quinta-feira, 10 de abril de 2014

Saberes e o tempo ~

O ensino dos Espíritos ~

Se a questão do homem espiritual se conservou por tão longo tempo em estado hipotético, é que faltavam os meios de investigação directa. Assim como as ciências não puderam desenvolver-se seriamente, senão depois que se inventaram o microscópio, o telescópio, a análise espectral e, ultimamente, a radiografia, também o estudo do Espírito tomou prodigioso impulso com a hipnose e, principalmente, depois que a mediunidade tornou possível o estudo do Espírito desprendido da matéria corpórea. Aqui está o que as nossas relações com os Espíritos nos ensinaram relativamente à constituição da alma.

Das numerosas observações feitas no mundo inteiro resulta que o homem é formado da reunião de três princípios:

1) a alma ou espírito, causa da vida psíquica;

2) o corpo, envoltório material, a que a alma se associa temporariamente, durante a sua passagem pela Terra;

3) o perispírito, substrato fluídico que serve de liame entre a alma e o corpo, por intermédio da energia vital. Do estudo desse órgão decorrem conhecimentos novos, que nos permitem explicar as relações da alma e do corpo; a ideia directora que preside à formação de todo o indivíduo vivo; a conservação do tipo individual e específico, sem embargo das perpétuas mutações da matéria; enfim, o tão complicado mecanismo da máquina vivente.

A morte é a desagregação do invólucro carnal, aquele que a alma abandona ao deixar a Terra; o perispírito a acompanha, conservando-se-lhe sempre ligado. Forma-o a matéria em estado de extrema rarefacção. Esse corpo etéreo, que no estado normal nos é invisível, existe, portanto, no decurso da vida terrestre. É por seu intermédio que o eu percebe as sensações físicas e é também por seu intermédio que o espírito pode revelar, no exterior, o seu estado mental.

Tem-se dito que o Espírito é uma chama, uma centelha, etc. Assim, porém, se deve entender com relação ao espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, ao qual não se poderia atribuir forma determinada. Em qualquer grau que ele se encontre na animalidade, está sempre intimamente associado ao perispírito, cuja eterização corresponde ao seu adiantamento moral, de sorte que, para nós, a ideia de espírito é inseparável de uma forma qualquer, de maneira a não podermos conceber uma sem a outra.

“O perispírito, pois, faz parte integrante do Espírito, como o corpo faz parte integrante do homem. Mas, o perispírito, por si só, não é o Espírito, como o corpo não é, por si só, o homem, visto que o perispírito não pensa, não age por si só. Ele é para o espírito o que o corpo é para o homem: o agente ou instrumento da sua acção.”

Segundo o ensino dos Espíritos, essa forma fluídica é extraída do fluído universal, sendo deste, como tudo o que existe materialmente, uma modificação. Justificaremos, dentro em pouco, essa maneira de ver.

Malgrado à tenuidade extrema do corpo perispirítico, ele se mantém constantemente unido à alma, que se pode considerar um centro de força. A sua constituição lhe permite atravessar todos os corpos com mais facilidade do que a que tem a luz para atravessar o vidro; do que o calor ou os raios-X para atravessar os diferentes obstáculos que se lhes oponham à propagação. A velocidade do deslocamento da alma parece superior à das ondulações luminosas, diferindo destas, porém, essencialmente, em que nada a detém, deslocando-se ela pelo seu próprio esforço. Por ser muito rarefeito o organismo fluídico, a vontade actua sobre o fluído universal e produz o deslocamento. Concebe-se facilmente que, sendo quase nula a resistência do meio, a mais fraca acção física acarretará uma translação no espaço, cuja direcção estará submetida à vontade do ser.

O perispírito se nos afigura imponderável, pelo que a acção da gravidade parece inteiramente nula sobre ele; mas, daí não se deverá concluir que, desprendido do corpo, possa o Espírito transportar-se, segundo a sua fantasia, a todas as partes do Universo. Veremos, daqui a pouco, que o espaço é pleno de matérias variadas, em todos os estados de rarefacção, de modo que, para o Espírito, existem certos obstáculos fluídicos de tanta realidade, quanto a que para nós pode ter a matéria tangível.

Nos seres muito evoluídos, o perispírito carece, no espaço, de forma absolutamente fixa; não é rígido, nem está condensado, como o corpo físico, num tipo particular. Regra geral, predomina no corpo fluídico a forma humana, à qual ele naturalmente retorna, quando haja sido deformado pela vontade do Espírito.

Por intermédio do envoltório fluídico é que os Espíritos percebem o mundo exterior; mas, as suas sensações são de outra ordem, diversas das que tinham na Terra. A luz deles não é a nossa; as ondulações do éter, quais as ressentimos, como o calor ou a luz, são por demais grosseiras para os influenciar normalmente. São, do mesmo modo, insensíveis aos sons e aos odores terrestres. Referimo-nos aqui aos Espíritos adiantados. Mas, todas as nossas sensações terrestres têm, para eles, equivalentes mais apurados. Dá-se, a esse respeito, uma como transposição para mais elevado registo da mesma gama. Além disso, eles percebem vibrações em muito maior número do que as que nos chegam diferenciadas pelos sentidos e as sensações determinadas por esses diferentes movimentos vibratórios criam uma série de percepções de ordem diversa das de que temos consciência.

Os Espíritos inferiores, que formam a maioria no espaço que circunda a Terra, podem ser acessíveis às nossas sensações, sobretudo se os seus perispíritos são grosseiros de todo, porém isso se dá de maneira atenuada. A sensação neles não é localizada: experimentam-na em todas as partes do corpo espiritual, enquanto que, nos homens, é experimentada no ponto do corpo onde teve origem.

Estes os dados gerais que se encontram na obra de Allan Kardec, a mais completa e a mais racional que possuímos sobre o Espiritismo. A bem dizer, é mesmo a única que trata, em todas as suas partes, da filosofia espírita e fica-se espantado de ver com que sabedoria e prudência esse iniciador traçou as grandes linhas da evolução espiritual.

A dedução rigorosa é o carácter distintivo desta doutrina. Em vez de forjar seres imaginários para explicar os factos mediúnicoso Espiritismo deixou que o fenómeno se revelasse por si mesmo. Em todas as partes do mundo, há 70 anos, são as almas dos mortos que, vindo confabular connosco, afirmam ter vivido na Terra e dão dessas afirmativas provas que os evocadores verificam mais tarde e reconhecem exactas. Numa palavra, achamo-nos em presença de um facto real, visível, palpável, que coisa alguma poderia infirmar. Não há negações que prevaleçam contra a luminosa evidência da experiência moderna. Não há demónios, nem vampiros, nem lémures, nem elementais ou outros seres fantásticos, imaginados para aterrorizar o vulgo, ou desviar, em proveito de obscuras artimanhas, a atenção dos pesquisadores. É a alma dos mortos que se revela pela mesa, pela escrita directa e pelas materializações.

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Gabriel Delanne, A Alma é Imortal, Terceira parte – O Espiritismo e a ciência Capítulo I O ensino dos Espíritos, 3º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: Pitágoras, pormenor d'A escola de Atenas de Rafael Sanzio (1509)

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