Segunda lição de o Esteta
|22 de Novembro de 1921|
“Após ter-vos dado a descrição das cenas artísticas que
registamos no espaço, para vós será interessante saber como agrupamos os
elementos dessas cenas para compor virtualmente esses quadros.
Tentarei fazer-vos compreender como reunimos as moléculas
necessárias para que a nossa vontade possa projectar os fluidos capazes de se
transformarem nas obras que simbolizem a beleza sob todas as formas. Essas
obras serão sentidas e percebidas por outros seres fluídicos que não são
criadores.
Os seres imateriais que flutuam nas regiões fluídicas,
infinitamente ricas e subtis, só as alcançaram por uma longa e progressiva
evolução pela qual adquiriram conhecimentos e aptidões suficientes para eles
mesmos poderem criar, no mundo onde vivem, entre as suas existências humanas.
Vejamos um exemplo. Um grande escultor, um grande pintor ou
um grande artista parte da Terra. Ele ainda está sob a impressão dos trabalhos
que executou durante a sua existência anterior; chegado ao espaço, não estando
mais o seu espírito limitado pela matéria, ele revê o caminho percorrido desde
o dia em que recebeu a essência criadora divina e adquire a certeza de que
poderá, nas novas existências, desenvolver e completar o que podes chamar de
parcela genial.
Ele vai ver, no espaço, desenrolarem-se todos os factos
proeminentes que presidiram a eclosão da sua inspiração.
Se ele era arquitecto ou escultor, imediatamente, de acordo
com a sua vontade, a sua memória voltará a traçar os monumentos ou as obras de
arte que ele criou.
Admitimos que ele plane nesse meio do qual acabamos de
falar; após um apelo a Deus, o seu pensamento encontrará, pelas suas radiações,
fluidos suficientes para reconstituir todas as suas obras. Se elas têm um
carácter verdadeiro de beleza, se a inspiração é pura, se o ideal é elevado, os
outros seres que rodeiam o artista sentirão despertar em si mesmos um desejo de
imitação e, pouco a pouco, o véu material sendo levantado, o seu pensamento
pessoal será fecundado pelo do artista.
Assim, um grande mestre-escultor fará reviver esses belos monumentos nos quais
a glória do Altíssimo foi cantada durante séculos. Então, imensas catedrais
serão reedificadas; mas o artista não se limita sempre à obra que criou, a sua
visão à distância também reencontra as obras dos seus discípulos, e algumas
vezes a sua inspiração continua no espaço para formar de novo obras que tomam a
diversos autores as partes mais bem-sucedidas de suas concepções. Se
penetrasses no espaço, no plano elevado a que me refiro, poderias perceber que
os monumentos, que não são semelhantes àqueles erigidos no vosso mundo, são
reconstituídos pelo pensamento fluídico de seres inspirados por Deus.
O Criador supremo dá a cada um dos seus filhos uma parcela
animadora que se exterioriza quando o culto do belo e do ideal desperta neles.
Os vossos monumentos religiosos são as imagens vivas desse facto. Esses
telhados arrojados, lançando-se em direcção ao céu, não são uma imagem fiel do
pensamento do ser humano elevando-se numa prece derradeira a esse Deus que nos
criou? Quer seja uma catedral ou um templo da Antiguidade, quer seja na Grécia,
em Roma, em Florença ou no vosso país, procura e sempre encontras a confirmação
de que o pensamento superior preside a eclosão das obras arquitectónicas.
Faço uma pequena comparação, talvez afastando-me do meu
assunto: se considerardes a história da Arquitectura na Alemanha nestes tempos
modernos, constatareis que a elevação em direcção ao céu é ausente,
que formas maciças e quadradas substituem a cúpula ou a ogiva; o pensamento
estende-se sobre a Terra e não se eleva mais em direcção ao divino.
Em pintura, estuda a escola florentina na época da
Renascença; verificaras que quando as obras têm um cunho místico, os traços
se divinizam e as cenas tomam características de real beleza e
de verdadeira grandeza.
Ocorre o mesmo em todas as artes. A música sacra, por
exemplo, tem um carácter que toca de mais perto o divino, enquanto que a música
profana, quando se aproxima da matéria, reveste a característica de um realismo
baixo e grosseiro.”
/…
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte
I – Segunda lição de o Esteta, Composição virtual de obras artísticas, A eclosão da inspiração, 5º
fragmento da obra.
Sem comentários:
Enviar um comentário