alma humana…
Grandioso é o espectáculo da luta do espírito contra a
matéria, luta para a conquista do Globo, luta contra os elementos, os flagelos,
contra a miséria, a dor e a morte. Por toda a parte a matéria se opõe à
manifestação do pensamento. No domínio da Arte, é a pedra que resiste ao cinzel
do escultor; na Ciência, é o inapreciável, o infinitamente pequeno que se furta
à observação; na ordem social, como na ordem privada, são os obstáculos
sem-número, as necessidades, as epidemias, as catástrofes!
Não obstante, frente às potências cegas que o oprimem e o
ameaçam de todos os lados, o homem, ser frágil, ergueu-se.
Por único recurso tem apenas a vontade e, com esse único
recurso, tem continuado, sem tréguas nem piedade, através dos tempos, a áspera
luta; depois, um dia, pela vontade humana, foi vencida, subjugada a formidável
potência. O homem quis e a matéria submeteu-se. Ao seu gesto, os elementos
inimigos, a água e o fogo, uniram-se rugindo e para ele têm trabalhado.
É a lei do esforço, lei suprema, pela qual o ser se
afirma, triunfa e se desenvolve; é a magnífica epopéia da História, a luta
exterior que enche o mundo. A luta interior não é menos comovente. De cada vez
que renasce, terá o Espírito de ajeitar, de apropriar o novo invólucro material
que lhe vai servir de morada e fazer dele um instrumento capaz de traduzir, de
exprimir as concepções do seu génio. Demasiadas vezes, porém, o instrumento
resiste e o pensamento, desanimado, retrai-se, impotente para adelgaçar, para
levantar o pesado fardo que o sufoca e aniquila. Entretanto, pelo esforço
acumulado, pela persistência dos pensamentos e dos desejos, apesar das
decepções, das derrotas, através das existências renovadas, a alma consegue
desenvolver as suas altas faculdades.
Há em nós uma surda aspiração, uma íntima energia
misteriosa que nos encaminha para as alturas, que nos faz tender para
destinos cada vez mais elevados, que nos impele para o belo e para o bem. É a lei
do progresso, a evolução eterna, que guia a humanidade através das idades e
aguilhoa cada um de nós, porque a humanidade são as próprias almas, que, de
século em século, voltam para prosseguir, com o auxílio de novos corpos,
preparando-se para mundos melhores, na sua obra de aperfeiçoamento. A história
de uma alma não difere da história da humanidade; só difere a escala: é a
escala das proporções.
O Espírito molda a matéria, comunica-lhe a vida e a
beleza. É por isso que a evolução é, por excelência, uma lei de estética.
As formas adquiridas são o ponto de partida de formas mais belas. Tudo se liga.
A véspera prepara o dia seguinte; o passado gera o futuro. A obra humana,
reflexo da obra divina, expande-se em formas cada vez mais perfeitas.
/...
LÉON DENIS, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, IX –
Evolução e finalidade da alma, fragmento.
(imagem de contextualização: Head of Divine
Vengeance, pintura de Pierre-Paul Prud'hon)
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