segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Nas garras do pensamento crítico ~

Nem um passo à frente ~

Quando Engels escreveu o seu artigo contra o método empírico-indutivo de Bacon, ou melhor, confundindo esse método com:

“O êxtase e a vidência, importados da América”, de que se fazia vítima o empirismo inglês, na pessoa do “eminentíssimo zoologista e botânico Alfred Russel Wallace”, o homem que, simultaneamente com Darwin, apresentou a teoria da evolução das espécies pela selecção natural, o materialismo dialéctico era uma conquista recente, um equívoco em forma de desenvolvimento, e não nos caberia censurá-lo por essa digna atitude de combate.

Engels não poderia entender de outra maneira o “desencaminhamento” de Wallace. Vê-se, não obstante, desse mesmo artigo, que Engels não ficaria no terreno da teoria. Embora mal, com a imperícia de quem jamais se interessara pelo assunto, procurou justificar as suas afirmações, através da observação e da experimentação.

O artigo de Engels foi publicado pela primeira vez em 1898. Devia ter sido escrito, segundo encontramos na edição brasileira da Dialéctica, em 1878. Engels criticava também os trabalhos de CrookesAksakof e Zöllner. É uma crítica violenta e irreverente, em que ele chega a considerar o Espiritismo “a mais estéril de todas as superstições”.

Como se vê, a afirmação não era dialéctica, mas empírica, inteiramente gratuita, e o longo roteiro das experiências espíritas e metapsíquicas aí está para desmenti-la.

Mas tinha a sua razão de ser. Podemos dizer, com Hegel, que o Zeitgeist, o espírito da época, a justificava.

O que espanta, entretanto, é que ainda hoje, quase um século depois, o artigo de Engels seja a única pauta dos que, como o professor Silva Mello, desejam eliminar do mundo em que vivemos, por incómoda, a realidade dos fenómenos espíritas, sem seguir sequer o exemplo de Engels no tocante à experimentação própria.

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José Herculano Pires, Espiritismo Dialéctico, Nem um passo à frente, 5º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: Vi o caçador levantar o arco-íris, pintura em acrílico de Costa Brites)

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