III – As
Lições da Guerra (II)
|Março
de 1915|
Ainda subsistem, sem dúvida, muitos resquícios
de imoralidade, corrupção e decadência e, por vezes, perguntamos se tamanha
lição não foi bastante para corrigir os nossos vícios. Em compensação, quantas
existências fantasiosas, estéreis ou desordenadas ficaram mais simples, puras e
fecundas.
A vida pública e a privada, sob certos
aspectos, estão sofrendo uma radical transformação. Essa purificação dos
costumes e do carácter traz consigo a das letras francesas, a do jornalismo,
enfim, a do pensamento sob todas as formas em que se expresse, parecendo que
estamos livres, por muito tempo, dessa psicologia mórbida,
dessa pornografia chula, venenos da alma que nos faziam ser
considerados, pelo estrangeiro, como nação decadente.
Quem ousaria servir-se da pena para recair em
semelhantes erros? Os escritores e os romancistas do futuro terão assuntos bem
diversos, graves e elevados para as suas obras.
Por certo não perdemos de vista o lamentável desfile
das desgraças produzidas pela guerra: as horríveis hecatombes, a aniquilação
das vidas, o saque e a destruição das cidades, os estupros, os incêndios, os
velhos, as mulheres e as crianças espoliadas, mortas ou mutiladas, a fuga
dos rebanhos humanos abandonando seus lares devastados, afinal,
o espectáculo do sofrimento humano no que existe de mais intenso e pungente.
Qualquer espírita sabe que a morte é
apenas uma aparência: a alma, ao desprender-se do seu
envoltório material, adquire maior força, maior percepção das
coisas e o ser se encontra mais vivo no Além.
O pensamento purifica-se pela dor,
nenhum sofrimento se perde e nenhuma provação deixa de ter a sua compensação.
Os que morreram pela pátria recolhem os frutos do seu sacrifício e o sofrimento
dos que sobreviveram transmite aos seus perispíritos ondas
de luz e sementes de futuras felicidades.
A questão do progresso resolve-se facilmente, porque
só ele é real e permanente, sendo simultâneo nos seus dois aspectos,
o material e o moral.
O progresso meramente material é,
com muita frequência, apenas uma arma colocada ao serviço das
más paixões.
Aos bárbaros da actualidade a ciência forneceu
formidáveis recursos de destruição: máquinas variadas, violentos explosivos,
pastilhas incendiárias, dispositivos para o lançamento de líquidos inflamáveis,
gases asfixiantes ou corrosivos, etc.
A navegação aérea e submarina aumentou de muito
o poder do fogo, todavia todos os progressos da ciência tornam o homem infeliz,
enquanto ele permanece mau. E tal situação se prolongará
enquanto a educação popular for falseada e o homem seguir
ignorando as verdadeiras leis do ser e do destino, assim como o princípio das
responsabilidades com as suas consequências nas vidas sucessivas.
Sob esse aspecto, o fracasso das
religiões e da ciência é completo: a guerra actual comprova-o, fartamente.
Com relação ao progresso moral, ele é lento e
quase imperceptível na Terra, graças à população do globo que cresce
incessantemente com elementos provindos de mundos inferiores.
Só os espíritos que conseguiram certo grau de
progresso na Terra evoluem com proveito para grupos melhores. Eis por que varia
pouco o nível geral, permanecendo raras e ocultas as
qualidades morais dos indivíduos.
Os golpes da adversidade ainda
serão, durante muito tempo, meios necessários para impelir o
homem a se desprender do círculo estreito onde se encerra, obrigando-o a elevar mais
alto o seu pensamento.
Ainda precisará escalar, muitas vezes, a
íngreme ladeira do calvário através de espinhos e pedras pontiagudas. Todavia,
do escabroso pico, ele divisará o brilho do grande foco de
sabedoria, de verdade e de amor que ilumina e fortalece o Universo.
/…
LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, III –
As Lições da Guerra 2 de 3, 7º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: Tanque de guerra
britânico capturado pelos Alemães, durante a Primeira Guerra
Mundial)
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