ALGUNS ASPECTOS BÁSICOS DE FÍSICA QUÂNTICA
Este não é o local nem a ocasião adequados para aprofundar
questões de mecânica quântica, mas eu gostaria de discutir alguns aspectos
básicos de física quântica, porque julgo necessário que se perceba o que
entendo por “continuidade de consciência” (Van Lommel, 2004).
Acerca daquilo que expliquei até agora, julgo haver uma
semelhança surpreendente entre o conteúdo de vários aspectos da nossa
consciência durante a EQM e alguns conceitos provados de Mecânica Quântica, a
qual transformou completamente a visão aparente e material do nosso mundo, o
chamado “espaço real”.
Diz-nos que as partículas podem propagar-se ondulatoriamente e
podem ser descritas em mecânica quântica como funções de onda.
Pode ser provado que a luz em algumas experiências se
comporta como partículas (fotões) e que noutras experiências
se comporta como ondas. Ambas as experiências estão certas, o que
também significa que não há objectividade; é a consciência do observador e o
seu desígnio da experiência que definem o resultado.
De acordo com Bohr ondas e partículas são aspectos
complementares da luz (Bohr e Kalckar,1997). A experiência de Aspect e colegas
(1982), baseada no teorema de Bell, estabeleceu a “não
localidade” (non-locality) na mecânica quântica (interligação “não
local”).
A “não localidade” sucede porque todos os acontecimentos
estão relacionados e se influenciam mutuamente, o que implica que não haja
causas localizadas para um acontecimento.
O espaço fásico é um espaço invisível, “não
local”, sobre-dimensional, consistindo em campos de onda de probabilidade, em
que cada evento passado ou futuro está disponível enquanto possibilidade.
O físico quântico David Bohm designou esta dimensão
como “ordem implicada” (ou “implícita”) de ser (Bohm, 1980), e
Ervin Laszlo chamou estes campos informativos campos “ponto zero” ou
vácuoquântico (Laszlo, 2003, 2004).
Dentro deste, assim chamado, espaço fásico nenhuma
matéria está presente, tudo pertence à incerteza, e nem medidas nem observações
de físicos são possíveis (Heisenberg, 1971).
O acto da observação muda instantaneamente a probabilidade
numa realidade por meio do colapso da “função de onda”. Roger
Penrose chama esta resolução de múltiplas possibilidades num só estado definitivo “redução
objectiva”(Penrose, 1996). Deste modo nenhuma observação é possível
sem mudança fundamental do sujeito observado; apenas resta a
subjectividade.
A física quântica não pode explicar a essência da
consciência nem o segredo da vida, mas na minha opinião ajuda a entender a
transição entre campos da consciência no “espaço fásico” (a comparar com campos
de probabilidade que conhecemos da mecânica quântica) e a consciência
desperta associada ao 22 corpo no espaço real, porque esses são
dois aspectos complementares da consciência (Walach and Hartmann, 2000).
A nossa consciência completa e indivisa com memórias
expressivas encontra a sua origem e está arquivada no“espaço fásico” e
o cérebro apenas serve como estação de trânsito para partes da nossa
consciência e das nossas memórias a serem acolhidas na nossa “consciência
desperta”.
Isto passa-se como na internet, que não tem a sua origem no
próprio computador que não é mais do que seu receptor. Nesta base a ideia da
consciência não está radicada no domínio mensurável da física, no nosso mundo
“manifesto”.
O eterno “aspecto onda” da nossa consciência indestrutível
em espaço fásico, com interligação “não-local” é inerentemente
não mensurável por processos físicos. O “imensurável” nunca poderá ser medido.
Tal situação pode ser comparada com a das forças gravitacionais, na
qual apenas os efeitos físicos podem ser medidos, não sendo
directamente demonstráveis as forças propriamente ditas.
A vida cria a transição do “espaço fásico” para o nosso
manifesto “espaço real”; de acordo com as nossas hipóteses a
vida cria, sob as condições normais diurnas em que estamos despertos, a
possibilidade de receber apenas algumas partes destes campos de
consciência (ondas) no domínio da nossa consciência desperta que pertence ao
nosso corpo físico (partículas). Durante a vida, a nossa consciência tem
o aspecto de “ondas” bem como o de “partículas”, e existe uma permanente
interacção entre estes dois aspectos da consciência.
Quando morremos, a nossa consciência deixa de ter um aspecto
de “partículas”, mas apenas um aspecto de “ondas”. O interface entre a nossa
consciência e o nosso corpo é eliminado.
Este conceito (Van Lommel, 2004) é uma teoria complementar,
tal como ambos os aspectos da luz (“onda” e “partícula”) e não uma teoria
dualística.
A experiência subjectiva (consciente) e as correspondentes
propriedade físicas objectivas são duas manifestações fundamentalmente
diferentes da mesma realidade mais profundamente subjacente. Não podem ser
reduzidas uma à outra. O aspecto “partícula”, o aspecto físico da consciência
no mundo material, tem a sua origem no aspecto “onda” do “espaço fásico” pelo
colapso da função “onda” em partículas (“reducção objectiva”), e estas podem
ser medidas por EEG, MEG, RMFI, e PET Scannning.
Várias redes neurais funcionam como interfaces para
diferentes aspectos da nossa consciência, conforme pode ser demonstrado pelas
imagens cambiantes durante registos de RMFI ou PET scanning.
Deste modo as funções das redes neurais deviam ser
encaradas como receptoras e transmissoras de consciência e de memória, e
não como reserva das mesmas. Com este novo conceito de consciência e das
relações mente-cérebro, todos os elementos das EQM durante a paragem cardíaca
poderiam ser explicados. Essa ideia é compatível com a interligação “não-local” com
campos da consciência ou outras pessoas em “espaço fásico”. Esta comunicação
remota e “não-local” parece ter ficado demonstrada
cientificamente colocando pares de sujeitos em duas câmaras de Faraday, o que
exclui de modo concludente qualquer mecanismo de transferência
electromagnética.
Um estímulo visual de padrão reversível é usado para
provocar respostas visuais evocadas no registo de electro encefalograma de um
sujeito estimulado. E tal é instantaneamente recebido pelo sujeito não
estimulado, o que resulta num câmbio imediato de actividade no seu registo
electroencefalográfico (Thaheld, 2003; Wackermann e outros, 2003).
Tentando entender a ideia da interacção mecânica quântica
entre o “espaço fásico” invisível e o do nosso corpo físico visível, é adequado
fazer-se uma comparação com os modernos sistemas de comunicações.
Há, mundialmente, uma troca contínua de informações
objectivas por meio de campos electromagnéticos, via rádio, TV, telemóveis e
computadores. Não temos uma ideia das enormes quantidades de campos magnéticos
que, dia e noite, nos envolvem e atravessam neste preciso instante, bem como
toda a qualidade de estruturas físicas – paredes e edifícios.
Só nos apercebemos desses campos electromagnéticos
informativos quando usamos o telemóvel, ligamos o rádio ou a TV.
A informação recebida não está dentro desses equipamentos
nem nos respectivos componentes. Apenas se torna perceptível mediante a
capacidade de recepção dos aparelhos e a informação contida nos campos
electromagnéticos torna-se observável mediante os nossos sentidos, sendo
transmitida desse modo à nossa consciência. A voz que ouvimos ao telefone,
contudo, não está “dentro” dele.
O concerto musical que ouvimos pelo rádio é por ele recebido
de longe. As imagens e os sons que vimos e ouvimos nos televisores não é neles
que têm a sua origem e a internet não está dentro do nosso computador.
Recebemos essas emissões transmitidas à velocidade da luz de distâncias de
centenas ou milhares de milhas.
Quando desligamos o televisor a recepção cessa, mas
a transmissão continua a fazer-se. A informação transmitida continua
presente nos respectivos campos electromagnéticos. A ligação foi interrompida,
mas não desapareceu e ainda pode ser recebida noutros locais usando outro
receptor (“não localidade”).
Na minha opinião, baseado em depoimentos relatados de modo
universal de vivências ocorridas durante paragens cardíacas, podemos concluir
que os campos informativos da nossa consciência, constituídos por ondas, têm
as suas raízes no “espaço fásico”, numa dimensão invisível sem tempo ou espaço,
e estão presentes à nossa volta e através de nós. Ficam ao alcance da
nossa consciência desperta através do nosso cérebro em funcionamento, no
formato de campos electromagnéticos mutáveis e oscilantes. Poderá o nosso
cérebro ser comparável com o nosso aparelho de televisão, que recebe ondas
electromagnéticas e as transforma em imagem e som? Poderia igualmente ser
comparável com a câmara de vídeo que transforma imagens e sons em ondas
electromagnéticas? Essas ondas conservam a essência de certa informação,
mas apenas ficarão ao alcance dos nossos sentidos mediante aparelhos adequados,
como o receptor de televisão ou leitor de vídeo.
Logo que as funções do cérebro se perderam, tal como por
morte clínica durante a paragem cardíaca ou a morte cerebral, as
memórias e a consciência ainda existem, mas a capacidade receptora
perdeu-se e a ligação ou o interface interromperam-se.
A consciência pode ser experimentada durante esse período de
não funcionamento cerebral, o que é designado como EQM.
Por isso, na minha opinião a consciência não está radicada
no nosso corpo físico!
CONCLUSÃO
A inevitável conclusão de que a consciência pode ser
experimentada independentemente da funcionalidade do cérebro, pode induzir
vastas modificações no paradigma científico da medicina ocidental e poderia ter
implicações em questões éticas e médicas tais como o tratamento de doentes em
coma ou em estado terminal, a utilização para transplantes de órgãos em
processo de morte com coração ainda activo e corpo quente mas com diagnóstico
de morte cerebral.
Esse entendimento também afecta profundamente a nossa
opinião a respeito da morte, perante a inevitável conclusão de que – acontecida
a morte – a faculdade da consciência continua a estar disponível noutra
dimensão, num mundo invisível e imaterial, o “espaço fásico”, dentro do
qual estão inseridos todo o passado, o presente e o futuro.
“A MORTE É APENAS O FIM DO NOSSO ASPECTO FÍSICO”
A investigação dos EQM não pode dar-nos provas irrefutáveis
desta conclusão, porque as pessoas que passaram por eles não morreram de facto
definitivamente, mas todos estiveram muito perto disso, com o cérebro
paralisado.
Foi contudo demonstrado que, durante a EQM a
consciência esteve disponível independentemente do funcionamento do cérebro!
E isso também nos conduz a pensar que o mundo como o vemos à
nossa volta, bem como durante tais EQM encontra a sua realidade subjectiva
apenas a partir do nosso conhecimento consciente, a partir da nossa
consciência.
Ainda ficam mais perguntas do que respostas, mas, baseados
nos acima mencionados aspectos teóricos da continuidade obviamente vivenciada
da nossa consciência, deveríamos concluir finalmente a possibilidade de que a
morte, como o nascimento, não passará de uma simples passagem de um
estado da consciência para outro.
Podemos também concluir que a nossa consciência desperta,
aquela de que dispomos no nosso dia a dia, não é senão uma parcela de
uma nossa consciência total e indivisa.
A interligação com esta consciência mais acentuada pode
ser experimentada durante uma situação médica crítica (a EQM), que se passa em
condições limite de morte aparentemente inevitável (morte iminente), um
acidente rodoviário (experiência do “medo da morte”), durante
meditação ou profundo relaxamento (experiência iluminada ou de unidade),
durante os estados mutáveis da consciência em regressões, hipnose e isolamento,
ou de ingestão de drogas como o LSD, ou nas fases terminais da vida (visões no
leito de morte).
A interligação com estes campos informativos da consciência
também explica:
– a intuição acentuada,
– as visões ou sonhos premonitórios,
– as aparições no momento da morte ou depois dela, tal como
acontece quando se contacta com a consciência de pessoas em estado terminal à
distância, ou parentes falecidos;
– as chamadas experiências peri e post-mortem ou
comunicações após a morte.
Esta consciência acentuada e alargada baseia-se em campos
indestrutíveis de informação e em permanente evolução, nos quais todo o
conhecimento, sabedoria e Amor Incondicional estão presentes e disponíveis.
Esses campos da consciência estão guardados numa dimensão que não está
sujeita aos nossos conceitos de espaço e de tempo, com interligação “não-local” e
universal.
Podia designar-se isto como a nossa consciência Superior, a
consciência Divina ou consciência Cósmica.
Ervin Laszlo chamou estes campos informativos da consciência
como campo do ponto zero ou campo Akasha do vácuo
quântico, ou melhor ainda no “plenum cósmico”, com uma
memória cósmica holográfica por padrões de interferência de campos escalares
ondulatórios (Laszlo, 2004)
Isto possibilita recuperar informação a respeito do
sujeito como um todo de qualquer sítio situado dentro do campo,
dado que os padrões de influência que codificam a função onda expandem-se
através das propagações do alcance da onda e resistem por tempo indefinido.
Porque toda a matéria, e também o nosso corpo material, é
99,99% vazio (“vacuum”), todas as células do nosso corpo (bem como o
nosso ADN) são continuamente invadidos por esses campos informativos da
consciência, com os quais se mantém em contacto.
Quando por fim, a seguir a um período de morte que pode
durar entre horas e dias, o nosso corpo por fim faleceu, aquilo que resta dele
é apenas matéria “morta”, e nós podemos apenas manter o
contacto com esses eternos e indestrutíveis campos de consciência, ou
tornámo-nos parte deles.
/...
Dr.
Pim van Lommel, As Experiências de Quase-Morte, A Consciência e o
Cérebro – ALGUNS ASPECTOS BÁSICOS DE FÍSICA QUÂNTICA, CONCLUSÃO, “A MORTE É
APENAS O FIM DO NOSSO ASPECTO FÍSICO” (6º fragmento e o último) tradução para a
língua portuguesa de espiritismo
cultura, depois de autorizada pelo autor.
(imagem de contextualização: O Dr. Pim van Lommel / 2014 / médico e pesquisador com investigações médicas realizadas, desde, há décadas, no Hospital Rijnstate, Arnhem / Holanda)