Natureza Moral da Terapia Espírita (II)
Esse é um aspecto pouco conhecido da terapia espírita.
As pessoas que recorrem a esse processo não o fazem por
auto-suficiência, mas por estarem submetidas a viciações ou perversões de que
se envergonham.
Conhecemos casos de homossexualidade masculina e feminina
que foram assim auto-curados. Não se trata propriamente de uma auto-cura, pois a
terapia espírita foi realizada pelos espíritos e não por elas mesmas. Essas vítimas,
conhecendo a doutrina, cultivaram a fé racional e conseguiram
impor a si mesmas disciplinas curadoras a que se apegaram com firmeza e
constância.
Os que perseveram nas suas boas intenções criam condições
favoráveis à acção curadora dos espíritos terapeutas.
É emocionante o caso de um rapaz de família exemplar que
esteve à beira do suicídio.
Foi salvo por uma voz que lhe soou na mente dizendo:
“Deus me permitiu anunciar-te a hora da libertação. Daqui
por diante não sentirás mais os impulsos negativos que te torturavam. Esgotaste
perante a Espiritualidade Superior um passado de ignomínias (i).”
Não foi um caso de auto-sugestão, mas de
perseverança na prova, como depois lhe explicou a entidade protectora que
lhe falara em particular, dizendo então pela boca de um médium que não o
conhecia e nada sabia do seu sofrimento oculto.
Nos casos como estes revela-se a importância da vontade do
paciente, como acontece na terapêutica em geral. Numa batalha oculta como a
deste jovem intervêm influências de entidades vingativas, que podem levá-lo ao
desespero, mas, em contrapartida, há sempre assistência de espíritos amigos, cuja
acção se torna mais poderosa quando o paciente desperta as suas potencialidades
volitivas e decide o seu destino por si mesmo. Firmado no seu direito de
escolha e amparado pelas energias da vontade e os estímulos da
consciência de sua dignidade humana, o espírito pode superar as provas mais
desesperantes e triunfar sobre as suas tendências inferiores provenientes do
submundo da animalidade. Por isso a terapêutica espírita condena e repele a
capitulação actual da psiquiatria da libertinagem.
A condenação hipócrita do sexo pelas religiões cristãs
sobrecarregou de preceitos e ordenações morais que fomentaram por toda a parte
o fingimento e a hipocrisia. As tentativas cruéis de abafar o instinto sexual
através de um moralismo ilógico, como o da era vitoriana na
Inglaterra, prepararam a explosão sexualista da actualidade, com o rompimento
explosivo dos diques e açudes tradicionais. Todos os moralistas condenaram
veementemente o pan-sexualismo de Freud, como se ele tivesse
culpa de só encontrar, nos traumatismos espantosos do consultório, a violência
da libido, dominadora oculta de uma civilização em ruínas. A loucura de Hitler e dos seus
comparsas recalcados e homossexuais, bem como a megalomania ridícula e
exibicionista de Mussolini,
não surgiram das heranças bárbaras, mas do pietismo castrador do medievalismo.
O histerismo nazi, ligando-se ao exibicionismo fascista e à necrofilia
nipónica, resultaram na formação do Eixo e na explosão da Segunda Conflagração
Mundial. Foi uma explosão de recalques. Até mesmo os signos
sexuais estavam presentes no sigma nazi, no fascio de
Mussolini e no sol nascente de Hiroíto. Veio depois,
confirmando esse conluio libidinoso, em que floresceu desavergonhado o
homossexualismo germânico. Era evidente que viria depois a era
pornográfica em que nos encontramos. Marcuse diagnosticou
o mal da civilização, mas não foi capaz de lhe propor a solução conveniente,
que aos poucos se vai delineando numa volta penosa ao reconhecimento da
naturalidade do sexo, sem os excessos e desmandos da actualidade, em que a
contribuição russa aparece com a mística libidinosa de Rasputin.
Historicamente, pesa sobre a figura angustiada de Paulo de Tarso a
responsabilidade dessa tragédia mundial. Porque foi ele, o Apóstolo dos
Gentios, quem implantou nas comunidades nascentes do Cristianismo Primitivo as
leis de pureza do Judaísmo farisaico, tantas vezes condenadas por Cristo. O
seu zelo pelo Cristianismo chegou ao excesso de deformá-lo, na luta que
teve de enfrentar com a libertinagem do paganismo. Armou a dialéctica histórica
da tese pagã contra a antítese cristã-judaica, que resultou na síntese da
hipocrisia clerical. Aldous
Huxley colocou este problema nos seus livros Os Demónios de
Loudan e O Génio e a Deusa.
Kardec já havia antecipado, nos meados do século passado, as
convulsões morais que abalariam o mundo a partir da Guerra do
Piemonte. Previu a sucessão de guerras e revoluções que se desencadeariam,
com surpreendentes transformações sociais, políticas e culturais em todo o
mundo, acentuando que não eram catástrofes geológicas, que aconteceriam naturalmente, como sempre acontecem, mas catástrofes morais que abalariam
as nações aparentemente mais seguras nas suas tradições. E o remédio
indicado para a reconstrução do mundo seria a educação das novas gerações, nos
princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, o lema da Revolução
Francesa que ressurgiria com o restabelecimento ou a ressurreição do
Cristianismo de Cristo e não dos seus vigários, como anunciaria também o Padre
Alta (*), Doutor da Sorbonne, suspenso das ordens pelas suas ideias perigosas.
/…
(*) Também, (CEFi, Centro de Estudos de Filosofia, José Eduardo Franco / Padre Sena Freitas / John Lancaster Spalding). Nota desta publicação.
José Herculano Pires, Ciência Espírita e
suas implicações terapêuticas, 3 Natureza Moral da Terapia Espírita 2 de 3, 9º
fragmento da obra.
(imagem de contextualização: O peregrino sobre o mar
de névoa, por Caspar David
Friedrich)
(Bruckner: Sinfonia
n. 3 (versão 1889), hr-Sinfonieorchester / Frankfurt Radio
Symphony Orchestra, sobre a direcção de Paavo Järvi / Wiesbaden, Kurhaus 2013)
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