segunda-feira, 6 de março de 2023

O Mundo Invisível e a Guerra ~


A Justiça Divina e a Actual Guerra 

|14 de Julho de 1915| 

Faz um ano que as provações de uma guerra sem precedentes desabam sobre a França. Estende-se sobre a nossa pátria um véu de tristeza e de luto e, muitos dos nossos irmãos choram pelos seus entes queridos. 

Diante de tantos sofrimentos, é necessário voltar os nossos pensamentos para os princípios divinos que comandam as almas e as coisas. 

A solução dos inúmeros problemas que a actualidade apresenta, só a encontraremos na Doutrina Espírita; é nela que encontraremos as consolações necessárias para diminuir a nossa dor. 

Abalados pelos acontecimentos, vários amigos me indagaram: “Por quê Deus permite tantos crimes e tantas calamidades?” 

Antes de tudo, Deus respeita o livre-arbítrio humano, porque ele é o instrumento de todo o progresso e a condição fundamental da nossa responsabilidade moral. Sem a liberdade e sem o livre-arbítrio não haveria nem o bem nem o mal e, consequentemente, não poderia existir o progresso. 

Esse é o princípio de liberdade que forma, ao mesmo tempo, a prova e a grandeza do homem, conferindo-lhe o poder de escolher e de agir; é a fonte dos esplendores morais para quem decide progredir. 

Na presente guerra não se tem visto algumas pessoas descerem abaixo da animalidade e outras, pela dedicação e sacrifício, alcançarem as alturas do sublime? 

Sabemos que, para os espíritos inferiores, como o são a maior parte dos que povoam a Terra, o mal é o resultado inevitável da liberdade. Porém, do mal cometido, Deus sabe, na sua profunda e infinita sabedoria, extrair um bem para a humanidade. Colocado acima do tempo ele domina o correr dos séculos, enquanto nós, na nossa transitória existência, temos dificuldades em apreender o entrosamento das suas causas e dos seus efeitos. 

Mais cedo ou mais tarde, entretanto, a hora da eterna justiça soará inevitavelmente. 

Acontece que, muitas vezes, os homens se esquecem das leis divinas, do objecto da vida, resvalam na ladeira do sensualismo e se atolam na matéria. Então, tudo o que constituía a beleza de sua alma se encobre e desaparece, dando lugar ao egoísmo, à corrupção e aos desregramentos em todas as suas formas. Era o que acontecia entre nós, desde há muito tempo; a maior parte dos nossos contemporâneos já não possuía outro ideal que não a riqueza e os prazeres

O alcoolismo e a devassidão tinham secado os mananciais da vida e, para tantos excessos, sobrava apenas um remédio: o sofrimento! Sabemos que as más paixões emanam fluidos que se acumulam, paulatinamente, e terminam transformando-se em catástrofes e calamidades: daí a guerra actual. 

Todavia, não faltaram avisos, mas os homens permaneceram insensíveis às vozes celestes. 

Deus permitiu que ela explodisse porque sabe que a dor é o único meio eficiente para reconduzir o homem às coisas mais sadias e aos sentimentos mais generosos. 

Entretanto, a ira do inimigo foi contida e, não obstante o talento da sua organização e do meticuloso preparo, a Alemanha foi detida na realização dos seus planos. A sua crueldade feroz e a sua ambição sem limites despertaram os poderes celestes contra ela. 

Após um trabalho lento de desagregação do antimilitarismo, a vitória do Marne e o entusiasmo dos nossos soldados só se explicam pela interferência das forças invisíveis. Como, porém, essas forças sempre estão em actividade, apesar dos sombrios prognósticos actuais, conservamos intacta a nossa confiança no porvir. 

/… 


LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, V – A Justiça Divina e a Actual Guerra, (1 de 4), 12º fragmento desta obra. 
(imagem de contextualização: Tanque de guerra britânico capturado pelos Alemães, durante a Primeira Guerra Mundial)

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