Sendo as duas primeiras
revelações produto de um ensinamento pessoal, foram forçosamente localizadas.
Isso quer dizer que tiveram lugar num só ponto, à volta do qual a ideia se foi
expandindo de uns para os outros; mas foram precisos muitos séculos para
que atingissem os extremos do mundo, mesmo sem o invadirem por completo.
A terceira tem isso de particular;
não sendo personificada num indivíduo, produziu-se simultaneamente em milhares
de pontos diferentes e todos se tornaram centros ou focos de irradiação. Ao multiplicarem-se
estes centros, a sua radiação une-se a pouco e pouco, como os círculos formados
por uma quantidade de pedras atiradas à água; de tal maneira que, em
determinada altura, acabarão por cobrir a superfície total do globo.
É esta uma das causas da rápida propagação da doutrina. Se tivesse surgido num
só ponto, se tivesse sido obra exclusiva de um homem, teria formado uma seita à
sua volta; mas meio século teria talvez decorrido antes de ter atingido os
limites do país onde tivesse nascido, enquanto que assim, dez anos depois, tem
rebentos implantados de um pólo ao outro. Esta circunstância, espantosa na
história das doutrinas, confere a esta uma força excepcional e uma força de
acção irresistível; com efeito, se a comprimirmos num ponto, num país, é
materialmente impossível comprimi-la em todos os pontos, em todos os países.
Por cada sítio onde seja reprimida, haverá mil ao lado onde florescerá.
Ainda mais, se a extinguirmos num indivíduo, não podemos extingui-la nos
Espíritos, que são dela a fonte. Ora, como os Espíritos estão em todo o lado e
porque sempre existirão, se, por impossível, se conseguisse abafá-la em todo o
globo, ela reapareceria algum tempo depois, porque assenta sobre um
facto, facto esse que está na natureza, e não podemos suprimir as leis da
natureza. É disto que se devem então convencer os que sonharam com a
aniquilação do Espiritismo.
(Revista Espírita, Fevereiro de 1865, p. 38: Perpetuidade do
Espiritismo.)
No entanto, estes centros disseminados deveriam permanecer ainda algum
tempo isolados uns dos outros, confinados como alguns estão a países
longínquos. Era necessário entre eles um traço de união que os colocasse em
comunhão de pensamento com os seus irmãos de doutrina, ensinando-lhes o que se
fazia noutros lugares.
Este traço de união, que terá faltado ao Espiritismo na antiguidade, encontra-se nas publicações que chegam a
todo o lado, que condensam numa forma única, concisa e metódica, os
ensinamentos dados em todos os sítios sob múltiplas formas e em línguas diversas.
/…
ALLAN KARDEC, A GÉNESE, Os Milagres e as Profecias Segundo o
Espiritismo – Capítulo I, Natureza e Revelação Espírita, números 46 a 48, fragmento. Tradução
portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida.
(imagem de contextualização: Deux Anges_1895, óleo
e têmpera sobre cartão pintado, de Edgard Maxence)
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