Os vivos e os mortos (II)
Se no plano espiritual a posição assumida pelos espíritos
fosse a mesma dos homens, seríamos considerados como espíritos mortos. Porque o
espírito que se encarna na Terra, afastando-se da realidade viva do
espírito, é praticamente sepultado na carne. Nos planos inferiores do
mundo espiritual, apegados à crosta terrena, os espíritos inferiores que o
habitam consideram-se como mortos na carne, pois perderam as
prerrogativas do espírito livre. Mas os espíritos que atingiram
planos superiores compreendem essa inversão de posições e os encaram
como companheiros temporariamente afastados do seu convívio, para fins de
desenvolvimento das suas potencialidades nas lutas terrenas. Dessa maneira,
mortos e vivos somos todos. Revezamo-nos na Terra e no Espaço porque a lei
de evolução exige o nosso aperfeiçoamento contínuo. Se no plano espiritual os
limites das nossas possibilidades de aprendizagem se esgotam, por falta de
desenvolvimento dos potenciais anímicos, retornamos às duras experiências
terrenas.
A reencarnação é uma exigência do nosso atraso
evolutivo, como a semeadura da
semente na terra é a exigência básica da sua germinação e do seu crescimento.
Assim, nascimento e morte são fenómenos naturais da vida, que não devemos
confundir com desgraça ou castigo.
Só os homens matam para vingar-se ou cobrar dívidas
afectivas. Deus não mata, cria. Ao semear as mónadas nos planetas habitáveis,
não o faz para matar-nos, mas para podermos germinar e crescer como a relva dos
campos. A mónada é a centelha de pensamento divino que encerra
em si, como que a semente do vegetal, todo o esquema da vida e da forma humana
que dela nascerá no seio dos elementos vitais da carne.
Os materialistas acreditam que o esperma e o óvulo ocultam
em si mesmos todas as energias criadoras do homem. Mas os progressos actuais da
genética animal e da genética humana os despertaram para a compreensão da
existência de um mecanismo oculto no sémen, do qual depende a
própria fecundidade deste.
Podemos dizer que Deus não trabalha com coisas, mas com
leis. As pesquisas parapsicológicas revelaram que o pensamento é a
energia mais poderosa de que podemos dispor. Essa energia não se desgasta
no tempo e no espaço, não está sujeita às leis físicas, nem respeita as
barreiras físicas. É ele a única energia conhecida que pode operar as
distâncias ilimitadas do Cosmos. Se podemos verificar isso nas experiências
telepáticas, de transmissão de pensamentos entre as distâncias espaciais e
temporais que todas as demais energias não conseguem vencer, devemos pensar no
poder infinito do pensamento criador de Deus.
Mas o orgulho humano se alimenta da sua própria ignorância
e prefere colocar-se acima da própria Divindade. Por isso o
cientista soviético Vassiliev (i) não aceitou a
teoria de Rhine –
a natureza extrafísica do pensamento – e procedeu a uma experiência na
Universidade de Leningrado para demonstrar o contrário. Mas não obteve as
provas que desejava e limitou-se a contestar Rhine com
argumentos, declarando simplesmente que o pensamento se constitui de uma
energia física desconhecida. Até agora, nem mesmo do Além, para onde a morte o
transferiu, à sua revelia, não conseguiu a refutação desejada. Esse é um
episódio típico da luta dos negativistas contra a inegável realidade da
natureza espiritual do homem. É inútil disputar com eles, que mesmo quando
cientistas, se apegam rigidamente às suas convicções, de maneira opiniática.
Outro exemplo importante foi o do filósofo Bertrand Russell, que
ante o avanço científico actual, declarou: “Até agora as leis físicas não foram
afectadas.” Como não foram, se toda a concepção física do mundo se
transformou no contrário do que era, revelando a inconsistência da matéria, a
sua permeabilidade, a existência da antimatéria e a
possibilidade cientificamente provada da comunicação dos mortos? Bastaria
isso para mostrar que a Física envelhecida de meio século atrás levou Einstein a
exclamar: “O materialismo morreu asfixiado por falta de matéria”. O famoso
físico americano, pousando um braço sobre uma mesa, disse: “Meu braço sobre
esta mesa é apenas uma sombra sobre outra sombra."
Essa atitude opiniática de materialistas ilustres decorre
da alergia ao futuro de que falou Remy Chauvin,
director do laboratório do Instituto de Altos Estudos de Paris. Por outro lado,
temos de considerar a influência da tradição no próprio meio científico e as
posições dogmáticas das correntes opostas do religiosismo igrejeiro e das
ideologias materialistas, como as do Positivismo, do Pragmatismo e
particularmente do Marxismo.
A prova científica da existência do perispírito, o corpo
espiritual da tradição cristã, chamado pelos investigadores soviéticos da
Universidade de Kirov, a mais importante da URSS, de corpo bioplásmico,
foi simplesmente asfixiada pelo poder estatal. Nos Estados Unidos não se
tentou repetir a façanha de Kirov porque a descoberta do corpo bioplásmico fere
os interesses teológicos das igrejas cristãs. O religiosismo fideísta das
igrejas, agora reforçado com o religiosismo político e estatal do
materialismo, formam hoje a dupla que, agindo em forma de pinça,
impede novamente o desenvolvimento da Ciência.
Nos Estados Unidos chegou-se ao extremo da divulgação
científica de um documento lançado por instituições científicas, declarando que
as descobertas produzidas pelas câmaras Kirlian, de
fotografias paranormais, não passavam do conhecido efeito corona. E Rhine, o grande
confirmador da Ciência Espírita, foi posto à margem dos meios científicos
oficiais, apesar do seu sucesso em todas as Universidades do mundo.
/…
(i) Leonid Leonidovitch Vassiliev 1891–1966
Herculano Pires, José – Educação para a Morte, Os
Vivos e os Mortos 2 de 2, 5º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: O caranguejo,
pintura de William-Adolphe
Bouguereau)
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