imagens consecutivas ~~
Quando frequentemente repetida, a sensação adquire
vivacidade excepcional, de modo a persistir, por vezes longamente, depois de
extinta a causa geradora.
Mais, ainda: essa sensação pode renascer com toda a vivacidade, de uma sensação
propriamente dita.
Newton, por um esforço
da vontade, conseguia reproduzir a imagem consecutiva do disco
solar, depois de interromper de algumas semanas as suas observações
astronómicas.
E Binet cita
o caso do professor Pouchet, microbiologista que, perlustrando as ruas de
Paris, viu, de repente, surgir diante dele as imagens das suas culturas
microscópicas, a se justaporem aos objectos exteriores. Essas visões lhe
surgiram espontânea e independentemente de qualquer associação de ideias.
As alucinações dessa natureza apresentam nitidez característica e tal é a
intensidade das imagens consecutivas, que poderiam ser projectadas
sobre uma tela, ou sobre uma folha de papel, a fim de se lhes traçarem depois,
a lápis, os contornos.
O Dr. Binet adverte que essa revivescência da imagem, muito
tempo depois de extinta a sensação excitativa, exclui absolutamente a hipótese
de ser a imagem consecutiva guardada na retina.
Se, pois, a conclusão é que ela se conserva no cérebro, o
seu renascimento não implica, consequentemente, a actividade dos “pequenos
cones” e “bastonetes” da retina.Tais são as modalidades pelas quais se efectuam as imagens
consecutivas.
Repito que, se as quisermos encarar separadamente, elas
não oferecem uma base indutiva, de molde a concluir pela existência, nelas,
de algo objectivo.
Todavia, como as nossas pesquisas, das quais vou amplamente
tratar, levam a admitir que as imagens, em geral, consistem em projecções
exteriorizadas do pensamento, não há razão para deixar de concluir no mesmo
sentido, com relação às imagens consecutivas.
O facto de ser intensa a sua vivacidade, a ponto de podermos
fixá-las numa folha de papel e traçar-lhe a lápis os contornos, é de si mesmo
bastante significativo, no sentido por mim apontado.
/…
Ernesto Bozzano, Pensamento
e Vontade – Imagens consecutivas, 3º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: A Female Saint_1941,
pintura de Edgar
Maxence)
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