Experiências magnéticas – Regressão da memória e
previsão – Caso nº 2, Joséphine ~
(II de III)
Tendo interrompido durante alguns meses as minhas
experiências com Joséphine, fiz uma viagem a Paris e tentei ver que resultados
daria o meu modus operandi com a senhora Lambert, um dos meus
antigos sujets. Ver-se-á mais adiante uma exposição do seu caso, de
como fui conduzido a orientá-la para o futuro ao invés do passado.
Tão logo retornei a Voiron, tentei com Joséphine esse método
de premonição sem nada dizer-lhe sobre as minhas experiências em Paris. Eis o resumo dos resultados obtidos.
Primeira sessão ~
Adormeço Joséphine através de passes
longitudinais de maneira a levá-la aos primeiros anos de sua juventude e,
em seguida, desperto-a através de passes transversais. Quando ela retorna
o seu estado normal, retoma a sensibilidade; continuo os passes transversais
com o pretexto de libertá-la mais completamente.
Depois de um minuto ou dois, ela me diz que a adormeço
ao contrário de despertá-la. Fase de letargia bastante
longa. Desperta numa fase de sonambulismo.
Pergunto-lhe se continua em casa do Sr. C. Ela responde que não: deixou-o há
três anos para voltar à sua terra natal em Manziat. Está em casa de seus
pais e tem vinte e cinco anos.
Novos passes transversais, nova fase de letargia durante
a qual ela primeiramente permanece bastante calma, porém, após alguns
instantes, mostra todos os sinais de um grande sofrimento. Torce-se sobre a
cadeira, em seguida vira a cabeça e esconde o rosto com as mãos, chora e o seu
pesar parece tal que a Sra. C., emocionada, se retira para outro aposento.
Quando chega à fase seguinte de sonambulismo,
parece ainda muito triste. Pergunto-lhe o que tem. Ela não quer responder e
vira novamente a cabeça como se tivesse vergonha de alguma coisa. Suspeito a
causa de seu tormento e pergunto-lhe se está casada agora. Ela me responde:
– Não, ele não quer. No entanto, havia-me prometido.
– Diga-me o seu nome; encarregar-me-ei de agir sobre ele, de
fazê-lo raciocinar.
– Você não conseguirá nada, já fiz tudo o que podia.
Terminei descobrindo que ela continua na sua terra
natal, que tem trinta e dois anos e que a sua infelicidade aconteceu há
dois anos. Impossível conseguir o nome do sedutor.
Empenho-a a se deixar levar sem se inquietar com nada.
Na presença de sua dor, que nos emociona a todos, de tão
vivamente expressa que é, reconduzo-a ao seu estado normal através de passes
longitudinais, passando pelas mesmas fases de letargia e
de sonambulismo,
com as mesmas expressões de dor.
Segunda sessão ~
O mesmo processo experimental: primeiramente regressão
da memória através de passes longitudinais, depois a caminhada em
direcção ao futuro através de passes transversais. Após o
estado normal, a letargia calma. Desperta com a idade de vinte e
cinco anos na sua terra natal. Segunda letargia com
sinais de dor e de vergonha; segundo despertar com trinta e dois anos.
Recordo-lhe as nossas antigas relações em Voiron e termino por persuadi-la a
confiar-se a mim. Ela murmura confusa o nome de seu sedutor. É um jovem
lavrador do local, Eugène F., com quem teve um filho. (i)
A continuação dos passes transversais: terceira letargia;
terceiro despertar. Ela tem então quarenta anos, continua em Manziat e
está muito triste. O seu filho morreu há pouco tempo e Eugène
casou-se com outra.
Continuação dos passes transversais: quarta letargia; quarto
despertar. Ela tem quarenta e cinco anos e ganha a vida costurando
calças para um alfaiate. Está muito triste, já não tem notícias
dos seus antigos patrões. Louise, a sua melhor amiga de Voiron,
escreveu-lhe três cartas, depois a correspondência cessou.
Continuo os passes transversais e, já cansado, interrogo-a
após alguns minutos de letargia aparente, sem me aperceber de que ela já
havia avançado diversas fases. Está agora bastante velha, vive com
esforço graças à sua costura, porém acabou por esquecer um pouco as tristezas.
Falo-lhe então da morte. Pergunto-lhe se não deseja saber o que lhe acontecerá
quando deixar esta vida. Ela diz que sim. “Para isso é necessário que eu a faça
envelhecer ainda mais.” Ela hesita um pouco, mas acaba por aceitar quando lhe
assegurei que a traria de volta ao seu estado actual.
Novos passes transversais. Depois de dois ou três minutos
ela volta-se para o encosto de sua cadeira com uma expressão de franco
sofrimento, escorregando em seguida até ao chão. É a agonia e a morte.
Continuo vivamente os passes para transpor esse mau momento e interrogo-a. Ela
está morta; não sofre, porém não vê espíritos. Pôde seguir o seu
enterro e ouvir o que diziam dela: “Foi bom para a pobre mulher; ela não tinha
já razão para viver.” As preces do padre não lhe adiantaram grande coisa, porém
a sua presença em torno do caixão afastou os maus espíritos. As
ideias espíritas que ela havia adquirido em casa do seu antigo patrão foram-lhe
muito úteis porque permitiram-lhe aperceber-se do seu estado.
Não achei prudente desta vez levar mais longe a experiência.
Trouxe o sujet ao seu estado normal através de passes
longitudinais que provocaram, por ordem inversa, os mesmos gestos
característicos da agonia e da sedução, durante as fases de letargia correspondentes.
Terceira sessão ~
Um dos meus amigos, cujo genro havia recentemente
desaparecido em circunstâncias misteriosas, havia-me enviado uma roupa que
tinha pertencido ao desaparecido, suplicando-me que me esforçasse por obter
alguns detalhes sobre o trágico acontecimento através de um dos meus sujets.
Adormeci Joséphine, após haver colocado a tal roupa entre as
suas mãos. Alguns minutos depois, determinei-lhe que procurasse alguma
pista da pessoa a quem o objecto havia pertencido. Ela respondeu-me que
não sentia nada. Imaginando que ela não estivesse suficientemente desligada do
seu corpo físico, aprofundei-lhe o sono através de passes longitudinais.
Constatei então, não sem admiração, que durante a fase de letargia que
se seguiu à minha ordem ela se entregou à mesma mímica e à qual se
abandonava logo que eu a impelia ao futuro, durante as sessões precedentes,
através de passes transversais. (ii) Quando ela chegou à
fase sonambúlica onde
podia responder-me, tinha trinta e cinco anos. Continuei os passes
longitudinais e cheguei assim progressivamente até à morte, passando pelo
espectáculo da sua agonia e, em seguida, ao seu despertar na vida do
espaço. Ela me confirmou o que já havia dito a respeito do seu
estado: não sofria, mas encontrava-se numa obscuridade quase
completa, iluminada de tempos em tempos por luzes frouxas. Percebia espíritos
mais ou menos luminosos que flutuavam à sua volta, porém não podia
comunicar-se com nenhum deles. As ideias espíritas que havia adquirido na
casa dos seus antigos patrões permitiram-lhe suportar mais pacientemente o seu
estado actual, apesar de serem bastante vagas, porque já fazia muito tempo que
já não ouvia falar desse assunto.
Enfim, continuando a magnetização, sentiu a
necessidade de reencarnar; e foi durante uma fase de letargia que
foi feita a sua entrada no ventre de sua mãe, caracterizada pela posição
de feto que ela tomou.
Agora ei-la menina; morre muito jovem ainda e não
vê para que servem todas as reencarnações sucessivas.
Retorna muito rapidamente ao estado normal sob a influência
de passes transversais, auxiliados pela sugestão.
Quarta sessão ~
Joséphine acaba de deixar a família C., onde achava o
serviço penoso demais. Implorou-me que a tomasse provisoriamente ao meu serviço
enquanto procurava outro emprego.
Foi o que fiz.
Essa quarta sessão teve sobretudo por finalidade provocar em
Joséphine a revelação de factos bastante próximos para que eu pudesse
controlá-los.
Adormeço-a através de passes longitudinais conforme o
habitual e levo-a ao estado que precede o seu nascimento na vida actual e,
onde ela ainda é Jean-Claude. Confirma-me então tudo o que disse
nas outras sessões. Pela pressão do meu dedo no meio de sua fronte, procuro
saber exactamente em que época foi soldado em Besançon. Ele não me
pode dar a data, mas, a meu pedido, diz-me que a grande festa dos soldados
não era a 14 de julho, porém em 1º de maio. Era efectivamente no 1º de
maio que era festejado o Dia de São Filipe, de 1830 a 1848 e, parece-me muito
difícil explicar naturalmente esta recordação.
Em seguida, trago Joséphine rapidamente à sua idade
actual através de passes transversais e continuo esses passes
envelhecedores que, como nas sessões precedentes, determinam primeiramente
uma longa fase de letargia ao longo da qual se produz a mímica das
dores do parto. (A fase de sonambulismo,
onde nas sessões precedentes ela tinha vinte e cinco anos, passa-me
despercebida, provavelmente porque eu havia dado um passo mais rápido que
a sua progressão no tempo.)
Ela tem agora trinta e cinco anos, o seu pai morreu, a
sua mãe e o seu filho vivem ainda. Pergunto-lhe o que fez desde que deixou o
casal C., em casa de quem ela havia trabalhado durante longo tempo em Voiron.
Responde-me que primeiro trabalhou como doméstica na casa do
coronel de Rochas, enquanto esperava uma vaga nas Galerias Modernas
de Grenoble, a qual obteve depois de um mês e meio; mas que permaneceu apenas
três meses como vendedora nessa grande loja, retornando então à casa dos seus
pais aproximadamente no Dia de Todos os Santos (1904). Depois recebeu uma
carta do coronel que a convidava a ir a Voiron para experiências.
Dispunha-se a partir, quando a sua mãe faleceu. Desde então já não obteve
notícias dele. (iii)
Quinta sessão ~
Começo por pressionar a fronte de Joséphine e ela desperta.
Ela recorda-se pouco a pouco da sua vida passada, que eu apenas faço
aflorar rapidamente. Diz-me que, quando era pequena, antes de ser Philomène, se
chamava Alice e que, antes de ser o homem que matou, tinha tido diversas
encarnações, entre as quais uma de macaco, mas que não se recorda delas. Tudo
de que se lembra é que sofria nos intervalos. Confirma-nos que há animais
bons e maus.
Digo-lhe em seguida que a adormecerei através de passes
longitudinais e que desejo que caminhe para o futuro. Conta-me então que
está empregada como vendedora nas Galerias Modernas, recebendo um franco e meio
por dia, alimentada e alojada num quartinho que dá para uma rua de fundos
(facto que, como eu já disse, não ocorreu). Faço-a passar rapidamente pela fase
dolorosa que corresponde à sedução e na qual ela ainda se torce de dor.
Quando pode responder-me, tem trinta e cinco anos. (iv) Falo-lhe
de sua vida em Voiron; ela já não obteve mais notícias dos seus antigos
patrões, excepto através da sua amiga Louise, (v) que
lhe escreveu apenas três vezes. Recebeu, há sete ou oito anos, (vi) uma
carta do coronel de Rochas convidando-a a ir à sua casa em Agnèles para
experiências. Estava pronta para partir quando a sua mãe adoeceu, precisando
então ficar perto dela. A mãe curou-se e morreu somente há dois anos (isto é,
em 1919).
/…
(i) Tirei informações no local. Eugène F. lá vive
actualmente, pertence a uma família de lavradores abastados e nasceu em
1885. Eugène e Joséphine moravam em casas vizinhas, têm a mesma idade e fizeram
juntos a primeira comunhão. (A.R.) (ii) Disso parece resultar que o método de magnetização,
ou seja, a direcção dos passes, não tem importância de maior. O
essencial parece ser o relaxamento dos laços que unem ao corpo físico o corpo
astral para permitir a este último retomar a direcção já por
ele seguida ou a que se lhe sugere e, sem dúvida, para também lhe
permitir retomar mais facilmente as formas diversas das épocas
evocadas. (A.R.)
(iii) Ela realmente veio a minha casa como
camareira, onde permaneceu um mês; porém não pôde obter a vaga que desejava nas
Galerias Modernas, partindo directamente de minha casa para a sua cidade. Ainda
não lhe escrevi, pedindo-lhe que regressasse a Voiron para novas
experiências. (A.R.)
(iv) Ela tinha dezoito anos em 1904; estará com trinta e
cinco anos em 1921. (A.R.)
(v) Encontrar-se-á explicação mais adiante sobre o caso
de Louise (caso nº 5). (A.R.)
(vi) Consequentemente, 1921 menos oito, isto é, em 1913, ela teria então
cerca de 27 / 28 anos. (A.R.)
Albertde
Rochas, As Vidas Sucessivas, Segunda Parte
Experiências magnéticas, Capítulo II – Regressão da memória e
previsão / Caso nº 2 – Joséphine, 1904 (II de III) 10º
fragmento da obra. (imagem de contextualização: A aurora dos transatlan,
pintura em acrílico de Costa
Brites)