Elaborar a apresentação desta obra é uma honra. Trata-se de
histórica homenagem à maior pena espírita de todos os tempos, por ocasião dos
trinta anos de seu passamento. Com muita felicidade e propriedade, o querido
mentor espiritual Emmanuel diz ser José
Herculano Pires “o metro que melhor mediu Kardec” e “a maior
inteligência espírita contemporânea”. De facto, ninguém conseguiu, com
tanta maestria e segurança, ser tão profundo no contexto doutrinário, em
perfeita sintonia com Jesus e o codificador do Espiritismo, como J. Herculano
Pires, “O Apóstolo de Kardec”, assim denominado com máxima justiça por seu
amigo e biógrafo Jorge Rizzini.
Dotado de incomparável cultura geral e doutrinária,
Herculano destaca-se no Jornalismo, na Filosofia e na Parapsicologia. Exímio
escritor, poeta e romancista. Emérito educador e fiel tradutor da codificação
kardeciana, dedicou quase toda a sua vida à excelsa doutrina, por ele muito
amada, o que o tornou seu grande intérprete e defensor.
Distanciados desse “metro”, alguns irmãos espíritas,
infelizmente, fazem ouvidos moucos a devidas advertências em face da
intromissão de pensamentos divergentes no nosso meio doutrinário. Claro que
todos têm o direito de manifestar seus os pontos de vista. Mas uma coisa é
respeitar o pensamento alheio, outra, completamente diferente, é concordar com
a tentativa de desfiguração de uma doutrina, como poucas, muito bem nascida.
Pode-se até tolerar, porém jamais convir com qualquer ingerência descabida no
pensamento espiritista. Aliás, a grande missão do espírita hodierno,
singularmente encarnada por J. Herculano Pires, é preservar para as gerações
seguintes o inigualável património intelecto-moral codificado por Allan Kardec.
A grandiosa obra de amor e de redenção realizada pelo
codificador da doutrina espírita não pode ser maculada, directa ou
indirectamente, de forma ostensiva ou não. Aquele que, em pretéritas existências,
já se revelara destemido e valoroso, personificando um dos mais sapientes
sacerdotes celtas (druidas) e, igualmente, o aguerrido reformador
religioso John
Huss, assassinado pela Inquisição em 1415, tem credenciais inatas para
inaugurar a Era do Espírito, sistematizando a doutrina profetizada pelo Cristo,
quando este nos prometeu enviar o Consolador. (Cf. João 14, 15 e 16.)
Muito cómodo é estar na faixa da indiferença; todavia, a voz
da consciência soará mais alto na dimensão extrafísica, no momento do
autojulgamento, na hora de o ser se encontrar diante de si mesmo...
A doutrina rustenista, oriunda do livro Os Quatro
Evangelhos (Federação Espírita Brasileira), ao lado da ubaldiana, da
laicista pan-americana e da ramatisista, embora tenham o propósito de macular o
Espiritismo, afiguram-se inofensivas à opinião desavisada de alguns profitentes
da Terceira Revelação. Em vez de se informarem sobre tais ideários, verificando
os seus ensinos aberrantes, e em seguida participarem dos debates abertos,
situam-se na inércia, optando por “ficar em cima do muro”. É que assim estarão
sempre “de bem”, poderão frequentar todos os círculos, sem se comprometerem.
Alegam vivenciar, desse modo, a caridade, ser fraternos. Mas, em verdade,
desconsideram a doutrina espírita e até os ensinos do Cristo, os quais repelem
o comodismo dos “lobos fingindo-se de ovelhas” e a “paz de pantanal”.
O nosso querido Herculano
Pires, agindo como verdadeiro cristão, enfrentou com galhardia todos os
adversários da luz. Não se omitiu em nenhum momento, mesmo quando as palavras
malsãs eram proferidas por amigos. Conhecia muito bem os ensinos de Jesus e
exercitava-os com afinco. Compreendia por demais a profundidade da doutrina
cristã e a necessidade de preservá-la; por isso, não fugia à luta, em nome da
integridade e pureza do Cristianismo, ressuscitado pelo próprio Jesus, na
companhia dos “anjos do céu” e, na Terra, erguida sob os cuidados daquela mente
grandiosa, encarnada na cidade francesa de Lyon, em 3 de Outubro de 1804: Hippolyte Léon
Denisard Rivail.
J. Herculano Pires estava ciente do alcance do episódio do
Apocalipse em que Jesus abomina a inércia no exercício da religiosidade:
“Conheço as tuas obras, que nem és frio, nem quente. Quem dera fosses frio, ou
quente! Assim, porque és morno, nem és quente nem frio, estou a ponto de
vomitar-te da minha boca” (3:15-16).
E eis aqui outros ensinos de Jesus contrários à falta de
acção:
“Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque o
remendo tira parte do vestido, e fica maior a rotura”; “Vós sois o sal da
terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Vós sois
a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte”;
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque há de aborrecer-se de um e amar ao
outro. (Mateus 9:16; 5:13-14 e 6:24.)
Infelizmente, existem espíritas que se mostram em posição de
suposta neutralidade... Algumas vezes, a tolerância excessiva mascara outra
apresentação, veste outro significado: a hipocrisia. Verifica-se então o
fingimento, a impostura, a simulação dentro do contexto religioso. O Mestre nos
alerta:
Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.
Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser
conhecido. Porque tudo o que dissestes às escuras, será ouvido em plena luz; e
o que dissestes aos ouvidos, no interior da casa, será proclamado dos eirados.
(Lucas 12:1-3.)
A união dos espíritas não pode ser imaginária, forçada,
fingida. Os que seguem Kardec, diante de conceitos anti-doutrinários, não podem
ficar quietos e calados, em nome de uma falsa tolerância ou unidade aparente,
voltada tão só a proveitos próprios. Por se haver conservado imune a tudo
isso, Herculano merece
de todos os seguidores do Espírito de Verdade o devido respeito, numa muito
sincera consideração; trata-se de exemplo a ser sempre recordado e com máximo
empenho vivido, donde ser para nós matéria estatutária:
Art. 4.º [...] Parágrafo único. Para inspirá-la à consecução
de sua finalidade, a ADE-RJ adoptará como referência a vida e a obra do
jornalista, professor, escritor e filósofo José
Herculano Pires (1914-1979), cuja memória homenageará todos os anos,
em setembro, assim como a de Allan Kardec,
em outubro.
Congratulo-me com a ADE-RJ e com o estimado e
corajoso Sergio F. Aleixo pela feitura de tão dignificante
obra, fundamental para a implementação de uma nova postura a ser exercitada pelas
futuras gerações de espíritas, em homenagem àquele que por excelência a
antecipou: o maior defensor da integridade e pureza doutrinária do
Espiritismo, vindo a esta dimensão em 1914, na antiga Província do
Rio Novo, hoje a cidade de Avaré, no interior do Estado de São Paulo, e liberto
daquela vida física em 1979, na Capital: José
Herculano Pires, que reverenciamos com esta publicação.
Presidente da AME-RIO (Associação Médico-Espírita do Estado do Rio de Janeiro);
Fundador da ADE-RJ (Associação
de Divulgadores do Espiritismo do Rio de Janeiro).
/...
Américo Domingos Nunes Filho, in Prefácio à obra
de Sergio
F. Aleixo – O METRO QUE MELHOR MEDIU KARDEC JOSÉ HERCULANO PIRES,
UMA PROFISSÃO DE FÉ ESPÍRITA EM LINHA RETA, fragmento solto desta obra.
(imagem
de contextualização: São
Luís com a coroa de espinhos, desenho de Alexandre
Cabanel)
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