Experiências magnéticas Regressão da memória e previsão, Caso nº 1 Laurent (II)
16 de outubro de 1893
“Progrido” lentamente. Várias outras sessões ocorreram desde
a última que relatei. São sempre os mesmos invariáveis fenómenos, que
apenas se produzem mais rapidamente na sua invariável sucessão.
Há dois dias, no entanto, o Sr. de R. conseguiu
levar-me ao que ele chama de terceiro estado da hipnose. (i) A
segunda letargia, pela
qual se tem de passar para chegar a esse estado, é de mais longa duração do que
a primeira. Então a insensibilidade é tal que posso tocar um tição sem
retirar a minha mão. Desta constatação feita ontem, tenho uma prova visível
na ponta de meu indicador um pouco ferido.
O que sobretudo distingue o terceiro estado do segundo é
que não se vêem nitidamente os objectos como no sonambulismo. Tudo é
confuso. O Sr. de
R. pergunta-me se ouço o tique-taque do relógio de parede. Respondo:
“Fracamente.” Em suma, apenas vejo nitidamente o Sr. de R.
A sugestibilidade subsiste: “Olhe à sua direita sobre a
chaminé – diz-me o Sr. de R. –; há um
buquê.” Efectivamente vejo um buquê que é substituído por um castiçal,
se retiro de mim a sugestão, friccionando-me a fronte. (ii) É
preciso observar que o buquê sugerido aparece-me nitidamente, enquanto
o castiçal, como todos os outros objectos reais, são como que encobertos por
uma bruma.
Eis uma outra sugestão.
“Imagine que sou o Sr. X.” (o Sr. de R. diz-me o
nome de um funcionário que nós dois conhecemos). Com esta frase, dita com o tom
natural da voz, a sugestão é ineficaz. “Vamos, vamos! – insiste o Sr. de R. –,
eu sou o Sr. X; eu sou ele.” A imagem do Sr. X passa diante dos meus
olhos, mas sem se fixar. No momento em que o Sr. de R. me toca
bruscamente o ombro, vejo imediatamente o Sr. X no seu lugar, sentado diante de
mim.
A conversa começa. Nada impede a ilusão, já que o Sr. de R., conhecendo a
situação da pessoa que acredito que ele seja, dá respostas verosímeis às
perguntas que indiferentemente faço.
Na realidade, todavia, eu me apercebo vagamente
de que se trata de uma ilusão e que não é ao Sr. X que falo. Apenas me é
impossível não falar como eu falaria se realmente fosse o Sr. X quem estivesse
ali presente.
Ao despertar estou mais atordoado do que em geral e mal
consigo afugentar uma inquietude bastante particular (inquietude de quê? Não
sei dizer) do meu espírito. (iii)
19 de outubro de 1893
Novamente, e com mais facilidade, o Sr. de R. conduz-me
ao terceiro estado, que ele chama de estado de relação, porque
todos os objectos que ficam enevoados pelos meus sentidos se tornam de novo nítidos a
partir do momento em que o magnetizador (que
continua sempre perfeitamente visível e que até toma, aos olhos do sujet levado
a este terceiro estado, uma espécie de realidade luminosa) coloca-me em rapport com
eles, tocando-os.
Para fazer-me ouvir distintamente o tique-taque do relógio de parede, o
Sr. de R. precisa
apenas interpor a sua mão entre o relógio e minha orelha.
O Sr. de R., por exemplo, oferece-me um livro. Tenho dificuldade em lê-lo; os caracteres parecem-me mal-impressos. No entanto, se o Sr. de R. põe a sua mão no meio da página, dela irradia-se como que uma luz que, à sua volta, dá aos caracteres pretos toda a sua nitidez.
Sessão bastante curta. Pareço fatigado. O Sr. de R. desperta-me.
/...
(i) Ver a descrição desses detalhes no início do capítulo I. (A.R.)
(ii) Eu havia utilizado com Laurent esse procedimento para que ele se desembaraçasse, no estado de vigília, das sugestões. Adormecido ele lembrou-se disso e empregou-o com sucesso, talvez simplesmente por auto-sugestão. (A.R.)
(iii) Toda sugestão deixa no espírito um vestígio mais ou menos profundo. O sujet estava aqui perturbado no sentimento da personalidade. (A.R.)
O Sr. de R., por exemplo, oferece-me um livro. Tenho dificuldade em lê-lo; os caracteres parecem-me mal-impressos. No entanto, se o Sr. de R. põe a sua mão no meio da página, dela irradia-se como que uma luz que, à sua volta, dá aos caracteres pretos toda a sua nitidez.
Sessão bastante curta. Pareço fatigado. O Sr. de R. desperta-me.
/...
(i) Ver a descrição desses detalhes no início do capítulo I. (A.R.)
(ii) Eu havia utilizado com Laurent esse procedimento para que ele se desembaraçasse, no estado de vigília, das sugestões. Adormecido ele lembrou-se disso e empregou-o com sucesso, talvez simplesmente por auto-sugestão. (A.R.)
(iii) Toda sugestão deixa no espírito um vestígio mais ou menos profundo. O sujet estava aqui perturbado no sentimento da personalidade. (A.R.)
Albert de Rochas, As
Vidas Sucessivas, Segunda Parte Experiências magnéticas, Capítulo II - Regressão da memória e previsão, Caso
nº 1 - Laurent, 1893 2 de 4, 6º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: A aurora dos transatlan, pintura em
acrílico de Costa Brites)
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