~~ fusão do bem com o belo: o objectivo sublime da criação ~
(Março de 1922)
Em resumo, na lei eterna do Universo, o objectivo sublime da
criação, é a fusão do bem com o belo. Esses dois princípios são
inseparáveis, eles inspiram toda a obra divina e constituem a base essencial
das harmonias do Cosmos.
O pensamento e a intenção divinos sendo o bem,
a manifestação deles é o belo. Na sua ascensão, o ser
deverá mais e mais compenetrar-se desse pensamento soberano, dessa vontade e,
dedicar-se a realizá-los em si e à sua volta, sob formas sempre mais
perfeitas. A sua felicidade consistirá em assimilar essa lei e em
cumpri-la. As alegrias íntimas e profundas que resultarão disso
são a demonstração evidente do objectivo do Universo, alegrias que toda a
linguagem humana, dizem-nos os espíritos, é insuficiente para as
definir. Essas leis, esse objectivo essencial, o Espiritismo não
somente os ensina; ele ainda nos indica os meios de alcançá-los, de
praticá-los. Sob esse ponto de vista, o seu papel é notável e a sua
intervenção, no actual momento da história, é providencial.
Há um século vimos assistindo ao colossal desenvolvimento da indústria e
das suas invenções, à descoberta e à aplicação dos recursos físicos da Terra.
Disso resultou, nas ideias, uma poderosa corrente materialista,
que deu um novo impulso aos apetites, às necessidades imperiosas de bem-estar e
de usufrutos. A necessidade de se opor uma contra-influência
espiritualista a essa corrente cada vez mais se faz sentir.
A evolução material necessita de uma evolução filosófica e
religiosa paralela, sem o que as forças intelectuais se voltariam,
cada vez mais, na direcção do mal e o mundo desabaria num grande
cataclismo do qual a última guerra seria apenas o prelúdio e dele nos daria só
uma ideia.
Acima da vida presente, que é somente transitória, é preciso, entre
outras coisas, fazer entrever a outra vida, que é o seu objectivo e a sua
sanção. Unicamente pelo acordo final das ciências, das filosofias e
das religiões mais evoluídas é que o pensamento atingirá os altos
cumes e que a humanidade encontrará a confiança e a paz, com conhecimento das
verdades essenciais, debaixo das suas diversas faces.
/...
Será que o reino do bem nunca terá lugar na Terra?
«O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar,
predominarem os bons. Então, farão com que aí reinem o amor e a justiça, fontes
do bem e da felicidade. É através do progresso moral e praticando as
leis de Deus que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos e dela
afastará os maus. Estes, porém, não a deixarão, senão quando daí estiverem
banidos o orgulho e o egoísmo.
»A transformação da humanidade foi predita e
avizinhais-vos do momento em que ela se dará, momento cuja chegada apressam
todos os homens que auxiliam o progresso. Essa transformação verificar-se-á
através da reencarnação de Espíritos melhores, que constituirão na Terra uma
geração nova. Então, os Espíritos dos maus, que a morte vai ceifando dia-a-dia
e, todos os que tentem deter a marcha das coisas, serão daí excluídos, porque
estariam deslocados entre os homens de bem, cuja felicidade perturbariam. Irão
para mundos novos e menos avançados, para desempenhar missões penosas,
trabalhando pelo seu próprio avanço, ao mesmo tempo que trabalharão pelo dos
seus irmãos mais atrasados. Não vêem neste exílio da Terra, transformada a
sublime alegoria do Paraíso perdido e, na vinda do homem para a Terra em
semelhantes condições, trazendo em si o gérmen das suas paixões e os vestígios
da sua inferioridade primitiva, a não menos sublime alegoria do pecado
original? Considerado deste ponto de vista, o pecado original prende-se
com a natureza ainda imperfeita do homem que, assim, só é responsável por
si próprio, pelos seus próprios erros e não pelos dos pais.
»Todos vós, homens de fé e de boa-vontade, trabalhai,
portanto, com ânimo e zelo na grande obra da regeneração, para colherdes pelo
cêntuplo o grão que tiverdes semeado. Ai dos que fecharem os olhos à luz!
Preparam para si próprios longos séculos de trevas e decepções. Ai dos que
fazem dos bens deste mundo a fonte de todas as suas alegrias! Terão que
sofrer privações muito mais numerosas do que os gozos de que desfrutaram! Ai,
sobretudo, dos egoístas! Não encontrarão quem os ajude a carregar o fardo das
suas misérias.»
Resposta proferida pelo Espírito S. Luís, in "O
Livro dos Espíritos", Allan Kardec,
à pergunta número 1019 – colocada acima – do Paraíso, Inferno e
Purgatório.
Luís IX de França (i)
("Allan
Kardec, que eu gosto de chamar com toda a legitimidade, o nosso
querido professor Hipólito Leão, foi a pessoa designada para coligir o
ensino comunicado pelos espíritos nos milhares de comunicações racional e
metodicamente organizadas. ALLAN KARDEC faz a diferença, distancia-se com
nobreza de sentido crítico, liberto da paixão de se impor como entidade
liderante e sacralizada. O nosso querido e estimado professor Hipólito Leão
continua na sombra, com a elevação da modéstia e a coragem da inteligência,
a dizer as palavras certas e, a aconselhar a atitude racional, a cultura do
rigor e da lucidez. "espiritualismo
racional, in comentários a este sítio, 22/09/2013)
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte III – Fusão
do bem com o belo: objectivo sublime da criação, 11/13º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: A educação de São
Luís, in painéis "A Vida de São
Luís", Panteão, Paris, óleo sobre tela de Alexandre
Cabanel)