Formas do pensamento |
Já os magnetizadores da primeira metade do século passado
haviam notado que os sonâmbulos não
só percebiam o pensamento das pessoas com quem se punham em relação, sob a
forma de imagens geralmente localizadas no cérebro, como também, eventualmente,
fora dele, e mais ou menos imersos na “aura” da pessoa que, na ocasião, tinha
na mente o pensamento correspondente à imagem.
Ainda agora, nos tempos que correm, Maria Reynes,
clarividente sonâmbula e célebre pelas investigações do Dr. Pagenstecher sobre as suas faculdades psicométricas, deu a seguinte
resposta a uma pergunta do seu hipnotizador:
“Quando me ordenam que veja, percebo o interior de meu
estômago e nele, nitidamente, a úlcera que me atormenta, sob a forma
de sangrenta mancha vermelha. Vejo a forma do meu coração e sinto-me capaz
de ver o cérebro do doutor, desde que mo ordene.
Assim foi que, muitas vezes, lhe vi no cérebro a
imagem radiosa da sua genitora, bem como de outras pessoas nas quais ele
estava a pensar, sem mo dizer.
E sempre que assim sucedia, confessava-me ele que as imagens
por mim percebidas eram perfeitas.” (American Proceedings of S. P. R.,
vol. XVI, pág. 113).
Os teósofos, que têm sempre muitas observações a respeito
das “formas do pensamento”, afirmam, apoiados em declarações dos seus videntes
– entre eles Annie
Besant e Leadbeater –
que as ditas “formas do pensamento” não se restringem às imagens de pessoas e
coisas, mas atingem as concepções abstractas, as aspirações do
sentimento, os desejos passionais, que revestem formas características e
estranhamente simbólicas.
A esse respeito, importa acentuar que as descrições
teosóficas desse simbolismo do pensamento estão em surpreendente concordância
com as dos clarividentes sensitivos.
Vamos aqui resumir o trecho de um livro (Thought-formes)
de Annie Besant e Leadbeater, para compará-lo depois a uma outra passagem
tomada às declarações de um sensitivo clarividente.
Eis o que a respeito dizem esses autores:
“Todo o pensamento cria uma série de vibrações na
substância do “corpo mental”, correspondentes à natureza do mesmo pensamento,
e que se combinam em maravilhoso jogo de cores, tal como se dá com as gotículas
de água desprendidas de uma cascata, quando atravessadas pelo raio solar,
apenas com a diferença de maior vivacidade e delicadeza de tons.
O corpo mental, graças ao impulso do
pensamento, exterioriza uma fracção de si mesmo, que toma forma correspondente
à intensidade vibratória, tal como o pó de licopódio que, colocado sobre um
disco sonante, dispõe-se em figuras geométricas, sempre uniformes em relação
com as notas musicais emitidas.
Ora, esse estado vibratório da fracção exteriorizada do
“corpo mental”, tem a propriedade de atrair a si, no meio etérico, substância
sublimada análoga à sua.
Assim é que se produz uma “forma-pensamento”,
que é, de certo modo, uma entidade animada de intensa actividade, a gravitar em
torno do pensamento gerador...
Se esse pensamento implica uma aspiração pessoal de
quem o formulou – tal como se dá com a maioria dos pensamentos – volteia,
então, ao derredor do seu criador, pronto sempre a reagir de forma benéfica ou
maléfica, cada vez que o sinta em condições passivas.
Estranhamente simbólicas as “formas do pensamento”, algumas
delas representam graficamente os sentimentos que as originaram.
A usura, a ambição, a avidez, produzem formas
retorcidas, como que dispostas a apreender o cobiçado objecto.
O pensamento, preocupado com a resolução de um problema,
produz filamentos espirais.
Os sentimentos endereçados a outrem, sejam de ódio ou de
afeição, originam “formas-pensamento” semelhantes aos projécteis.
A cólera, por exemplo, assemelha-se ao ziguezague do
raio, o medo provoca jactos de substância pardacenta, quais
salpicos de lama.”
Outro sensitivo clarividente, Sr. E.
A. Quinton, também nota, a propósito das suas visualizações de pensamentos
alheios, o seguinte:
“Em três grupos podem ser subdivididas as
“formas-pensamento” por mim percebidas: as que revestem o aspecto de uma
personalidade, as que representam qualquer objecto e as que engendram formas
especiais...
As inerentes aos dois primeiros grupos explicam-se por si
mesmas; as do terceiro, porém, requerem esclarecimento.
Um pensamento de paz, quando emitido por alguém
profundamente compenetrado desse sentimento, torna-se extremamente belo
e expressivo. Um pensamento colérico, ao contrário, torna-se tão repugnante,
quanto horrível.
A avidez e emoções análogas, por sua parte,
originam formas retorcidas, curvas, semelhantes às garras do falcão,
como se as pessoas que as emitem desejassem alguma coisa empalmar em benefício
próprio.” (Light, 1911, pág. 401).
Pelos vistos, destas declarações ressalta a concordância de
clarividentes e teósofos, ao afirmarem que os impulsos pessoais da ganância e
análogos desejos originam formas tortuosas do pensamento.
Essa é uma circunstância notável.
Naturalmente, no que se refere à realidade das formas abstractas do
pensamento, não possuímos, até agora, outra prova além da resultante da
uniformidade dos testemunhos de diversos clarividentes.
Todavia, apresso-me a declarar que, para as afirmações dos sensitivos,
relativamente às formas concretas do pensamento – isto é, “pensamentos-formas”
representando pessoas ou coisas – temos na fotografia uma prova
absoluta, uma vez que a chapa as regista.
Somos, desta feita, levados a conceituar logicamente a
declaração dos videntes, no que concerne às formas do pensamento abstracto.
E de facto já se tem demonstrado que, quando sonhamos com
qualquer pessoa ou coisa, esta se concretiza em imagem correspondente.
Assim, tudo contribui para a suposição de que as ideias
abstractas também devem concretizar-se em alguma coisa que lhes corresponda.
Resta ainda falar de um traço característico, ou
faculdade que as “formas do pensamento” podem apresentar, qual a de, em
circunstâncias especiais, subsistirem por mais ou menos tempo no ambiente,
ainda que deste se tenha afastado, ou mesmo falecido, a pessoa que
os engendrou.
É o que em linguagem metapsíquica se
chama “persistência das imagens”.
Vou citar alguns exemplos desse género.
/…
Ernesto
Bozzano, Pensamento e Vontade – Formas do
pensamento 1 de 3, 6º fragmento da obra.
(imagem de contextualizagão: A Female Saint_1941,
pintura de Edgard
Maxence)
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