~~~ formas do pensamento ~
(III)
No livro recente de H. D. Bradley, Towards the Stars, encontram-se declarações idênticas, provenientes de personalidades mediúnicas, através dos célebres médiuns Srs. Osborne Leonard e Travers-Smith.
Eis, por exemplo, o que diz a personalidade mediúnica de
“Johannes”, pelo médium Leonard:
“É-me necessário, em primeiro lugar, explicar-lhe em que
consistem os fantasmas em questão. São fantasmas do vosso cérebro. Não são
espírito nem matéria. Consistem num elemento da actividade intelectual,
que deixou atrás dela a sua impressão. Só os possuidores de faculdades
psíquicas muito desenvolvidas podem perceber essas “formas-pensamento”.
Perguntas-me porque alguns desses fantasmas se formam em
determinados meios e não noutros, onde seria mais lógica a sua aparição. É
que o fenómeno depende da intensa vitalidade da ideia
geratriz. Uma prisão, um manicómio, são indubitavelmente os ambientes menos
susceptíveis de assombramentos, porque também mais desertos de esperança e
de actividades vitais. É muito mais provável, portanto, que o
fantasma de um assassino assombre o local do seu crime do que o da sua execução
quando condenado pela justiça humana.” (Pág. 272).
E Astor, o Espírito-guia de Travers-Smith, adverte por
sua vez:
“Os fantasmas, isto é, as “formas-pensamento”, aparecem às
vezes espontaneamente, devido a emoções terríveis, conjugadas com o pavor que
lhes causam os elementos necessários à sua exteriorização.
Assim se compreende não seja a Torre de Londres um lugar assombrado. Tendo sido
um presídio, parece-me, vale por um ambiente no qual a mentalidade dos encarcerados
se tornava obtusa, devido à triste monotonia da própria condição, desprovida de
qualquer sentimento emocional ou passional, ou seja, assim um estado de
desesperação resignada. E o desespero não é elemento propício à formação de
fantasmas.”
Antes de passar a outro assunto, vou ainda relatar um
episódio cuja interpretação é, antes de tudo, embaraçante.
O Sr. Joseph Briggs publicou a acta de uma sessão realizada
em sua casa, com a famosa médium Sra. Everitt, pessoa rica, que apenas
trabalhava por amor à causa.
Omito as manifestações obtidas, para só tratar do que nos
interessa. Diz o narrador:
“Notável incidente veio misturar-se às manifestações, quando
um dos assistentes, o Sr. Aron Wilkinson, dotado de clarividência, exclamou de
repente: “Um papagaio pousa-me no ombro e agita as asas... Agora,
voou sobre a Sra. Everitt...” (A Sra. Everitt estava sentada do outro lado da
mesa).
Ela diz, por sua vez, estar a sentir o contacto da
ave.
Wilkinson continua: “Agora o papagaio canta o God
Save the Queen (o hino real). Agita novamente as asas, sobe, ei-lo
que se foi”.
Episódio incompreensível para todos, menos para a Sra.
Everitt, que logo o explicou, contando que havia meses se incumbia de guardar
um papagaio, que muito se lhe afeiçoara.
Ainda na véspera recebera de sua casa uma carta, na qual lhe
informavam que o bicho aprendia rapidamente a cantar o hino
real.
Todos os presentes ignoravam o facto e há a considerar que a
Sra. Everitt reside numa província distante.
Este incidente é único no rol de minhas experiências.” (Light,
1903, pág. 492).
Não há dúvida de que o episódio em apreço se explica
por um fenómeno de objectivação do pensamento subconsciente da
Sra. Everitt.
A circunstância de haver na véspera recebido uma carta, em
que se lhe informara que o papagaio aprendera a cantar o hino a que aludira o
clarividente Wilkinson, não serve senão para demonstrá-lo ulteriormente.
Não obstante, a descrição do vidente, combinada com a
afirmativa do médium, de lhe haver sentido o contacto, tenderia a provar a
presença de uma materialização da imagem de um papagaio, e não
da mera objectivação de uma “forma fluídica de pensamento”.
E isto é ainda mais verosímil se considerarmos que a Sra.
Everitt possuía notáveis faculdades de materialização.
Assim sendo, esse episódio pertenceria à categoria dos
fenómenos de ideoplastia, de que nos vamos ocupar mais
adiante.
Se se tratasse realmente da materialização de imagem
subconsciente, dever-se-ia, contudo, notar uma circunstância primariamente
excepcional: a de serem as materializações do pensamento, com raras
excepções, constantemente “plásticas”, ou seja, “inanimadas”, ao passo que,
no caso vertente, o papagaio materializado teria voltejado pela sala, como se
fora um ser vivente.
Sem embargo, poder-se-ia sustentar que o facto também pode
ser explicado pela acção da vontade subconsciente do médium, que poderia ter
agido à distância sobre a sua própria criação ectoplásmica, determinando-lhe os
movimentos.
Termino a segunda parte desta obra, advertindo que, até
aqui, não se cogitou senão de modalidades de “objectivação de pensamento” que
não fossem susceptíveis de demonstração experimental, propriamente dita.
Doravante, porém, as nossas pesquisas se prenderão a duas
categorias de factos, graças aos quais atingimos a prova experimental
científica da existência incontestável de uma projecção objectivada das
“formas-pensamento”, observadas pelos videntes.
Assim, constataremos ao mesmo tempo a existência provável de
uma projecção objectivada do pensamento, seja nos casos alucinatórios
provocados por sugestão hipnótica, seja nos de alucinação espontânea ou
voluntária entre os artistas e, em geral, nas alucinações patológicas
propriamente ditas. (*)
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(*) Na sua obra Libertação (psicografia de Francisco
Cândido Xavier), o espírito André Luiz narra interessantes episódios desse
género. (N.E.).
Ernesto Bozzano, Pensamento e Vontade – Formas do pensamento 3 de 3, 8º fragmento da obra.
Ernesto Bozzano, Pensamento e Vontade – Formas do pensamento 3 de 3, 8º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: A Female Saint_1941,
pintura de Edgard
Maxence)
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