A Irlanda (II)
Duas figuras notáveis e nobres se destacam da multidão de
poetas e escritores irlandeses do nosso tempo. Porque é uma verdadeira multidão
que um subtil escritor, Simone Téry, passa em revista, no seu consciencioso e cativante estudo
sobre o movimento literário da Irlanda.
Destas duas grandes figuras, uma é a de William Butler Yeats (1865-1939; Prémio Nobel em 1923), que é considerado o chefe da renascença das letras
irlandesas e o maior poeta da língua inglesa do nosso tempo. “Penetrado
de influências gaélicas, ele obtém a sua inspiração nas antigas fontes nacionais, exprime a alma nostálgica e apaixonada da Irlanda.”
Tendo entrado na intimidade do grande poeta, Simone Téry o define de um modo
original:
“Yeats e a sua esposa, como tantos irlandeses, são adeptos das ciências
ocultas. Essas pessoas se relacionam com espíritos e fantasmas, como se tivessem velhos conhecimentos.
Eles se dedicam, curiosamente, aos abismos do desconhecido, eles se movem encantados no
meio dos fenómenos misteriosos dos quais nós nos desviamos, porque fugimos
daquilo que não compreendemos. A sua musa, porque é celta,
gosta de se envolver em véus. Toda a obra de Yeats é
cheia de um vago misticismo; ela tem uma inclinação inspirada
na teosofia e nas ciências ocultas.”
Outro escritor, de muito talento, também, exerce uma influência não menos importante
sobre o seu país – Georges Russell (1867-1935)
– considerado a “consciência da Irlanda”, e que Simone Téry nos apresenta
nestes termos:
“Tendo por ascendência uma personalidade magnética, uma vida pura,
uma alma perfeita, Russel reuniu à sua volta tudo o que havia
de inteligente e de nobre na Irlanda,
multiplicou a inspiração de todos e lhes comunicou a sua chama.
O
misticismo de Yeats é mais poético, instintivo; o de
Russel, consciente, reflectido. Das vagas aspirações
sentimentais da raça celta perante o desconhecido, o mistério do mundo, Russel
fez uma filosofia, um princípio de acção.
Ele
também é um adepto das ciências ocultas, mas, cada vez que o interrogam sobre
as suas relações com o invisível, mostra-se cheio de discrição. Quando o
pressionam, diz somente: “O que eu sei é pouca coisa; descobri que a
consciência pode existir fora do corpo, que se pode, às
vezes, ver entidades que estão muito longe, que se pode mesmo falar com
elas a centenas de quilómetros: já falaram comigo dessa maneira. Sei, por
experiência, que os seres sem corpos físicos podem agir sobre
nós profundamente. Um deles lançou-me fluidos vitais e, enquanto isso durou, me
parecia ser chicoteado com electricidade. Estou convencido de que me recordo das
vidas passadas, e conversei com amigos que se lembram igualmente: nós até temos
falado, juntos, dos lugares onde tínhamos vivido. Também vi seres
elementares e os observei acompanhado com aqueles que foram meus companheiros de
descoberta...” (i)
A
obra de Russel é rica de fugas para o infinito e para o Além.
É assim que ele escreve no cabeçalho de seu primeiro livro, Para a
Pátria:
“Eu
sei que sou um espírito e que parti outrora do “eu” ancestral
para tarefas ainda não acabadas, mas sempre repletas da
nostalgia do país natal.” – e afirma as vidas sucessivas, “que
são várias etapas que conduzem à sabedoria,
à purificação na essência divina.”
Além
destes dois escritores, Yeats e G. Russel, justamente célebres, poderíamos
acrescentar um grande número de outros menos conhecidos, visto que a literatura
da Irlanda é uma das mais ricas da Europa, pela variedade e pelo valor das
obras que a compõem. Ela exprime com uma sensibilidade encantadora,
ao mesmo tampo que com uma grande força, as aspirações,
os sonhos, as alegrias e as angústias da
alma céltica.
/…
(i) S. Téry, L’Ile des Bardes, p. 113. (N.O.F.)
LÉON DENIS, O Génio Céltico e o Mundo Invisível,
Primeira Parte OS PAÍSES CÉLTICOS, CAPÍTULO II – A Irlanda 2 de 3, 9º fragmento
da obra.
(imagem de contextualização: A Apoteose dos heróis franceses que
morreram pelo seu país durante a guerra da Liberdade, Ossian, Desaix, Kléber, Marceau, Hoche, Championnet,
pintura de Anne-Louis Girodet-Trioson)
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