Estudos Científicos das Experiências de Quase Morte
A PERCEPÇÃO AMPLIFICADA DURANTE AS EQM
A paradoxal ocorrência de uma percepção muito
intensamente lúcida e os processos de pensamento lógico disponíveis durante
um período de circulação cerebral danificada coloca questões de
especial perplexidade à compreensão actual da consciência e das suas relações
com o funcionamento do cérebro.
Um elevado nível cognitivo, quer físico quer intelectual, e
a complexidade de processos perceptivos durante o período de aparente morte
clínica desafiam o conceito de que a consciência esteja
localizada apenas no cérebro.
Parnia e outros (2001) e Parnia e Fenwick (2002) escreveram
que os dados de vários estudos de EQM’s sugerem que essas experiências
ocorrem com perda da consciência, o que é uma conclusão surpreendente,
porque o cérebro está em estado de disfuncionalidade dado que o doente se encontra
em coma profundo, as estruturas cerebrais, que sustentam a experiência
subjectiva e a memória, devem encontrar-se severamente danificadas.
Experiências complexas tais como as que são descritas nas
EQM não deveriam ter lugar, nem poderiam ser retidas na memória.
É de esperar que, tais doentes, não tivessem a capacidade de
registar experiências subjectivas, como era o caso da grande maioria de
sobreviventes a paragens cardíacas ou, na melhor das hipóteses, a estados de
confusão no caso de falha de funções cerebrais.
O facto de que nas paragens cardíacas a perda de funções
corticais precede a perda rápida da actividade do tronco encefálico constitui
mais um reforço deste ponto de vista. Uma explicação alternativa seria de que
as experiências em apreço tivessem aparecido durante a perda ou a recuperação
da consciência.
A transição do estado consciente para o estado de
inconsciência é rápida e afecta o sujeito de imediato. As
experiências que acontecem durante a recuperação da consciência são confusas, o
que não aconteceu nos casos em estudo. De facto, a memória é um indicador muito
sensível de lesão cerebral e a extensão da amnésia anterior ou posterior à
perda de consciência é uma indicação exacta quanto à severidade da lesão.
Portanto não seria de esperar que acontecimentos sucedidos
imediatamente antes ou depois da perda de consciência fossem nitidamente
recordados.
A CONSCIÊNCIA NÍTIDA DURANTE A PARALISIA CEREBRAL?
Sem o aparecimento de outras teorias sobre as EQM’s, a noção
assumida até aqui mas nunca provada cientificamente, de que a
consciência e as memórias são produzidas por grande número de neurónios e se
encontram localizadas no cérebro, deve ser colocada em discussão.
Como é possível que a consciência nítida relativa a factos
ocorridos fora do corpo possa ser experimentada no momento em que o
cérebro já não se encontra em funcionamento em período de morte clínica,
mesmo com registo nulo de encefalograma (Sabom, 1998)?
Além disso, mesmo os doentes cegos descreveram
percepções visuais durante as experiências fora do corpo durante EQM
(Ring e Cooper, 1999).
O estudo científico das EQM leva ao limite as ideias médicas
e neurofisiológicas acerca do alcance da consciência humana e
das relações mente-cérebro.
ALGUNS ELEMENTOS DAS EQM
Antes de discutir com maior detalhe alguns aspectos
neurofisiológicos do funcionamento do cérebro durante a paragem cardíaca,
gostaria de reconsiderar certos elementos da EQM.
EXPERIÊNCIA FORA-DO-CORPO E MANUTENÇÃO DA IDENTIDADE
Nesta experiência as pessoas têm percepções reais de
uma posição fora e por cima do seu corpo inerte.
Os protagonistas de EQM têm a sensação de terem
largado o seu corpo como um casaco velho e, surpreendidos, verificam
que mantém a sua própria identidade e a possibilidade preceptiva, as emoções e
uma consciência nítida.
Esta experiência fora-do-corpo é cientificamente importante
porque os médicos, enfermeiras e os parentes do doente podem conferir as
declarações que ele relata, corroborando o preciso momento em que a EQM ou a
experiência fora-do-corpo ocorreram – durante o período de ressuscitação
cardiopulmonar (RCP).
Isto provará que uma tal experiência não pode ser uma
alucinação, porque não ocorre com base na “realidade”, nem pode ser uma ilusão,
por esta ser um juízo incorrecto de uma percepção correcta.
Teria a EQM de ser considerada uma espécie de percepção extrassensorial?
Este é o relato de uma enfermeira de uma Unidade de Cuidados
Coronários (Van Lommel e outros, 2001):
“Durante um serviço nocturno chegou à Unidade de Cuidados
Intensivos Coronários uma ambulância com um doente em coma, com cianose. Tinha
sido encontrado num prado, há meia hora, em coma. Quando começámos a entubar o
paciente reparámos que usava dentadura. Tirei-lha, tendo-a colocado no carrinho
de apoio médico. Uma hora e meia depois o doente tinha recuperado o ritmo
cardíaco e a pressão sanguínea, mas continuava entubado, ventilado e em estado
de coma. Foi transferido para a unidade de cuidados intensivos para prosseguir
em respiração artificial. Só mais de uma semana depois me encontrei novamente
com o doente, agora já na enfermaria da cardiologia. No momento em que me viu
disse: “Oh, aquela enfermeira sabe onde estão os meus dentes”. Fiquei
surpreendidíssima e ele explicou: “Você estava lá quando eu fui trazido para o
hospital, tirou-me a dentadura da boca e pô-la no carrinho com todos aqueles
frascos em cima e arrumou depois os meus dentes na gaveta abaixo”.
Fiquei especialmente admirada porque me lembro de isso
ter sucedido durante a altura em que ele estava em coma profundo e a
ser sujeito à ressuscitação cardiorrespiratória (RCP). Parece que o
doente se viu a si próprio deitado na cama e, olhando de cima, pôde observar as
enfermeiras e os médicos atarefados com o processo da RCP. Também foi
capaz de descrever com exactidão e pormenor a pequena sala onde fora
ressuscitado e a aparência dos que ali estavam, incluindo eu mesma. Está
profundamente impressionado pela experiência pela qual passou e já não
tem medo da morte.”
A REVISÃO DA VIDA A TRÊS DIMENSÕES
Durante o episódio assim designado o sujeito sente
presencialmente e revive, não apenas todos os actos como também todos
os pensamentos da sua vida passada, analisando a interinfluência que estes
operaram relativamente a si mesmo e a terceiras pessoas. Todas as acções tidas
e pensamentos havidos parecem ter significado e estão devidamente memorizados.
Porque cada um dos protagonistas de EQM está ligado
às memórias, emoções e dados da consciência de terceiras pessoas, por isso
toma consciência dos próprios pensamentos, palavras e acções tidos para com
elas no momento exacto em que ocorreram. Daqui a existência, durante a revisão
de vida, de uma ligação com os campos da consciência de outras pessoas
bem como com os seus próprios campos de consciência (interligação).
Os doentes analisam toda a sua vida rapidamente; o
tempo e o espaço parecem não existir durante uma tal experiência.
Instantaneamente encontram-se no local onde estiverem a pensar (“não
localidade” – “non-locality”), e podem falar durante horas acerca do conteúdo
da revisão de vida muito embora a ressuscitação possa ter durado apenas
minutos. (Van Lommel, 2004).
Toda a minha vida até ao presente se me deparou numa
revisão como que panorâmica, a três dimensões, e cada evento foi
acompanhado pela consciência do bem e do mal ou com uma análise de
causa e efeito. Não somente me foi dado entender o meu ponto de vista, mas
também o sentir de todas as outras pessoas envolvidas, como se
tivesse dentro de mim todos os seus pensamentos. Isto significa que entendi não
apenas o que tinha feito e pensado, mas também de que modo tinha influenciado
outros, como se me fosse dada visão em todas as direcções. Deste modo nem os
vossos pensamentos são apagados. E sempre, durante toda a revisão, foi
acentuada a importância do amor. Recapitulando, não sei qual foi a duração
dessa revisão e da análise de vida, que pode ter sido longa dado que tudo foi
mostrado, mas ao mesmo tempo parece ter durado apenas uma fracção de segundo,
dado que vivenciei tudo no mesmo momento. O tempo e o espaço parece não
terem existido. Tudo se passava em todos os lugares e ao mesmo tempo, e por
vezes a minha atenção era chamada para qualquer coisa, e lá estava eu presente.
ENCONTROS COM PARENTES FALECIDOS; TRANSMISSÃO DE PENSAMENTO; PREVISÕES; INTERLIGAÇÃO
Se houver encontros numa dimensão de outro mundo com
parentes falecidos, eles são reconhecíveis pela sua aparência, sendo a
comunicação feita por transmissões de pensamento. Também pode ser
experimentada uma previsão, na qual tanto futuras imagens da vida pessoal como
imagens mais gerais do futuro podem ocorrer.
De novo é como se o tempo e o espaço não existissem durante
a previsão. Assim, durante as EQM também é possível efectuar contactos
com os campos de consciência de parentes falecidos (interligação).
Por vezes são encontradas pessoas cuja morte era impossível
ter-se conhecido; Algumas vezes pessoas desconhecidas são encontradas durante
a EQM.
REGRESSO AO CORPO
Alguns doentes conseguem descrever como regressaram ao seu
corpo, a maior parte pelo topo da cabeça, depois de terem sido
informados “que não era ainda a sua altura” ou que “tinham ainda tarefas por
cumprir”. O regresso consciente ao corpo é sentido como algo muito
opressivo. Recuperam os sentidos dentro do seu corpo e é como se se
sentissem “aprisionados” no seu corpo danificado, significando isso toda a dor
e as restrições da sua enfermidade.
TRANSFORMAÇÕES DA PERSONALIDADE CAUSADAS PELA EQM
Praticamente a totalidade das pessoas que tiveram uma EQM perderam
o medo da morte. Isso deve-se à convicção de que há uma
continuidade para a consciência, que retém todos os pensamentos e factos
vividos, mesmo quando se é considerado morto por quem está a ver ou mesmo por
médicos. Você está separado do corpo sem vida, mantendo a sua
identidade e a clara consciência com dotes perceptivos. Parece mesmo que
somos mais do que apenas um corpo.
Todos estes elementos da EQM foram apercebidos durante o
período de paragem cardíaca, durante o período de inconsciência aparente,
durante o período de morte clínica!
Como é que será possível explicar todas estas vivências
durante o período de perda temporária de todas as funções do cérebro devido a
isquémia pancerebral?
Sabemos que as vítimas de paragem cardíaca perdem a
consciência ao fim de segundos. Como é que sabemos se o seu eletrencefalograma
é plano, e como poderemos estudar tal coisa?
/...
Dr.
Pim van Lommel,
As Experiências de Quase-Morte, A Consciência e o
Cérebro Estudos Científicos das Experiências de Quase Morte; A
Percepção Amplificada durante As EQM, A Consciência Nítida durante a
Parelisia Cerebral?
Alguns Elementos das EQM; Experiência
Fora do-Corpo e Manutenção da Identidade, A Revisão da Vida a Três
Dimensões, Encontros com Parentes Falecidos; Transmissão de Pensamento;
Previsões; Interligações, Regresso ao Corpo, Transformações da
Personalidade Causadas Pela EQM (3º fragmento) tradução para a língua portuguesa de
palavra luz depois
de autorizada pelo autor.
(imagem de contextualização: O Hospital Rijnstate,
em Arnhem – Holanda)