domingo, 10 de março de 2019

pensamento e vontade ~


~~~ formas do pensamento ~
(III)

No livro recente de H. D. Bradley, Towards the Stars, encontram-se declarações idênticas, provenientes de personalidades mediúnicas, através dos célebres médiuns Srs. Osborne LeonardTravers-Smith.

Eis, por exemplo, o que diz a personalidade mediúnica de “Johannes”, pelo médium Leonard:

“É-me necessário, em primeiro lugar, explicar-lhe em que consistem os fantasmas em questão. São fantasmas do vosso cérebro. Não são espírito nem matéria. Consistem num elemento da actividade intelectual, que deixou atrás dela a sua impressão. Só os possuidores de faculdades psíquicas muito desenvolvidas podem perceber essas “formas-pensamento”.

Perguntas-me porque alguns desses fantasmas se formam em determinados meios e não noutros, onde seria mais lógica a sua aparição. É que o fenómeno depende da intensa vitalidade da ideia geratriz. Uma prisão, um manicómio, são indubitavelmente os ambientes menos susceptíveis de assombramentos, porque também mais desertos de esperança e de actividades vitais. É muito mais provável, portanto, que o fantasma de um assassino assombre o local do seu crime do que o da sua execução quando condenado pela justiça humana.” (Pág. 272).

E Astor, o Espírito-guia de Travers-Smith, adverte por sua vez:

“Os fantasmas, isto é, as “formas-pensamento”, aparecem às vezes espontaneamente, devido a emoções terríveis, conjugadas com o pavor que lhes causam os elementos necessários à sua exteriorização. Assim se compreende não seja a Torre de Londres um lugar assombrado. Tendo sido um presídio, parece-me, vale por um ambiente no qual a mentalidade dos encarcerados se tornava obtusa, devido à triste monotonia da própria condição, desprovida de qualquer sentimento emocional ou passional, ou seja, assim um estado de desesperação resignada. E o desespero não é elemento propício à formação de fantasmas.”

Antes de passar a outro assunto, vou ainda relatar um episódio cuja interpretação é, antes de tudo, embaraçante.

O Sr. Joseph Briggs publicou a acta de uma sessão realizada em sua casa, com a famosa médium Sra. Everitt, pessoa rica, que apenas trabalhava por amor à causa.

Omito as manifestações obtidas, para só tratar do que nos interessa. Diz o narrador:

“Notável incidente veio misturar-se às manifestações, quando um dos assistentes, o Sr. Aron Wilkinson, dotado de clarividência, exclamou de repente: “Um papagaio pousa-me no ombro e agita as asas... Agora, voou sobre a Sra. Everitt...” (A Sra. Everitt estava sentada do outro lado da mesa).

Ela diz, por sua vez, estar a sentir o contacto da ave.

Wilkinson continua: “Agora o papagaio canta o God Save the Queen (o hino real). Agita novamente as asas, sobe, ei-lo que se foi”.

Episódio incompreensível para todos, menos para a Sra. Everitt, que logo o explicou, contando que havia meses se incumbia de guardar um papagaio, que muito se lhe afeiçoara.

Ainda na véspera recebera de sua casa uma carta, na qual lhe informavam que o bicho aprendia rapidamente a cantar o hino real.

Todos os presentes ignoravam o facto e há a considerar que a Sra. Everitt reside numa província distante.

Este incidente é único no rol de minhas experiências.” (Light, 1903, pág. 492).

Não há dúvida de que o episódio em apreço se explica por um fenómeno de objectivação do pensamento subconsciente da Sra. Everitt.

A circunstância de haver na véspera recebido uma carta, em que se lhe informara que o papagaio aprendera a cantar o hino a que aludira o clarividente Wilkinson, não serve senão para demonstrá-lo ulteriormente.

Não obstante, a descrição do vidente, combinada com a afirmativa do médium, de lhe haver sentido o contacto, tenderia a provar a presença de uma materialização da imagem de um papagaio, e não da mera objectivação de uma “forma fluídica de pensamento”.

E isto é ainda mais verosímil se considerarmos que a Sra. Everitt possuía notáveis faculdades de materialização.

Assim sendo, esse episódio pertenceria à categoria dos fenómenos de ideoplastia, de que nos vamos ocupar mais adiante.

Se se tratasse realmente da materialização de imagem subconsciente, dever-se-ia, contudo, notar uma circunstância primariamente excepcional: a de serem as materializações do pensamento, com raras excepções, constantemente “plásticas”, ou seja, “inanimadas”, ao passo que, no caso vertente, o papagaio materializado teria voltejado pela sala, como se fora um ser vivente.

Sem embargo, poder-se-ia sustentar que o facto também pode ser explicado pela acção da vontade subconsciente do médium, que poderia ter agido à distância sobre a sua própria criação ectoplásmica, determinando-lhe os movimentos.

Termino a segunda parte desta obra, advertindo que, até aqui, não se cogitou senão de modalidades de “objectivação de pensamento” que não fossem susceptíveis de demonstração experimental, propriamente dita.

Doravante, porém, as nossas pesquisas se prenderão a duas categorias de factos, graças aos quais atingimos a prova experimental científica da existência incontestável de uma projecção objectivada das “formas-pensamento”, observadas pelos videntes.

Assim, constataremos ao mesmo tempo a existência provável de uma projecção objectivada do pensamento, seja nos casos alucinatórios provocados por sugestão hipnótica, seja nos de alucinação espontânea ou voluntária entre os artistas e, em geral, nas alucinações patológicas propriamente ditas. (*)

/…
(*) Na sua obra Libertação (psicografia de Francisco Cândido Xavier), o espírito André Luiz narra interessantes episódios desse género. (N.E.).


Ernesto BozzanoPensamento e Vontade – Formas do pensamento 3 de 3, 8º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: A Female Saint_1941, pintura de Edgard Maxence)

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