quinta-feira, 13 de outubro de 2016

pensamento e vontade ~


Formas do pensamento |

Já os magnetizadores da primeira metade do século passado haviam notado que os sonâmbulos não só percebiam o pensamento das pessoas com quem se punham em relação, sob a forma de imagens geralmente localizadas no cérebro, como também, eventualmente, fora dele, e mais ou menos imersos na “aura” da pessoa que, na ocasião, tinha na mente o pensamento correspondente à imagem.

Ainda agora, nos tempos que correm, Maria Reynes, clarividente sonâmbula e célebre pelas investigações do Dr. Pagenstecher sobre as suas faculdades psicométricas, deu a seguinte resposta a uma pergunta do seu hipnotizador:

“Quando me ordenam que veja, percebo o interior de meu estômago e nele, nitidamente, a úlcera que me atormenta, sob a forma de sangrenta mancha vermelha. Vejo a forma do meu coração e sinto-me capaz de ver o cérebro do doutor, desde que mo ordene.

Assim foi que, muitas vezes, lhe vi no cérebro a imagem radiosa da sua genitora, bem como de outras pessoas nas quais ele estava a pensar, sem mo dizer.

E sempre que assim sucedia, confessava-me ele que as imagens por mim percebidas eram perfeitas.” (American Proceedings of S. P. R., vol. XVI, pág. 113).

Os teósofos, que têm sempre muitas observações a respeito das “formas do pensamento”, afirmam, apoiados em declarações dos seus videntes – entre eles Annie Besant e Leadbeater – que as ditas “formas do pensamento” não se restringem às imagens de pessoas e coisas, mas atingem as concepções abstractas, as aspirações do sentimento, os desejos passionais, que revestem formas características e estranhamente simbólicas.

A esse respeito, importa acentuar que as descrições teosóficas desse simbolismo do pensamento estão em surpreendente concordância com as dos clarividentes sensitivos.

Vamos aqui resumir o trecho de um livro (Thought-formes) de Annie Besant e Leadbeater, para compará-lo depois a uma outra passagem tomada às declarações de um sensitivo clarividente.

Eis o que a respeito dizem esses autores:

Todo o pensamento cria uma série de vibrações na substância do “corpo mental”, correspondentes à natureza do mesmo pensamento, e que se combinam em maravilhoso jogo de cores, tal como se dá com as gotículas de água desprendidas de uma cascata, quando atravessadas pelo raio solar, apenas com a diferença de maior vivacidade e delicadeza de tons.

corpo mental, graças ao impulso do pensamento, exterioriza uma fracção de si mesmo, que toma forma correspondente à intensidade vibratória, tal como o pó de licopódio que, colocado sobre um disco sonante, dispõe-se em figuras geométricas, sempre uniformes em relação com as notas musicais emitidas.

Ora, esse estado vibratório da fracção exteriorizada do “corpo mental”, tem a propriedade de atrair a si, no meio etérico, substância sublimada análoga à sua.

Assim é que se produz uma “forma-pensamento”, que é, de certo modo, uma entidade animada de intensa actividade, a gravitar em torno do pensamento gerador...

Se esse pensamento implica uma aspiração pessoal de quem o formulou – tal como se dá com a maioria dos pensamentos – volteia, então, ao derredor do seu criador, pronto sempre a reagir de forma benéfica ou maléfica, cada vez que o sinta em condições passivas.

Estranhamente simbólicas as “formas do pensamento”, algumas delas representam graficamente os sentimentos que as originaram.

A usura, a ambição, a avidez, produzem formas retorcidas, como que dispostas a apreender o cobiçado objecto.

O pensamento, preocupado com a resolução de um problema, produz filamentos espirais.

Os sentimentos endereçados a outrem, sejam de ódio ou de afeição, originam “formas-pensamento” semelhantes aos projécteis.

A cólera, por exemplo, assemelha-se ao ziguezague do raio, o medo provoca jactos de substância pardacenta, quais salpicos de lama.”

Outro sensitivo clarividente, Sr. E. A. Quinton, também nota, a propósito das suas visualizações de pensamentos alheios, o seguinte:

“Em três grupos podem ser subdivididas as “formas-pensamento” por mim percebidas: as que revestem o aspecto de uma personalidade, as que representam qualquer objecto e as que engendram formas especiais...

As inerentes aos dois primeiros grupos explicam-se por si mesmas; as do terceiro, porém, requerem esclarecimento.

Um pensamento de paz, quando emitido por alguém profundamente compenetrado desse sentimento, torna-se extremamente belo e expressivo. Um pensamento colérico, ao contrário, torna-se tão repugnante, quanto horrível.

A avidez e emoções análogas, por sua parte, originam formas retorcidas, curvas, semelhantes às garras do falcão, como se as pessoas que as emitem desejassem alguma coisa empalmar em benefício próprio.” (Light, 1911, pág. 401).

Pelos vistos, destas declarações ressalta a concordância de clarividentes e teósofos, ao afirmarem que os impulsos pessoais da ganância e análogos desejos originam formas tortuosas do pensamento.

Essa é uma circunstância notável.

Naturalmente, no que se refere à realidade das formas abstractas do pensamento, não possuímos, até agora, outra prova além da resultante da uniformidade dos testemunhos de diversos clarividentes.

Todavia, apresso-me a declarar que, para as afirmações dos sensitivos, relativamente às formas concretas do pensamento – isto é, “pensamentos-formas” representando pessoas ou coisas – temos na fotografia uma prova absoluta, uma vez que a chapa as regista.

Somos, desta feita, levados a conceituar logicamente a declaração dos videntes, no que concerne às formas do pensamento abstracto.

E de facto já se tem demonstrado que, quando sonhamos com qualquer pessoa ou coisa, esta se concretiza em imagem correspondente.

Assim, tudo contribui para a suposição de que as ideias abstractas também devem concretizar-se em alguma coisa que lhes corresponda.

Resta ainda falar de um traço característico, ou faculdade que as “formas do pensamento” podem apresentar, qual a de, em circunstâncias especiais, subsistirem por mais ou menos tempo no ambiente, ainda que deste se tenha afastado, ou mesmo falecido, a pessoa que os engendrou.

É o que em linguagem metapsíquica se chama “persistência das imagens”.

Vou citar alguns exemplos desse género.

/…


Ernesto BozzanoPensamento e Vontade – Formas do pensamento 1 de 3, 6º fragmento da obra.
(imagem de contextualizagão: A Female Saint_1941, pintura de Edgard Maxence)

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