesmos pensamentos de Giuseppe Mazzini assentava o sentir filosófico de Victor Hugo quanto ao valor histórico e social da filosofia espírita. Esse mesmo sentir fez falar também outros pensadores como Emilio Castelar, José Pi y Margall, Camille FlammarionAbrahan LincolnVictorien Sardou e outros mais, que eram solidários com a missão espiritual dos fenómenos mediúnicos. Sem dúvida, fez-se silêncio sobre o sentimento espírita de Victor Hugo, mas, nessa negação, nessa oposição sistemática é que está a origem do desastre espiritual da humanidade. Se, por um lado, querem negar que a alma é imortal, por outro, os que nela crêem negam que a alma imortal possa comunicar-se com os homens por razões já insustentáveis e que não vamos considerar aqui. Mas o certo é que somente pelo fenómeno mediúnico, como manifestação do espírito imortal é que a razão humana se inclinará reverente a Deus. Por isso, Victor Hugo aceitou o Espiritismo como mensagem salvadora para o Homem, a Verdade e a Beleza. 

/… 
(*) Obra editada em Paris, em 1933. 
(**) Revista Lumen, Tarrasa, Espanha, 1905. N. do Autor. 


Humberto MariottiVictor Hugo Espírita, COINCIDÊNCIAS IDEOLÓGICAS COM GIUSEPPE GARIBALDI E GIUSEPPE MAZZINI, 10º fragmento da obra. 
(imagem de contextualização: Criança com uma boneca, pintura de Anne-Louis GIRODET-TRIOSON

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